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por Joanna, em 03.10.15

 

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Semicerrei os olhos em direção às duas folhas de papel que o Enzo tinha na mão antes de lhas tirar. Numa delas a letra da Lola informava que tinha ido sair com o Diego e que não sabia quando voltava, estando esta última parte sublinhada com bastante força, o que me parecia ser a informação importante que ela queria transmitir aos irmãos. Na outra folha de papel estava rabiscado com uma letra masculina e confusa que o Santiago ia sair com a Megan e não sabia quando ou se voltavam naquela noite. Fiz automaticamente uma careta enojada quando percebi que isso poderia querer dizer que iam para o nosso dormitório e a última coisa que precisava naquele momento era imaginá-los a fazer sexo na cama ao lado da minha. Mas desde que não fosse na minha já ficava ligeiramente mais satisfeita.

- Então e agora? – perguntei depois de pousar as folhas na mesa da cozinha.

- Agora vamos jantar. – respondeu o Enzo enquanto me sorria quase de orelha a orelha; sabia perfeitamente que ele estava a adorar aquilo – Anda daí, princesa.

- Porque raio é que me chamas princesa? – não tinha outro remédio para além de o seguir e portanto foi exatamente isso que fiz. Depois de agarrar no casaco, telemóvel e chaves de casa o Enzo abriu a porta da rua e deu-me passagem.

- Porque o nome te fica bem. – olhei-o de sobrancelhas juntas à espera de uma resposta mais elucidativa mas sabia que ele não ia dizer mais nada por isso limitei-me a revirar os olhos – Anda lá, estou cheio de fome.

Assim que coloquei os pés fora de casa dos Suarez, abracei-me a mim própria um pouco por causa do frio que se tinha posto agora que o sol já não se encontrava no céu mas também pela visão daquela rua. Aquele espaço parecia agora muito mais assustador do que anteriormente e nunca na minha vida andaria ali sozinha de dia quanto mais àquelas horas. Apesar de alguns dos candeeiros iluminarem as ruas, nem todos funcionavam o que fazia com que existissem vários espaços muito mal iluminados, havia agora ainda mais gente ali e para uma pessoa como eu que sempre foi muito protegida do mundo real, aquilo fazia lembrar um filme de terror.

O Enzo deve ter reparado na minha expressão porque sorriu antes de agarrar na minha mão e me puxar – Ninguém te vai fazer mal não te preocupes. – e apesar de continuar a não confiar muito no Enzo sabia que aquilo era verdade; com ele ninguém me ia fazer mal.

Segui ao lado dele sendo que a maior parte do caminho foi feita em silêncio apenas com alguns comentários quer de um quer do outro para aquilo não se tornar demasiado constrangedor. Passámos por várias pessoas que cumprimentaram o Enzo e me lançaram um olhar avaliador antes de seguirem os seus caminhos.

Quando finalmente chegámos ao restaurante suspirei de alívio. O restaurante não ficava no centro de Madrid mas também não ficava no bairro do Enzo e por isso o ambiente era ligeiramente diferente. Caminhei até uma mesa vazia e olhei para a ementa da pizzaria.

- Que tal? – perguntou o Enzo quando se sentou à minha frente – Não é um restaurante de luxo mas tenho a certeza que vais adorar estas pizzas.

Levantei o olhar da ementa para o Enzo – Restaurante de luxo? – repeti e abanei a cabeça – Vou perguntar apesar de não ter a certeza de querer continuar esta conversa, mas quem é que te contou que eu fui a um restaurante de luxo? Com o Martin. – acrescentei apesar de saber que era disso mesmo que ele estava a falar.

O Enzo recostou-se para trás apoiando as costas na cabine atrás dele, esticando de seguida as pernas para a frente o que me deixava com as minhas pernas no meio das deles e se abrisse um bocadinho que fosse as pernas tocava nas dele. Aquele sorriso provocador voltou a reaparecer enquanto ele encolhia os ombros.

- Não é muito difícil concluir que ele te ia levar ao restaurante dos pais, o Martin não tem muita imaginação.

- Afinal o que é que tens contra ele? Que ele não goste de ti até se percebe, és uma pessoa difícil de gostar à primeira.

- Isso quer dizer que já gostas de mim? – perguntou ele distorcendo completamente as minhas palavras – O Martin não é assim tão bom rapaz como tu pensas. Lá porque tem dinheiro sem precisar de fazer seja o que for ao contrário de mim, ele está longe de ser um santo. – olhei-o fixamente à espera que me fosse dado um motivo para acreditar naquilo – Se confias assim tanto nele pergunta-lhe sobre a Julia. – abri a boca para falar mas ele interrompeu-me logo – Já sabes o que vais comer?

Revirei os olhos e voltei a olhar para a lista – Tanto faz, posso comer o mesmo que tu. Vou à casa de banho por isso pede uma coca-cola para mim, se faz favor. – pedi antes de me levantar.

Parei em frente ao espelho daquele pequeno espaço e abanei a cabeça. Eu confiava no Martin, mesmo que ainda não o conhecesse a cem porcento sabia que ele era uma boa pessoa mas ao mesmo tempo eu também já me tinha enganado uma vez; aqueles olhos azuis, aquele cabelo loiro e as palavras simpáticas tinham-me enganado e feito acreditar em algo que não era verdade.

Julia. O nome martelava na minha cabeça porque eu agora queria, não, precisava de saber o que se tinha passado. Não me queria enganar outra vez, as coisas tinham corrido tão mal da última vez que não conseguia passar novamente por algo parecido. Mas sabia também que o Enzo fazia aquilo para me provocar e para me manter longe do Martin e perto dele. Só que se fosse uma invenção do Enzo, ele não pareceria tão confiante certo?

Agarrei-me ao lavatório com força e respirei fundo de forma a tentar afastar todos aqueles pensamentos. Assim que me consegui finalmente recompor saí da casa de banho e fiz o caminho de volta até à nossa mesa.

- Estás bem? – perguntou o Enzo parecendo seriamente preocupado – Já pedi a nossa comida.

- Estou. – respondi simplesmente – Aceitei sermos amigos e passarmos tempo juntos mas não sei quase nada sobre ti, como é que sei que tu também não tens uma Julia no teu passado?

O Enzo riu divertido antes de se colocar direito no seu lugar e apoiar os cotovelos na mesa, o que fez com que ficássemos com as nossas caras bastante próximas uma da outra.

- Muito bem, tens razão. Nunca gostei do nome Lorenzo e por isso é que desde os seis anos que toda a gente me chama Enzo. Fiz vinte e um anos a cinco de Janeiro. Nasci aqui em Espanha mas o nosso pai era italiano por isso sou um meio italiano, daí o nome. Vivemos todos só com a minha mãe porque o meu pai foi-se embora quando ela ficou grávida da Lola e é por isso mesmo que eu e o meu irmão fazemos tudo o que for preciso para que ela tenha menos trabalho mas haja dinheiro para pagar todas as contas. A única vez que tive uma namorada, as coisas correram muito mal e foi quando decidi que me ia deixar disso e ia apenas aproveitar o facto de as mulheres me adorarem. – revirei os olhos ao seu sorriso galante – Sou egoísta, problemático e muito difícil mas até acho que sou uma boa pessoa. É a tua vez princesa.

Fiquei alguns segundos em silêncio a assimilar tudo o que tinha sido dito. Naqueles minutos tinha ficado a conhecer mais o Enzo do que em todo o tempo que tínhamos estado juntos anteriormente e apesar de ainda sentir um odiozinho de estimação por ele por me ter roubado o telemóvel e se ter imposto na minha vida de certo modo consegui relacionar-me com ele em alguns aspetos e isso fez com que eu percebesse que a partir de agora podia continuar a embirrar com ele e a odiá-lo muito ligeiramente mas que as coisas iam ser diferentes num ponto geral.

- Sempre achei piada ao facto do meu nome ter tanto a ver com o universo, [Sky – céu; Mars – planeta Marte] a minha mãe sempre adorou esse tipo de coisas, nomes com significado e que se relacionassem. Fiz vinte anos a quinze de Fevereiro e como a minha mãe era espanhola isso quer dizer que sou metade americana e metade espanhola. – tentei seguir a ordem que o Enzo tinha usado – A minha mãe morreu quando eu era muito nova e um tempo depois o meu pai conheceu e apaixonou-se pela minha madrasta. Tenho uma irmã, a Taylor, que é a criança mais adorável do mundo. A única vez que tive um namorado a sério as coisas também não correram propriamente bem mas não foi por isso que me decidi tornar uma prostituta. – lancei-lhe um olhar e um sorriso provocador, recebendo automaticamente o mesmo sorriso em resposta – Queria vir para Espanha desde que me lembro e agora que finalmente consegui acho que as coisas podem correr um bocado melhor do que antes. Ah, ainda não sei a cem porcento o que quero fazer a nível profissional mas sei que quero continuar a seguir o meu gosto pela dança.

Acabei com um sorriso; apesar de me dar muito melhor com o Martin nunca tinha tido aquele tipo de conversa com ele. Tinha-me aberto mais com o Enzo do que com o rapaz em quem estava romanticamente interessada, como as coisas mudavam.

- Aqui têm o vosso pedido. – disse um homem com uma certa idade e um bigode bastante engraçado enquanto pousava a pizza entre nós e de seguida as nossas coca-colas – Bom apetite. Tens de vir cá mais vezes Enzo, há muito tempo que não te via cá com uma companhia tão bonita. – acrescentou com um sorriso antes de desaparecer.

- Já vi que te esqueceste de dizer que costumas trazer as tuas conquistas para aqui. – dei um gole na minha bebida e agradeci quando o Enzo colocou uma fatia no meu prato.

- Não ouviste? Há muito tempo que não vinha cá com uma companhia bonita, quer dizer que não estou cá sempre nem estou com qualquer uma. Além do mais, tu não és uma conquista, és minha amiga.

Senti uma sensação estranha no peito e fiquei sem saber se era por mais uma vez o Enzo parecer sincero e não um parvalhão com o que tinha dito ou se era pela forma como ele disse que eu era amiga dele. Amiga, amiga. Revirei os olhos para mim própria e agarrei nos talheres, chateada com aqueles pensamentos. Eu queria o Enzo longe de mim num sentido romântico, queria o Martin perto de mim nesse sentido e agora parecia chateada por ele me ter considerado amiga dele.

Fomos falando sobre a universidade e coisas sem grande interesse enquanto o jantar decorria até acabarmos ambos de comer. Fiz um esforço descomunal para que a conta fosse dividida mas o Enzo não me deixou pagar um único cêntimo.

- Não faz qualquer sentido eu não pagar parte do jantar. – já estávamos de volta a casa dele e eu continuava com a mesma discussão – Eu tenho de pagar metade.

- Pára de ser chata, pagas o nosso próximo jantar. – disse ele com um sorriso – Bem, - olhei para as horas quando ele fez o mesmo. Já eram perto das onze da noite e parecia que ninguém voltava para aquela casa à excepção de nós – parece que estamos sozinhos.

- Tenho de voltar para a universidade. – mordi o lábio inferior antes de continuar – Podes levar-me lá?

- Hmm. – o Enzo fez um ar pensativo – Não, não posso conduzir, estive a beber.

Revirei os olhos – Coca-cola. A última vez que vi essa era uma bebida sem álcool. – ele encolheu os ombros enquanto sorria – Tudo bem, eu vou sozinha. – agarrei nas minhas coisas e abri a porta de casa dos Suarez saindo de seguida. Mordi o lábio inferior com força enquanto olhava em volta para aquela rua agora aparentemente deserta mas cheia de sombras e cantos onde alguém podia estar à minha espera pronto para me roubar, violar e quem sabe matar.

- Oh olá Sky. – disse o Enzo com um sorriso assim que me abriu a porta depois de eu bater várias vezes na mesma – Entra. Não estava nada à espera de te ver aqui.

- E agora? – perguntei pousando novamente as minhas coisas no chão – Não penses que isto quer dizer que vou dormir contigo.

- Claro que não. – dei-lhe um soco no braço quando ele sorriu novamente – Anda lá, eu empresto-te uma camisola para vestires e podes dormir na minha cama. – abri a boca para lhe dizer que aquilo não ia acontecer; podia sentir-me mais próxima do Enzo mas isso não significava que ia partilhar a cama com ele – Eu vou para a do Santiago. – assenti concordando com aquela ideia – A não ser que precises de alguém a quem te agarrares. – revirei os olhos e dei-lhe outro soco desta vez com mais força.

 

 Já estavam com saudades deles e aqui estão eles. Espero que gostem tanto de ler o capítulo como eu gostei de o escrever.

O próximo vai ser outra OS mas depois disso vão haver muitos mais momentos entre o Enzo e a Sky por isso não se preocupem!

Muito obrigada a quem ainda continua a acompanhar a história e até sábado!

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publicado às 14:46