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Era a grande noite e eu estava a morrer de nervosismo. Já tinha ido cantar em público várias vezes mas esta era a primeira vez onde tinha pessoas conhecidas. E o pior era que não era só o Dom, não, era ele, o Bryan, a Devlin, a Deborah e a minha tia. Muita gente, portanto.
Fechei os olhos e respirei fundo. Estava na minha décima respiração e longe de estar calma quando senti uns braços atrás de mim – Amor, tem calma. – olhei para ele com uma cara de sofrimento como se estivesse com dores do período e recebei um beijo na ponta do nariz – A sério. Já cantaste toneladas de vezes para todos nós por isso não é novidade. Não estejas nervosa, vai correr tudo bem.
- Dom, isto é de mais. – voltei a fazer uma cara sofrida na esperança que ele dissesse que me ia levar dali para fora ou que ia embora juntamente com o resto do grupo. Mas sabia que ele não ia fazer isso.
- Não sejas dramática, Reed Johnson. Sabes que eu cantava contigo mas a minha voz é horrível, mais depressa espantávamos os clientes e éramos expulsos daqui. – revirei os olhos mas ri-me porque sabia que era verdade. Ele não cantava assim tão mal mas tinha mais jeito para outras coisas do que para isso. E como sempre, tinha-me feito descontrair um bocado – Assim é que eu gosto. – voltou a beijar-me a ponta do nariz e depois os lábios – Agora respira fundo que é quase a tua vez. Amo-te.
Assenti com a cabeça e fiquei a vê-lo a ir embora. O Dom tinha razão, eu precisava de me acalmar. Afinal de contas eu já tinha cantado ali várias vezes e os meus amigos também já me tinham ouvido a cantar. A única pessoa que nunca me tinha ouvido cantar era a minha tia, aquela que eu só sabia que existia à dois dias atrás. Ainda estava chateada com a minha mãe por me ter escondido uma coisa daquelas. Fazia-me repensar em tudo o que ela já me tinha contado. Como por exemplo, se o meu pai tinha mesmo morrido quando eu era um bebé e se não havia mesmo mais família nenhuma.
Respirei fundo mais uma vez assim que me vieram chamar antes de me dirigir para o palco. Tinha um friozinho na barriga, aquele nervoso miudinho mas estar ali era o que eu queria fazer, aquilo que adorava e aquilo que me fazia feliz por isso todo o receio foi embora assim que peguei no microfone.
Não precisei de qualquer introdução porque já todos me conheciam, tinha começado a cantar naquele bar já à quase um ano, primeiro apenas pelo gozo mas depois tinha começado a ir como chamariz de pessoas e até recebia algum dinheiro por o fazer. Tinha sido ali que tinha sido encontrada pelo dono de uma discográfica.
Assim que acabei as canções que tinha para esta noite sorri ao ver todo o público a bater palmas e o meu sorriso alargou-se ao ver os meus amigos em pé, ao fundo da sala, a bater palmas e aos berros. Pareciam uns malucos mas era maravilhoso aquele apoio. Sabia que podia contar com eles para tudo. O meu olhar desviou-se ligeiramente e vi a minha tia também a bater palmas enquanto sorria.
- As bebidas são por conta da Reed hoje, certo? – perguntou o Bryan assim que me aproximei da mesa onde eles estavam, fingindo que não me tinha visto ali – Ah estás aqui. – o sorriso provocador dele era contagiante – A nossa cantora vai pagar uma rodada a todos ou não?
- Só queres beber às custas da minha namorada. – o Dom sorriu-me depois de responder ao primo. Sabia que ele tinha ficado um bocadinho magoado por eu nunca o ter deixado vir-me ver cantar e que agora estava muito feliz por eu finalmente o ter feito.
- Tudo bem. – disse eu enquanto me esticava para a minha mala que a Deborah me estava a estender – Eu pago a primeira ronda. Mas a segunda devia ser a Devlin, afinal ela é que nunca pagou bebidas a ninguém.
Ela riu-se enquanto levantava os braços – Já vi que isto é uma mesa de alcoólicos. – brincou ela com um sorriso nos lábios – Mas é justo. Sou a próxima a pagar.
Afastei-me deles com um sorriso e aproximei-me do bar para pedir shots para nós os cinco. Tentei procurar a minha tia enquanto esperava que fosse servida e estava tão distraída que nem reparei quando ela apareceu ao meu lado.
- Obrigada por me teres convidado a vir ver-te. És mesmo uma cantora maravilhosa.
Sorri-lhe. O orgulho estava estampado nos olhos de Jennifer e isso era muito importante para mim. Eu adorava a minha mãe mas ela não compreendia. Compreendia que eu gostasse de cantar e que o fizesse nos tempos livres mas não compreendia que eu quisesse viver a fazer isso.
- Não sei a quem é que saio. – encolhi os ombros com um pequeno sorriso nos lábios – A minha mãe é péssima a cantar.
Os olhos de Jennifer foram parar momentaneamente ao chão antes de me voltar a olhar – É ao teu pai. Ele era um ótimo cantor apesar de apenas o fazer nos tempos livres.
Juntei as sobrancelhas e engoli em seco. Nunca tinha pensado nisso – Conheceste o meu pai? – aquela não era conversa para ter ali e na mesa já estavam todos a chamar por mim e a bater no tampo – Dá-me um minuto. – agarrei nos copos de shot com cuidado para não os entornar e voltei para a mesa. Depois de bebermos todos, disse-lhes que tinha que falar com uma pessoa e eles continuaram a conversar enquanto me afastava novamente até ao balcão.
- Sim, Reed. Conheci o teu pai. – respondeu ela assim que os nossos olhos se voltaram a encontrar.
Abri a boca para fazer outra pergunta mas fui interrompida. A minha mãe apareceu ali, metendo-se logo à minha frente, ignorando a irmã por completo – Reed, o que é isto? – perguntou ela com um ar completamente zangado – Tive que descobrir que vieste para aqui por um panfleto. – agarrei no papel que ela me estendia, aquele que eu tinha dado à minha tia – E com ela? Reed, eu já falei contigo sobre isto.
Sabia que este não era o sítio para fazer um escândalo por isso tentei controlar-me mas não foi muito fácil – Ela é a tua irmã, mãe. E tu tens agido como uma louca desde que ela veio para cá. Além do mais, mentiste-me durante todo este tempo. Disseste que não havia mais ninguém, que éramos só nós as duas. E nunca me disseste que o meu pai também gostava de cantar.
- Ela não sabia disso. – ouviu-se a voz da minha tia atrás da minha mãe.
- Está calada, Jennifer. – a minha mãe voltou a olhar para mim – Reed, tu sabes que eu te adoro e que te quero proteger. Eu percebo que gostes de cantar mas como é que vais fazer depois? Cantar não te vai fazer arranjar dinheiro para comida eternamente.
As pessoas à nossa volta estavam demasiado distraídas com tudo para reparar naquela discussão mas a mesa onde se encontravam os meus amigos não. Eles estavam todos a olhar para nós, sem se intrometerem mas à espera do momento em que iam acalmar os ânimos caso fosse preciso fazê-lo.
- É o que eu gosto de fazer, é o que eu quero fazer. – disse-lhe muito seriamente – E a Jennifer é minha tia, uma tia que eu nunca conheci e que nem sequer sabia que existia. Qual é o mal de querer passar tempo com ela e conhecê-la melhor?
- O problema é que não te quero perto dela! – gritou a minha mãe – Ela é uma má influência e vai-se embora. – por momentos fui esquecida enquanto a minha mãe olhava para a irmã – Vais fazer as malas e vais sair lá de casa.
- Mãe, pára. – dei a volta e meti-me entre elas as duas, em frente à minha tia – Ela não vai a lado nenhum. É a nossa família e vai ficar connosco.
- A tua família sou eu! – gritou novamente a minha mãe mas por cima de todo aquele barulho, parecia que estava a falar novamente – Eu sou a tua família, não ela. Jennifer, nem penses! – a minha mãe olhava para a irmã como se a estivesse prestes a esganar.
- Cheryl, já chega. Ela tem de saber a verdade. – juntei as sobrancelhas e virei-me de frente para a minha tia que respirou fundo antes de falar novamente – Reed, eu conheci o teu pai e sabia que ele adorava cantar porque ele era o meu marido. – não estava a perceber nada do que se estava ali a passar. Queria falar mas não sabia o que dizer – Eu fui presa quando estava grávida e depois de ter o bebé continuei presa mas o teu pai ficou contigo até morrer. Ele era novo e saudável mas teve um ataque cardíaco. A minha irmã está contigo desde que tens um ano mas Reed, eu sou a tua mãe.
As minhas pernas pareciam gelatina. Sentia-me a cair, ouvia os berros da minha mãe atrás de mim e a expressão preocupada da minha tia… mãe… à minha frente. Estava prestes a cair de rabo no chão quando senti os braços do Dom à minha volta e todos os meus amigos bastante próximos. Nada daquilo fazia sentido. Toda a minha vida era uma mentira. Uma autêntica mentira. Agarrei-me melhor ao Dom e olhei para as duas mulheres à minha frente. Uma que eu devia conhecer bem mas que parecia uma estranha depois de tantas mentiras e aquela que eu não conhecia e que me tinha dado à luz – Não esperem por mim em casa. – disse apenas antes de me ir embora juntamente com eles os quatro.
Portanto... para quem já estava à espera disto... Sasha ahah não foi propriamente uma novidade mas para quem não estava e muito sinceramente acho que era a maioria, SURPRESA! Portanto, sim, a tia da Reed era muito suspeita porque bem, ela não é tia da Reed mas sim a sua mãe à muito desaparecida.
O próximo capítulo é da Devlin por isso vou afastar-me um bocado deste drama mas mesmo assim, sugestões para o que ai vem? Principalmente depois daquele banho conjunto no ginásio..?
Beijinhos e obrigada por tudo!