Saltar para: Post [1], Comentários [2], Pesquisa e Arquivos [3]
Mordi o lábio inferior assim que vi a porta fechar depois do Bryan sair. Tinha estado ali a ouvir o final da conversa mas não o tinha feito propositadamente ou no sentido de ser cusca, nada disso. Apenas tinha chegado naquela altura e estava à espera do momento oportuno para dizer que estava ali mas tinha acontecido tudo demasiado depressa.
A Deborah estava apaixonada pelo Bryan? E não era de agora? Como é que eu nunca tinha reparado nisso? Sim, eles eram bastante próximos mas eram melhores amigos, caramba, nunca tinha visto qualquer diferença. Se calhar tinha andando demasiado ocupada com os meus problemas e com as minhas coisas para me preocupar realmente com o resto das pessoas, as minhas amigas, e isso estava a fazer-me sentir culpada neste momento.
- Desculpa, Deb, juro que não queria ouvir a conversa, eu estava a entrar na sala mas vocês não paravam de falar e eu não queria interromper. – expliquei enquanto caminhava até ao sofá onde ela ainda se encontrava sentada.
- Não faz mal. O pior era o Bryan saber e ele já sabe, por isso. – senti pena por ela naquele momento. O Bryan… era o Bryan, aquele que não se interessava por uma rapariga por mais do que um dia mas com a Deborah era diferente, a amizade deles era algo que eu achava bastante bonito e aquilo que ele lhe tinha dito, ele nunca o diria a qualquer outra rapariga. Ela podia estar triste por os seus sentimentos não serem correspondidos mas podia dar-se por feliz por o ter como melhor amigo porque nisso ele era mesmo bom – É melhor ir para casa, a Devlin foi não sei onde, acho que ela não está muito bem. Ficas bem? – quando assenti com a cabeça e lhe sorri, ela levantou-se do sofá e beijou-me a bochecha – Até amanhã, Reed.
Passei o resto da tarde por ali sem saber o que fazer e por isso limitei-me a sentar-me no sofá e ver os vários programas de televisão que iam passando. Tinha que falar com o Dom sobre o que se estava a passar comigo e bem… connosco e precisávamos de repensar a nossa vida e ver o que íamos fazer. Ia correr bem. Ia correr bem.
Acabei por adormecer e só acordei quando senti alguém a pegar em mim ao colo. Encostei o nariz à camisola e sorri ao sentir o cheiro do Dom. Deixei-me estar bastante sossegadinha enquanto ele me levava para o quarto e me pousava na cama.
- Oh, desculpa, não te queria acordar. – pediu ele com um pequeno sorriso nos lábios e deitou-se ao meu lado – Como é que foi o teu dia?
Precisava de lhe contar e sabia que quanto mais tempo demorasse pior era. Tinha que ser como arrancar um penso de uma ferida, rápido. Demorar só ia fazer com que a dor permanecesse e se tornasse mais forte.
- Dom, tenho que te contar uma coisa. – o sorriso dele desapareceu assim que eu proferi esta frase e as sobrancelhas loiras juntaram-se – Eu descobri que estou grávida. – pronto, já estava, como um penso rápido – Eu sei que devia ter dito assim que descobri mas fiquei nervosa e precisava de pensar.
- Tu… - as sobrancelhas dele continuavam juntas enquanto o olhar baixava em direção à minha barriga, com uma expressão totalmente incrédula – Mas… - sim, mas. Mas nós usávamos sempre preservativo e eu tomava a pílula, excepto numa altura em que tinha andando a tomar antibiótico, certamente nessa altura – O que é que vamos fazer agora?
- Nós temos empregos e a minha família pode ajudar-nos, tenho a certeza que a tua também o vai fazer. Isto só corre mal se nós quisermos que corra. Dom, nós sempre falámos em ser pais, eu sei que falámos em mais tarde mas…
- Reed, nós somos muito novos. – disse ele levantando-se da cama – E o que eu ganho e o que tu ganhas não dá para alimentar e tomar conta de um bebé. Eu amo-te e claro que amo um filho nosso mas isto… não sei se consigo fazer isto, Reed. Não sei ser pai e sei que ainda não tenho capacidades quer psicológicas quer monetárias para o fazer.
Eu percebia o lado dele e sabia que assim que lhe contasse ele não ia dar pulos de alegria e comprar já balões a dizer que íamos ter um bebé mas mesmo assim a sua reação foi bem pior do que aquela que eu estava à espera.
Levantei-me da cama também e depois de abrir o roupeiro, agarrei no meu saco desportivo, começando a encher o mesmo com as minhas coisas – Reed… - ouvi atrás de mim – Por favor, vamos falar melhor sobre isto. Reed, pára.
Corri o fecho assim que tinha tudo o que era meu guardado e olhei para ele novamente – Eu percebo, Dom, a sério que sim mas não consigo ficar aqui enquanto tu me olhas como se eu fosse um fardo. Eu vou arranjar maneira de viver com o nosso filho nem que tenha que desistir do meu sonho e arranjar dois empregos, tu precisas de tempo para pensar, eu percebo e respeito isso.
Coloquei o saco de desporto por cima do meu ombro e caminhei até à porta do quarto, parando assim que ele se colocou à minha frente e me impediu de avançar. Esperei por alguma coisa, por um pedido para eu ficar, por um eu sei que é difícil mas vou fazer tudo por ti e pelo nosso filho, mas nada disso veio, apenas o silêncio. Olhei uma última vez para ele e precisei de toda a força do mundo para impedir as lágrimas de escorrer pelas minhas bochechas.
Assim que sai pela porta da rua e ia descendo as escadas, senti as lágrimas a seguirem pelas minhas bochechas e apesar de não estar a soluçar, sabia que estava bastante perto de o fazer. Quando cheguei à oficina tentei passar para a saída o mais depressa possível mas não resultou.
- Reed? Que se passa? – ouvi uma voz atrás de mim mas não me virei para ver o Bryan, não conseguia – Reed, onde vais? – limitei-me a continuar a andar dali para fora – Reed!
Ajeitei o saco desportivo que parecia mais pesado do que era na realidade e continuei a caminhar, afastando-me o mais rápido que conseguia da oficina. A minha casa ainda ficava longe mas não queria falar com ninguém, nem a pedir boleia para a mesma, queria ficar sozinha, queria apenas isso.
Quase quarenta e cinco minutos depois, cheguei finalmente à vivenda onde tinha passado toda a minha vida, excepto neste período em que tinha estado a viver com o meu namorado. Ex-namorado…
Assim que fechei a pesada porta de madeira atrás de mim, deixei o saco desportivo no chão do hall de entrada e caminhei até à sala onde estava a minha mãe e a minha tia, ou a minha mãe e a minha mãe, o que quer que fosse. Jennifer, a minha mãe biológica estava sentada no sofá a ler uma revista e Cheryl, a minha tia mas minha mãe adoptiva estava a passar os canais da televisão. As duas pararam o que estavam a fazer assim que me viram.
Não precisei de dizer nada porque tinha a certeza que a minha expressão mostrava tudo menos felicidade. Corri até ao sofá e sentei-me no meio das duas, abraçando-as com toda a força de seguida e sentindo-as a retribuir o abraço, era tudo o que eu precisava neste momento.
- O que é que aconteceu? – Cheryl perguntou enquanto passava os dedos pelos meus cabelos com a sua preocupação bastante visível, ela sempre se tinha preocupado demasiado comigo mas neste momento não me importava, sabia bem.
- Contei ao Dom. – disse apenas. Quando tinha vindo a casa fazer uma pequena visita, tinha-lhe contado da gravidez e apesar de ela não ter aprovado por eu ainda ser demasiado nova, tal como a Jennifer, tinha-se comprometido a ajudar em tudo o que fosse necessário e a amar esse bebé como se fosse seu – Nós… - não sabia o que dizer mais porque sinceramente nem sabia bem o que se tinha passado naquele quarto, apenas que não tinha tido o apoio dele que eu queria, apesar de perceber que ele estivesse confuso e sem saber o que fazer.
- Está tudo bem. – disse ela puxando-me mais para si enquanto a Jennifer se levantava e caminhava até à cozinha, de certeza para fazer um chá ou algo do género. Ainda mal tinha passado uma hora desde que me tinha afastado do Dom e sentia uma dor demasiado forte no peito assim como uma revolta na barriga. Sabia que desta vez o assunto era sério e sabia que apesar de nos amarmos bastante, isso podia não chegar neste momento.
- Toma, bebe. – Jennifer estendeu-me uma caneca de chá assim que voltou para a sala e sentou-se novamente ao meu lado no sofá. Beberiquei a bebida mas mesmo assim aquela sensação horrível não passava – Reed… - afastei a caneca da boca ao ouvi-la – Querida, não te quero preocupar mas temos de ir ao hospital.
A Cheryl agarrou na caneca do chá mesmo antes de eu ter oportunidade de dizer fosse o que fosse e olhei para elas sem perceber, até notar o olhar delas fixo no sofá, na zona exata onde eu estava sentada e foi ai que vi. A mancha de sangue cobria o local onde eu me encontrava, sujando o sofá creme.
Levantei-me com a ajuda delas, agarrando-me à Jennifer enquanto a Cheryl se dirigia para o hall para agarrar nas chaves no carro e ir ligando o mesmo.
A sensação de que as coisas estavam mal eram agora ainda piores. Não podia perder o Dom e o meu filho no mesmo dia. Era de mais para mim, simplesmente não conseguia aguentar se isso acontecesse.
Eu sei que toda a gente adorava o Dom e estavam super ansiosas por saber a reação (adorável) dele mas vamos ser sinceras... eles são "putos", a Reed canta num bar e portanto não tem um ordenado fixo, o Dom tem uma oficina mas não é um emprego a sério e por isso é claro que ela teria imensas dúvidas, o que não quer dizer que ele não a ame ou que não queira ter filhos com ela, porque isso é mentira.
Quanto ao final... claro que tinha de haver mais drama né? O que é que acham que vai acontecer? O bebé morre mesmo ou será que não?
Apesar do capítulo ser super sad, espero que gostem. Beijinhos e obrigada por todos os vossos comentários!