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Treinta y dos

por Joanna, em 06.02.16

Os meus ouvidos zumbiam enquanto o meu coração batia descompassadamente no meu peito. Atirei-me contra a porta de casa tentando impedir a entrada do Theo na mesma mas não fui rápida o suficiente nem tinha força suficiente para contrariar o empurrão que ele fazia do outro lado.

O meu corpo foi empurrado para trás assim que a porta se abriu e só tive tempo para correr em direção à sala onde sabia que tinha algumas, mas poucas, probabilidades de conseguir chegar ao sofá onde se encontrava o meu telemóvel. Não consegui chegar ao meu destino antes de sentir os braços do Theo à minha volta e estar completamente colada ao seu corpo.

- Já devias saber que eu vinha à tua procura. – murmurou ele contra os meus cabelos – Porque é que não esperaste por mim? – encolhi-me contra o seu aperto e mordi o meu lábio inferior com força para tentar conter as lágrimas – Aquele Enzo… - murmurou ele irritado ao mesmo tempo que fazia mais força no meu braço.

Abanei a cabeça com força e endireitei-me de forma a conseguir olhá-lo nos olhos – Estava à tua espera. – murmurei com um pequeno sorriso – Fiquei com medo que não viesses e por isso é que me aproximei dele mas devia saber que tu não ias desistir de mim. – o meu coração continuava a martelar contra o meu peito mas tentei acalmar os meus pensamentos assim que o aperto do Theo afrouxou ligeiramente – Sabes que só te amo a ti.

- Tive tantas saudades tuas. – fechei os olhos com força assim que os braços do Theo voltaram a rodear a minha cintura, puxando-me completamente para si para depois passar as mãos por todo o meu corpo – Tantas saudades…

Os lábios do Theo estavam agora no meu pescoço enquanto as suas mãos passavam por dentro da minha camisola; o zumbido tinha voltado a instalar-se nos meus ouvidos enquanto eu tentava focar os meus pensamentos e foi nesse momento que vi a jarra azul pousada no móvel bastante perto de mim.

O Theo continuava demasiado focado no meu corpo para se dar conta que um dos meus braços já não estava à volta dele e foi graças a isso que consegui chegar à jarra e atirar a mesma contra a cabeça dele. As suas sobrancelhas juntaram-se numa expressão confusa antes de ele cair no chão ao lado de todos os cacos de vidro e a única coisa que tive tempo foi de agarrar no meu telemóvel, marcar o código de segurança por duas vezes já que os meus dedos tremiam como varas verdes, e ir até aos contactos para ligar à Meg. Estava prestes a carregar na tecla verde quando gritei de dor ao sentir os meus cabelos serem puxados para trás.

- Sua cabra mentirosa! Fiz tudo por ti! Só te amei a ti e tu fazes-me isto?! Vais ser minha de uma maneira ou de outra!

Foram as últimas palavras que ouvi antes de ficar tudo preto.

**

A primeira coisa que senti foi uma dor horrível no pescoço e a segunda foi que tinha os pulsos presos atrás das minhas costas. Abri os olhos lentamente e tive de os piscar algumas vezes até conseguir focar a visão. Ainda estava na casa que tinha pertencido aos meus pais o que queria dizer que não podia ter estado inconsciente durante muito tempo, caso contrário o Theo já me tinha levado para outro sítio qualquer. Por falar em Theo, não o via em lado nenhum mas conseguia ouvir a voz dele a assobiar uma canção qualquer ao longe. Cozinha, parecia vinda da cozinha.

Tentei soltar os pulsos mas a única coisa que conseguia era que a corda fizesse mais força na minha pele e me magoasse ainda mais por isso desisti e em vez disso tentei procurar alguma coisa que desse para cortar a corda. Com os pedaços de vidro da jarra que estavam a uns metros de mim. Se conseguisse puxar para mim um com as pernas…

O meu olhar parou na entrada da sala quando o vi. Senti-me inundar por uma onda de alívio por o Enzo estar ali mas ao mesmo tempo comecei a sentir a preocupação do que aconteceria caso o resto do grupo também estivesse a chegar e o que é que o Theo poderia fazer.

- Onde é que estão os outros? Eles não podem-

- Os outros estão bem. – foi a resposta do Enzo enquanto me soltava as mãos – Ainda estão no supermercado.

Levantei-me e olhei para ele, mantendo o meu tom de voz tão baixo quando possível – Temos de sair daqui, temos de chamar a polícia, ele está aqui. – murmurei agarrando na mão do Enzo para o puxar dali para fora mas em vez de vir comigo, ele não se mexeu e ainda a agarrar na minha mãe com força, também não me deixou sair dali – O que é que estás a fazer? – perguntei quando senti o pânico voltar a instalar-se em todas as células do meu corpo.

- Não vamos sair daqui. – foi a única coisa que disse antes de me apontar uma arma.

- O que é que estás a fazer? – repeti a pergunta agora totalmente assolada pelo pânico – Enzo? – as lágrimas desciam-me pelas bochechas sem que eu as conseguisse controlar – Estás com ele? Estiveste este tempo todo com ele? – assim que coloquei os meus medos em voz alta senti um aperto no peito, como se alguém me estivesse a arrancar o coração. Tinha confiado no Enzo, estava apaixonada por ele e tinha sido tudo uma enorme mentira – Vais matar-me? – atirei-me contra o peito dele e comecei a socar o mesmo – Ou vais ajuda-lo a levar-me para outra cave? Confiei em ti! – neste momento já não estava a sussurrar, estava bastante próxima dos gritos e apesar do Theo estar noutra divisão, não quis saber; eles estavam juntos, tinham estado sempre juntos.

- Sky cala-te!

- Sky?

O Theo apareceu na sala novamente e enquanto eu tentava procurar por possíveis locais de fuga apesar de saber que nunca conseguia fugir aos dois, descontrolou-se tudo. Em vez de se juntarem para me prender novamente ou algo do género, o Theo lançou-se contra o Enzo que conseguiu aparar o golpe de forma a não se magoar mas ainda assim perdeu o equilíbrio e caiu para trás, fazendo com que a arma fosse atirada para longe. Fiquei alguns segundos a olhar para aquele emaranhado de corpos, com os meus pensamentos também demasiado emaranhados para eu conseguir perceber o que se estava a passar ou o que fazer.

Quando consegui finalmente pensar em alguma coisa, corri até ao sofá para agarrar no meu telemóvel e fugir dali para fora o mais depressa possível. O Theo, graças ao facto de se encontrar em cima do Enzo, viu-me e por isso começou a caminhar na minha direção quando o Enzo lhe agarrou na perna e o fez cair novamente no chão.

O Enzo estava agora em cima do Theo a dar golpes atrás de golpes e só quando levantou o olhar na minha direção é que consegui ver que também ele estava com o rosto todo ensanguentado.

- Sky saí daqui!

E era mesmo isso que eu ia fazer quando fui parada à entrada de casa pelo Santiago. Encolhi-me ao ir contra ele e pela primeira vez desde que o conhecia, senti medo dele assim que as suas mãos se prenderam com força nos meus braços.

- Onde é que está o Enzo? – não conseguia dizer nada; abri a boca para falar mas não conseguia dizer nada e o aperto do Santiago apenas se tornou mais forte – Saí daqui. – fui empurrada para o lado para depois ver o Santiago a afastar-se de mim em direção à sala.

Estava a sair apressadamente de casa com o telemóvel na mão para marcar o número do meu pai quando o ouvi. A rua encontrava-se em total silêncio e apesar de parecer que os meus pensamentos gritavam dentro do meu crânio, o barulho do tiro abafou por completo qualquer som.

Estaquei imediatamente, sentindo as pernas demasiado fracas para me mexer ou até mesmo para aguentar em pé e foi por isso que me tive de agarrar à soleira da porta. Depois do que pareceu uma eternidade, consegui manter-me novamente em pé e com o telemóvel esquecido no chão do alpendre, voltei para dentro de casa, caminhando lenta e nervosamente até à sala.

A primeira coisa que vi foi o chão coberto de sangue. Aos poucos o meu olhar foi-se aproximando do local de origem de todo aquele vermelho e senti novamente a força das pernas a falhar ao ver o corpo imóvel no chão da sala.

- Porque é que fizeste isso?

- A culpa foi toda minha, não tens de levar com os meus pecados.

- Deixa-te de merdas! Estamos lixados, estamos todos lixados!

Cai de joelhos no chão, já sei aguentar todo o peso do meu corpo e assim que a minha pele entrou em contacto com todo aquele sangue quente, encolhi-me contra a parede. O Theo estava morto. O Theo já não me podia magoar. Mas ainda assim não me sentia minimamente aliviada.

- Sky? – levantei o olhar para a cara do Enzo quando ele se aproximou de mim e desviei por segundos o olhar para o Santiago que continuava no mesmo sítio, com a arma na mão. Voltei a minha atenção para o Enzo sem perceber nada do que se tinha passado e ainda demasiado em choque para qualquer reação – Está tudo bem. Ele já não te pode fazer mal.

- O que é que vocês fizeram? – murmurei tão baixo que nem tinha a certeza se ele tinha ouvido.

Saltei ao ouvir aquele baque surdo no chão – Acabámos de te salvar a vida, de nada. – ironizou o Santiago enquanto passava as mãos pelos cabelos – Qual é o plano agora?

- Tu ias matá-lo? – voltei a olhar para o Enzo e assim que ele esticou a mão na minha direção, encolhi-me ainda mais contra a parede – O plano sempre foi matá-lo? Tu sabias que ele estava aqui? Tu sabias que ele vinha atrás de mim. Oh meu deus, Enzo. Temos de chamar a polícia.

- Não vamos chamar polícia nenhuma, eu trato disto.

- Como é que vais tratar disto?! – gritei – Temos uma pessoa morta na sala! Como é que se trata disso?

- Eu-

- Chegámos! – gritou a Lola da entrada e sendo a que vinha a frente, foi a primeira a aparecer na sala – Oh meu deus. – a expressão divertida e alegre desapareceu assim que o seu olhar parou no corpo imóvel do Theo – O que é que se passou?

- O que é que se passa? – a voz seguinte foi a da Meg e assim que entrou na sala também a sua expressão se alterou completamente – Sky? – só quando senti as mãos dela nos meus joelhos é que percebi que tinha estado a balançar-me para a frente e para trás, ainda contra a parede e agora ainda mais coberta de sangue do que antes – O que é que aconteceu?

- Ele está morto. – murmurei – Ele está morto. – era a única coisa que conseguia dizer.

- Mas que merda é que vamos fazer agora? – era a voz do Diego.

- Foi auto defesa certo? – a Lola tentava soar esperançosa – Temos de chamar a polícia e contar-lhes o que aconteceu.

- Não vamos chamar polícia nenhuma, o Enzo sabe o que temos de fazer.

- Onde é que está o Enzo? Tiago…

Não consegui ouvir mais nada da discussão assim que depois de a Meg me ajudar a levantar, me levou até à pequena casa de banho. Sentei-me dentro da banheira, completamente vestida e mantive-me tão imóvel e calada como antes enquanto a minha prima ligava a água e tentava aquecer a mesma.

- Sky…

- Ele está morto. O Theo está morto.

- Eu sei. – olhei para a Meg que me olhava com uma expressão sofrida – Eu sei e vai tudo ficar bem.

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publicado às 18:55

Treinta y uno

por Joanna, em 30.01.16

Caminhei atrás e de mão dada com o Enzo até ao pequeno quarto que ele partilhava com o irmão. Depois de trancar a porta do mesmo, segui-o até à sua cama de solteiro, mantendo-me o mais próxima possível do corpo do Enzo e de toda aquela proximidade que me tinha sido negada durante a semana em que tínhamos estado longe um do outro.

Tinha os pensamentos a mil, divididos entre o facto do meu pai me ter mentido todo este tempo e a possível presença do Theo em Espanha mas mesmo assim sentia-me mais do que segura e feliz naquele preciso momento.

- Ter passado esta semana sem ti fez com que fossem os dias mais difíceis da minha vida. – murmurou ele com os lábios junto ao meu cabelo enquanto mantinha os braços à volta do meu tronco e não me deixava afastar-me um milímetro que fosse dele – Desculpa. Não me devia ter passado daquela maneira; sou demasiado explosivo mas nada justifica aquilo que aconteceu. Só não quero que penses que eu seria capaz de te fazer mal alguma vez. Eu era incapaz de te magoar Sky.

Desencostei a cabeça do ombro do Enzo e deixei-me estar sentada bastante direita de forma a conseguir manter o meu olhar fixo no seu. No meu cérebro dava-se uma discussão sobre se deveria ou não contar-lhe sobre o meu passado, tudo o que tinha acontecido com o Theo, e acabei mesmo por decidir que estava na altura de o fazer.

- Quando tinha dezassete anos apaixonei-me por um rapaz com vinte. O meu pai nunca gostou dele e não sei se era por ele ser mais velho do que eu ou se era aquele instinto protetor que os pais têm mas eu continuava com aquele ódio de estimação por ele ter refeito a vida com a Kendra e estava apaixonada por isso não quis saber a nada do que ele me dizia. – respirei fundo tentando ganhar coragem para continuar a contar aquilo que durante tanto tempo queria ter deixado para trás mas que me era completamente impossível – Ao princípio era tudo simplesmente perfeito; ele era perfeito e eu estava tão apaixonada como nos contos de fadas mas depois, e por mais que dê voltas à minha cabeça não sei dizer com precisão quando, tudo mudou; ele deixou de ser assim tão perfeito e começou a ser demasiado ciumento e possessivo. Chegou uma altura em que não aguentei mais aquilo e decidi que ia terminar a nossa relação mas ele não aceitou isso e ele não queria ficar sem mim. – mordi o lábio inferior antes de prosseguir – Num segundo estava a afastar-me dele e no segundo a seguir vi tudo preto, isto antes de acordar numa cave e estar amarrada. – desci o olhar para o meu tornozelo, levantando ligeiramente as calças de forma a mostrar a marca que a corda tinha deixado na minha pele e que mesmo depois daqueles anos ainda não tinha desaparecido – Ele ia lá todos os dias dar-me comida, passar tempo comigo e dizer o quanto me amava e que tudo aquilo era para que ficássemos juntos. Tinha a sensação que lá fiquei pelo menos um mês mas uma semana depois o meu pai conseguiu encontrar-me e tirar-me de lá. O meu pai puxou todos os cordelinhos que eram precisos e conseguiu que o Theo ficasse preso e que não se pudesse aproximar de mim mas já passaram quase quatro anos e ele já saiu da prisão. Viemos para Espanha não só para seguir o meu sonho mas também para me tentar afastar de tudo isto e agora… acho que ele está cá. – murmurei fixando novamente os olhos do Enzo – Não sei se só estou com a mania da perseguição ou se ele está mesmo cá mas o que sei é que ele não me vai deixar em paz. Ele ama-me demasiado para isso.

A expressão carregada do Enzo desapareceu ligeiramente assim que passei a ponta dos meus dedos pelo seu maxilar – Eu prometo que não me estou a passar. Muito. – murmurou ele num tom irritado enquanto colocava os meus braços à volta do seu pescoço e voltava a rodear a minha cintura com os seus braços musculados – Eu não sou como o Theo. Não sou perfeito nem nunca fui mas nunca te vou magoar dessa forma. Estar sem ti foi horrível e muito difícil mas era incapaz de te manter comigo contra a tua vontade.

- Eu sei que não és como ele mas o que aconteceu com o Martin… Já te tinha visto a lutar mas nunca te tinha visto naquele estado e assustaste-me a sério. – ele assentiu com a cabeça antes de roçar os seus lábios nos meus – E por falar no Martin… meio que resolvi as coisas com ele. – quando senti o Enzo a afastar-se ligeiramente, aproveitei o facto de estar com os braços à volta do seu pescoço para o puxar novamente na minha direção – Apenas como amigo e bem, não somos assim tão amigos como isso mas ainda assim. Eu sei que ele foi um idiota em muitas ocasiões mas ainda assim ele não foi sempre um idiota comigo e temos de ver que se não fosse ele, eu não estava aqui contigo agora.

- Não gosto de falar do Martin quando estamos na minha cama. Não gosto de falar de outro rapaz quando estamos na minha cama. – dei por mim a sorrir com o tom ciumento do Enzo, transportando-me para um dia-a-dia normal e não para aquele dia que estava a ter – Por isso vamos deixar de falar e vamos ficar só assim, pode ser? – assenti com a cabeça e cheguei-me para mais perto do corpo do Enzo, acabando com qualquer distância que ainda havia entre nós – Ainda bem, agora só quero isto.

**

O final do semestre fez com que fossemos todos dispensados de ir à universidade uma vez que nenhum de nós precisou de ir a exames para acabar as cadeiras em que estávamos inscritos. Ao contrário do que tinha planeado para esse mês de férias, não voltei a meter os pés na embaixada e também não me dei ao trabalho de tentar falar com o meu pai ou com a Kendra, limitando apenas as chamadas telefónicas para a Taylor que não tinha de sofrer com os nossos problemas.

Acabei por passar grande parte dos dias seguintes com o Enzo e o resto do grupo, também como uma pequena compensação pela semana em que me tinha mantido longe de todos eles.

Tinha também demorado este tempo a ganhar coragem para dar uso à chave que o meu pai me tinha dado e me tinha decidido a ir finalmente conhecer a casa onde os meus pais tinham morado durante o seu tempo de apaixonados em Espanha. O Enzo disponibilizou-se logo a ir comigo e acabámos por decidir que seria interessante se fossemos todos, numa espécie de mini viagem como a que tínhamos feito para Portugal.

Toquei à porta de casa dos Suarez com a Meg ao meu lado que ia tagarelando sem parar sobre a saída dela com o Santiago na noite anterior. Para ser sincera a relação deles já tinha deixado de me afectar como antes; a minha prima estava feliz e isso era tudo o que me importava, claro que estava mais do que pronta para arranjar forma de mandar prender o Santiago caso ele fizesse alguma coisa que a fizesse sofrer, mas ouvir aquela história pela terceira vez já me estava a deixar maluca.

A porta principal abriu-se e estávamos prestes a entrar quando demos conta que quem nos abria a porta não era uma cara conhecida. Estaquei automaticamente e fiquei sem saber o que fazer ou dizer durante alguns segundos.

- Olá. – murmurei nervosa enquanto tentava recuperar aos poucos o domínio dos meus pensamentos e corpo – Senhora Suarez? – ela assentiu com a cabeça enquanto sorria; era uma mulher bonita e todos os filhos tinham imensas parecenças com ela. Parecia muito mais velha do que eu sabia que era e tinha a certeza que se devia a todo o esforço e trabalho que faziam parte do seu dia-a-dia – Sou a Sky e esta é a Meg, estamos-

- Sim, eu sei. Entrem, entrem, eles estão a acabar de arranjar as coisas. – ela abriu mais a porta, deixando espaço para que entrássemos em casa e cumprimentou-nos a ambas com dois beijos na cara – Lorenzo! Santiago! Elas já chegaram! – gritou ela pelas escadas que davam ao andar superior – Bem, não estejam assim tão nervosas, eu não mordo.

A verdade é que eu estava mesmo nervosa. O único relacionamento sério que tinha tido antes tinha sido com o Theo e a verdade é que nunca tinha chegado a conhecer os pais dele e por isso esta era a primeira vez que conhecia os pais de um namorado meu. A senhora à minha frente parecia simplesmente adorável mas ainda assim não deixava de ser uma sensação estranha.

- E que cabeça a minha, não me chamem senhora Suarez por amor de deus, eu sou velha mas não sou assim tão velha. Chamem-me Amaia e estejam à vontade, tenho a certeza que já conhecem a casa como a palma das vossas mãos.

Ouvi a Meg engasgar-se ao meu lado e tive de morder o lábio inferior para não me rir. Desviei o olhar para as escadas assim que comecei a ouvir passos vindos da mesma e rapidamente o Enzo surgiu no meu campo de visão. Deu um beijo na testa da mãe antes de caminhar até mim e colocar os braços à volta da minha cintura.

- Já estás apaixonada por ela, mãe? – perguntou com um sorriso enquanto roçava os lábios na minha bochecha.

- O que interessa é que tu estejas apaixonado por ela e eu sei que estás. – a mãe do Enzo dirigia-se para a cozinha no momento em que parou para olhar para mim – Ele não pára de falar de ti, nunca o vi assim, parece uma criança. – não consegui conter o sorriso ao ouvi-la – E o Santiago é igual.

- Eu o quê?

- Não paras de falar à tua mãe sobre mim. – responde a Meg também a sorrir.

- Bem, não tenho culpa que ela fique parada à porta do nosso quarto a ouvir as conversas.

- Santiago! – Amaia atirou o pano que levava na mão ao filho – Gostei muito de vos conhecer e são bem-vindas sempre que quiserem mas agora por favor levem os meus filhos daqui. Já não consigo aturar estes miúdos.

- Vá lá mãe, já não vives sem nós. – o Enzo largou-me e aproximou-se novamente da mãe, abraçando-a de um lado enquanto o Santiago se juntava a ele do outro. Vê-los aos três daquela forma fez-me pensar na minha família mas rapidamente meti esses pensamentos para o fundo da minha mente; não queria pensar no meu pai naquele momento.

Depois de nos despedirmos da Amaia dirigimo-nos até à casa ao lado onde a Lola e o Diego acabavam de arrumar as suas coisas para levar. Ia ser apenas um fim-de-semana e por isso não era necessário nada de mais mas ainda assim toda a gente parecia bastante preocupada com as coisas a levar principalmente tendo em conta que íamos passar alguns dias numa casa onde nenhum de nós tinha estado e que portanto era totalmente desconhecida.

Tinha dado ao Enzo com algum tempo de antecedência a morada e uma vez que ele já sabia onde é que a casa ficava, montei na mota dele e fomos à frente, seguidos pelas outras duas motas.

A casa onde os meus pais tinham morado ficava nos arredores de Madrid num pequeno bairro que fazia lembrar o sítio onde os Suarez moravam mas notava-se que não era um barro tão pobre e que era ligeiramente mais abandonado. A casa que agora me pertencia estava pintada num tom azul claro e tinha um ar simplesmente adorável, como uma daquelas casinhas de bonecas que me lembrava de ter em pequena.

- Estás bem? – encostei-me ao peito do Enzo e assenti com a cabeça, acalmando-me automaticamente com a nossa proximidade – Temos tempo para explorar tudo isto se mudares de ideias. E podemos ser só os dois se te sentires melhor assim.

Abanei a cabeça e virei-me de frente para ele, colocando os meus braços ai redor do seu pescoço – Não. Quero fazer isto agora. Preciso mesmo de fazer isto. O meu objetivo principal ao vir para cá foi descobrir mais sobre a minha mãe, lembrar-me dela e é isso que quero fazer. Obrigada por fazeres isto comigo.

- Deixa de ser melosa, vamos lá entrar. – soltei uma gargalhada com a tentativa do Enzo de esconder o seu sorriso e dei-lhe uma palmada na barriga antes de retirar do bolso das calças a chave da casa que se encontrava à minha frente.

O interior era bastante simples mas muito bonito e apesar de não ser habitada desde que os meus pais tinham abandonado o país, alguém estava responsável de tomar conta da casa e arruma-la porque não havia uma única mancha de pó e a casa estava longe de ter aquele cheiro de estar fechada há imenso tempo.

A casa era constituída apenas por um piso térreo onde se encontrava uma sala de tamanho considerável e onde ficou decidido que seria onde eu, o Enzo, a Lola e o Diego íamos dormir enquanto o Santiago e a Megan iam dormir no pequeno quarto que existia; primeiro tinham falando que eu e o Enzo é que devíamos lá dormir mas a última coisa que queria era partilhar a ex-cama dos meus pais com o meu namorado, chamem-me esquisita mas era demasiado estranho; havia ainda uma casa de banho e uma cozinha bastante espaçosa.

Depois da visita guiada pela pequena casa, abancámos na sala de estar onde passámos o resto da tarde a falar, jogar e ver o que ia passando na televisão, fazendo com que o tempo passasse rápido de mais. Só quando se começou a aproximar da hora de jantar é que percebemos que não tínhamos pensado ainda nisso e que era necessário ir comprar alguns alimentos para aquele fim-de-semana em que ali íamos estar.

- Tens a certeza que não queres que fique contigo?

Agarrei-me à almofada que estava mais perto e abanei a cabeça – Absoluta. Não te preocupes, a sério. É só uma dor de cabeça e já passa. Preciso de um bocadinho de silêncio e tu tens de ir ajudar com as compras.

- Mas eu posso ficar aqui em silêncio.

Sorri e estiquei-me até conseguir beijar os lábios do Enzo – Vai lá. Não vais demorar tempo nenhum por isso não morres de saudades minhas. – brinquei com um meio sorriso enquanto me ajeitava no sofá.

- Mantém o telemóvel ao pé de ti. E qualquer coisa liga-me.

Fechei os olhos enquanto mantinha a cabeça deitada ao braço do sofá e sorri com o silêncio que percorreu aquele espaço. Estava com uma dor de cabeça descumunal e precisava daquele bocadinho para descansar.

Retirei o telemóvel do bolso assim que senti o mesmo a vibrar e revirei os olhos – Enzo, ainda agora saíste daqui, eu est-

- Não é o Enzo. – abri os olhos e sentei-me no sofá com grande rapidez. Senti a minha cabeça martelar e deixei de saber se era pela dor de cabeça de antes ou se era por ter ouvido a voz do Theo tanto tempo depois – Sou eu. Tive tantas saudades tuas. Quando te vi no outro dia…

Engoli em seco enquanto sentia como se o meu coração me estivesse a ser arrancado do peito. Era o Theo e ele estava em Espanha, tinha sido ele quem me tinha estado a seguir naquele dia pelas ruas de Madrid e neste momento sentia pânico puro a percorrer todas as células do meu corpo.

- Como é-

- Assim que saí da prisão comecei a procurar-te. Foi difícil mas acabei por descobrir que tinhas vindo para aqui. Devia ter-me lembrado logo que vinhas para aqui. – sabia que ele estava a sorrir do outro lado da linha e senti um arrepio na espinha – Quero encontrar-me contigo, quero ver-te. Preciso de te ver Sky. Encontra-te comigo. Estou à tua espera num café em Madrid, já te mando mensagem com o nome.

- Theo, não me vou encontrar contigo. – tentei ignorar todo o medo que estava a sentir e soar o mais forte e calma possível – As coisas entre nós acabaram e não há volta a dar. Por favor volta para casa e esquece-me. – desliguei a chamada e pressionei o telemóvel com força contra o meu peito. Levantei o olhar com um suspiro ao ouvir a campainha tocar e levantei-me do sofá para ir abrir a porta ao grupo que vinha carregado com compras – Foram rápidos.

- Olá bebé. – o meu peito começou a subir e descer demasiado depressa quando eu me lancei para a frente para fechar a porta.

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publicado às 16:05

Treinta

por Joanna, em 23.01.16

Tinha passado uma semana desde a última vez em que tinha estado ou visto o Enzo. Tinha e ainda era muito difícil, ainda por cima porque ele fazia de tudo para falar comigo e explicar-se ou pedir desculpa, nunca saberia qual delas seria porque tinha passado a semana a fugir de qualquer contacto ou proximidade com ele.

Custava imenso fazer isto e estar longe dele; tanto tempo a ignorar os meus sentimentos pelo Enzo e a fingir que não se tratava de nada de especial para depois, quando finalmente tinha ganho coragem para admitir o que sentia por ele, as coisas acabarem demasiado depressa. Sabia que a explicação que lhe tinha dado não era suficiente e que já o tinha visto a ser agressivo pelo menos em duas outras ocasiões, quando o tinha acompanhado às lutas mas nunca o tinha visto daquela maneira, literalmente pronto para matar o Martin. As recordações do meu passado tinham-me preenchido o cérebro e a única coisa em que conseguia pensar é que não queria voltar a passar por tudo novamente, mesmo que o Enzo não fosse o Theo nada me garantia que também ele não se revelasse mais tarde.

- Tens a certeza que não queres vir? – levantei o olhar do livro que estava a fingir ler enquanto a Meg se acabava de arranjar para ir ter com o Santiago – O Enzo está sempre a perguntar por ti…

Voltei a afastar o olhar, suspirando à menção daquele nome – Sim, absoluta. – respondi tentando concentrar-me nas palavras e frases que estavam mesmo em frente aos meus olhos mas que naquele momento não me fazia qualquer sentido – Vou dar uma volta e tenho de ir à embaixada. – levantei uma vez mais o olhar para a minha prima quando senti o seu olhar fixo em mim – O que foi?

- Eu sei porque é que acabaste com ele mas… o Enzo estava a defender-te e eu sei que ele se passou a sério com o Martin mas um erro não faz dele o Theo.

- Tu mais do que toda a gente devias perceber. – atirei o livro para cima da colcha da minha cama e levantei-me da mesma – Não quero falar do Enzo. – também não queria pensar nele mas isso era absolutamente impossível – Vemo-nos logo, está bem?

Despedi-me dela e deixei-me estar alguns minutos apenas sentada na ponta da cama, novamente com o Enzo no meu pensamento. Depois do ataque de fúria do Enzo, o Martin tinha sido levado para o hospital e apesar de ter passado algum tempo a avaliar todos os prós e contras e se devia ou não fazê-lo, tinha-o ido visitar para saber como é que estava. Não tinha parecido nada bem com a cara cheia de negras e inchada mas tinha ficado a saber que não tinha nenhum dano permanente e que não era nada que o tempo não curasse. Confesso que estava um pouco desconfiada e insegura com a minha visita e a nossa conversa depois de saber o que se tinha passado com a Julia, da nossa conversa e do facto de ter sido o meu namorado a fazer-lhe aquilo mas tínhamos acabado por falar, resolver as coisas e decidido a darmo-nos bem. Claro que não pensava em aproximar-me romanticamente dele, acho que mesmo que tentasse não conseguia afastar o Enzo da cabeça, e que mesmo a nossa amizade estava um pouco tremida depois do que se tinha passado mas estávamos lentamente a resolver as coisas.

E era exatamente isso que tornava toda a situação pior; tinha conseguido resolver as coisas com o Martin mas nem sequer deixava o Enzo tentar resolver a situação.

Saí finalmente do pequeno quarto e fui afastando-me da universidade sem qualquer plano, limitando-me a caminhar pelas ruas atulhadas de espanhóis e turistas. Estava tão distraída nos meus pensamentos que fui caminhando sem prestar atenção ao que se passava à minha volta.

Juntei as sobrancelhas e olhei por cima do meu ombro quando tive a sensação que havia alguém atrás de mim mas a rua onde me encontrava estava com tanta gente que só podiam ser os meus pensamentos a pregar-me partidas. Tinha de parar de pensar no passado e deixar de ter medo, os meus objetivos ao mudar-me para Espanha.

Continuei a caminhar, agora ligeiramente mais atenta ao que me rodeava apesar de tentar afastar aquela mania da perseguição que me estava a assolar mas quando o meu olhar parou numa pessoa a alguns metros do sítio onde me encontrava, senti que o chão se abria mesmo por baixo dos meus pés. A cara estava tapada graças ao capuz do casaco que estava bastante puxado para a frente mas a constituição física fazia adivinhar que se tratava de alguém do sexo masculino. Mais uma vez podia estar apenas a ser assolada pela minha mania mas a estatura demasiado alta fez com que o meu coração saltasse imediatamente uma batida.

Forcei os meus pés a mexer e o meu cérebro a trabalhar enquanto avançava rapidamente em direção à embaixada que já não ficava muito longe do sítio onde me encontrava, mantendo-me sempre em ruas cheias de movimento e perto de estabelecimentos públicos para o caso de precisar mesmo de ajuda. Estava prestes a chegar ao meu destino quando me pareceu que o homem do capuz tinha desaparecido e que podia finalmente acalmar a minha imaginação demasiado fértil quando o meu olhar parou no vidro de uma loja de roupa que reflectiu, mais uma vez a poucos metros de mim, aquele homem.

Só parei para respirar fundo quando cheguei finalmente à embaixada e só aí é que me consegui sentir segura. Claro que podia tratar-se apenas de uma coincidência bastante grande mas no meu cérebro já passavam todas as opções possíveis: podia ser um segurança do meu pai, podia ser alguém que me queria usar para fazer mal ou meu pai ou podia ser o Theo. Que parvoíce, como é que o Theo saberia que eu estava ali?

- Olá menina Skylar! – esforcei-me ao máximo por afastar todos aquele pensamentos antes que a Jacinta conseguisse ler o que se passava na minha cabeça e forcei-me por sorrir – Já não a via há tanto tempo. O seu pai está em reunião e a sua irmã está com a mãe na aula de ballet. Precisa que lhe traga alguma coisa?

Abanei a cabeça e dei um beijo na bochecha da governanta – Não preciso de nada. Depois podes dizer ao meu pai que estou no escritório dele?

Despedi-me alto da senhora com uma certa idade assim que ela se afastou de mim com a sua enorme rapidez para ir tratar de tudo o que era necessário naquele enorme edifício e caminhei até ao escritório do meu pai. Era um espaço bastante agradável e apesar das suas diferenças bastante visíveis, fazia-me lembrar o escritório do meu pai nos EUA, onde eu me refugiava sempre que não queria estar sozinha e sentir como se estivesse com os meus pais perto de mim.

Sentei-me na cadeira de pele e recostei-me na mesma enquanto ligava o portátil que se encontrava em cima da mesa. O meu objetivo era distrair-me com um jogo ou algo do género, de forma a afastar todos os meus pensamentos e a luta interna que estava a ter neste momento, sem saber se deveria ou não contar ao meu pai o episódio que tinha acontecido no meu caminho até ali mas fiquei de olhar fixo no ecrã do aparelho quando sem saber muito bem como encontrei uma pasta com o nome da minha mãe.

Mexi o rato a medo e cliquei na pasta enquanto ouvia o meu coração a bater-me nos ouvidos; senti as lágrimas picarem-me os olhos mal o meu olhar parou em várias fotografias antigas, umas apenas da minha mãe, umas dos meus pais juntos e algumas onde eu também aparecia. Fui passando as fotografias, sentindo-me cada vez mais nostálgica à medida que ia vendo tudo aquilo, a maioria das quais eu nunca tinha visto na minha vida, mas foi quando parei na digitalização de um documento que o meu coração me pareceu ter sido arrancado do peito.

- Sky! A Jacinta disse que estavas aqui. – levantei o olhar do ecrã para a porta depois da mesma ser aberta e o meu pai entrar no escritório. O seu sorriso entusiasmado desapareceu assim que viu a minha expressão – O que é que aconteceu?

- Disseste-me que tinhas vendido a vossa casa. Disseste que a tinhas vendido para pagar os meus estudos mas afinal passaste-a para o meu nome? Porque é que mentiste? Porque é que nunca me disseste? E as fotografias todas! Durante estes anos tenho feito um esforço enorme para me recordar da minha própria mãe e tens vivido como se ela não tivesse existido.

- Sky-

- Não! – levantei-me da cadeira e dei a volta à secretária, aproximando-me finalmente dele. Sentia as lágrimas a escorrer-me pelas bochechas mas nem me dei ao trabalho de as limpar, sabendo que haveriam logo outras a substituir aquelas – É a minha mãe! Não tinhas o direito!

- Fiz isto para te proteger. A casa está em teu nome caso algum dia precises dela ou precises do dinheiro dela mas menti-te para te proteger. A tua mãe morreu e temos de seguir em frente.

- Para seguir em frente é preciso deixar o passado para trás. E tu podes ter-te despachado a seguir em frente e arranjado logo uma mulher e uma filha nova mas eu não consigo esquecer a minha mãe de um dia para o outro.

- Estás a ser injusta. Eu nunca esqueci a tua mãe e sabes perfeitamente que a minha relação com a Kendra não foi de um dia para o outro. A Taylor é minha filha mas tu também és e eu amo-vos às duas por igual.

Abanei a cabeça, decidindo-me finalmente a limpar as lágrimas quando percebi que mais do que magoada estava verdadeiramente zangada – Quero as chaves da minha casa. – estiquei a mão na sua direção – Não podes tratar-me para sempre como uma boneca de porcelana e não podes controlar-me até ao resto da minha vida.

Durante uns poucos segundos o silêncio reinou durante aquele divisão enquanto eu e o meu pai nos olhávamos fixamente sem que nenhum dos dois desistisse. Quando ele se mexeu finalmente e caminhou em direção ao cofre que ali continha, soltei o ar que nem sabia ter estado a reter até àquele momento.

- Sky-

Tirei-lhe as chaves da mão e guardei-as automaticamente no bolso das calças – Não te preocupes, não vou sozinha. – atirei secamente antes de passar por ele e sair daquele espaço e da embaixada.

Apesar de ter os pensamentos completamente do avesso com aquilo que tinha descoberto, não deixei de me lembrar que possivelmente tinha estado a ser seguida e por isso mesmo saí novamente para as ruas de Madrid mas desta vez de carro. Conduzi sem destino mas assim que percebi onde tinha parado, encostei a cabeça ao volante e suspirei.

Estiquei a mão para o telemóvel que tinha atirado para cima do banco do pendura, e marquei o número que conhecia de cor desde os dez anos.

- Sky? Está tudo bem?

Mordi o meu lábio inferior com força enquanto pensava como é que deveria responder àquela pergunta. Se estava tudo bem? Não, não estava nada bem.

- Ele mentiu-me. Mentiu-me este tempo todo. – murmurei passando os meus dedos trémulos pelos olhos – O meu pai não vendeu a casa onde ele viveu com a minha mãe aqui em Espanha. E o pior de tudo foi ouvi-lo dizer que o fez pelo meu bem. Tenho estado todo este tempo a tentar lembrar-me dela e ele esteve a esconder tudo de mim.

- Sky…

- E… acho que ele está aqui… - engoli em seco ao proferir aquelas palavras em voz alta – Meg, acho que o Theo está aqui… - agora que tinha revelado o meu medo em voz alta era como se a situação se tivesse tornado muito mais real – Acho que alguém me andou a seguir durante a tarde e não consegui ver a cara mas parecia o Theo. E passei este tempo todo a dizer que era impossível ele saber que eu estava aqui mas não é assim tão difícil. Ele só precisava de saber que o meu pai veio para Espanha por causa do cargo dele para descobrir que eu também cá estou. Meg… acho mesmo que ele está aqui…

- Tiago, pára! Sky, tem calma. Onde estás? Eu vou ter contigo, diz-me onde estás.

- Estás a falar com a Sky?

Meti-me direita assim que ouvi aquela voz ser proferida do outro lado da linha. Por meros segundos o meu corpo pareceu ser atacado por uma vaga de segurança e de familiaridade ao ouvir a voz do Enzo depois de ter passado tanto tempo.

- Não lhe passes-

- Sky? O que é que aconteceu? Onde é que estás?

- Eu não- - murmurei sem saber o que dizer, sem saber o que dizer-lhe quando a minha vontade era simplesmente estar junto a ele – Estou à porta da tua casa.

- Sky? – quando ouvi novamente a voz da Megan ao telemóvel o meu olhar levantou-se imediatamente para a porta de casa dos Suarez que foi aberta com enorme rapidez e de onde surgiu o Enzo – O que é- onde é que ele foi?

Carreguei no vermelho e segui com o olhar enquanto o Enzo descia os degraus e caminhava em passos apressados até ao carro onde eu me encontrava trancada. Destranquei-o assim que o Enzo se aproximou do veículo e mal a porta foi aberta, atirei-me contra o peito dele, colocando os braços à volta do seu pescoço.

- Desculpa. Nunca te quis magoar. Tive tantas saudades tuas.

Encostei a cara ao pescoço do Enzo e deixei que as lágrimas escorressem livremente pelas minhas bochechas. Naquele momento havia tanto que lhe queria dizer que acabei por não conseguir dizer nada e limitei-me a seguir junto a ele assim que nos afastámos do carro e caminhámos em direção à casa dos Suarez.

- Sky. – abracei a Meg com força assim que o corpo dela foi ao encontro do meu e senti-me acalmar aos poucos apesar de todos os meus pensamentos estarem em completo desalinho ali e com eles sentia-me segura – Disseste ao teu pai? Sky, ele tem de saber. O teu pai tem de tentar perceber se é mesmo ele.

- Do que é que vocês estão a falar? - olhei por cima do meu ombro ao ouvir a voz do Enzo atrás de mim e olhei novamente para a minha prima, abanando a cabeça para tentar cala-la mas não consegui fazê-lo.

- A Sky acha que está a ser seguida.

- Meg. – murmurei tentando cala-la mas ela já tinha dito o suficiente para a expressão do Enzo se alterar e tornar-se mais carregada do que antes.

- Tens de lhe contar. E ao teu pai também. Ele vai saber o que fazer.

Voltei a abanar a cabeça – Não quero falar com o meu pai, eu vou ter cuidado mas por favor não fales com ele. – implorei antes de voltar a olhar para o Enzo que parecia novamente possuído por uma fúria assassina – Não te preocupes, está bem? Não é nada. – não sabia se estava a tentar acalma-lo a ele ou a mim mas fosse qual fosse a opção, sabia que nenhuma estava a ter o efeito suposto – É o meu ex, acho que ele está cá mas isso não quer dizer nada.

- Vamos ter tempo para falar disso. – suspirei e fechei os olhos assim que voltei a ter o meu corpo contra o do Enzo, toda aquela proximidade e familiaridade a acalmar-me com grande rapidez – Agora precisas de te acalmar e eu preciso de estar contigo. Tive tantas saudades tuas. – murmurou ele contra o alto da minha cabeça.

- Eu continuo a achar que devíamos falar com o teu pai…

- Depois tratamos disso. – foi a última coisa que o Enzo disse à Meg antes de abandonarmos aquela divisão e subirmos as escadas para o andar superior onde ficavam os quartos.

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publicado às 19:14

[OS] Lorenzo Suarez II

por Joanna, em 16.01.16

- Está tudo bem?

Ouvi a pergunta do Diego que se mantinha atrás de mim mas não lhe respondi enquanto seguia com o olhar a Sky até ela sair do meu campo de visão. Já a conhecia perfeitamente para saber que alguma coisa se tinha passado e agora que estava com esta sensação não ia parar até descobrir o que tinha acontecido.

- Acho que sim. – respondi-lhe finalmente e continuámos o nosso caminho em direção à zona do refeitório e bar da universidade, voltando à nossa conversa anterior. Pousei o casaco e a mochila numa das cadeiras vazias e levantei o olhar para o Diego que se encontrava agarrado ao telemóvel, muito provavelmente a falar com a minha irmã – Vou lá fora fumar.

Tirei o maço de tabaco do bolso das calças e retirei do mesmo um cigarro que levei automaticamente à boca mas apenas acendi quando saí do edifício. Por estarmos no final de maio, a temperatura conseguia ser bastante agradável ao sol.

- Ainda há bocado estive com a Sky. – afastei o cigarro da boca e desviei a cara para a direita, para onde aquele nome tinha acabado de ser proferido. O Martin encontrava-se rodeado do seu bando de falhados ricos que o ouviam bastante atentamente; o nosso olhar encontrou-se por segundos antes de ele sorrir e voltar a desviar a atenção para o grupo – Está cada vez mais boa. – voltei a aproximar o cigarro dos meus lábios, tentando que a nicotina acalmasse a irritação que começava a surgir debaixo da minha pele enquanto o ouvia a falar sobre ela – Ela faz-se de difícil mas no fundo eu sei que está mortinha por estar comigo. Já me levou aos dormitórios dela e tudo. Tenho a certeza que até ao final da semana consigo mete-la na minha cama.

Aquilo foi de mais e mesmo ainda com o cigarro longe de estar no fim, atirei-o para o chão e dirigi-me até ao grupo que se ria e felicitava o Martin como se estivessem a falar de outra coisa qualquer que não a minha namorada.

- O que é que disseste?

Assim que me aproximei o grupo calou-se e afastou-se ligeiramente para o lado, deixando-me frente a frente com um Martin ainda bastante sorridente. Apertei as mãos com tanta força que sabia que tinha os nós dos dedos brancos.

- Tu ouviste bem o que eu disse. Vou levar a Skylar para a cama e não vai ser assim tão difícil. Ela não me larga desde o primeiro dia em que fui falar com ela. O que é que se passa Enzo? Não me digas que ainda não passaste para outra.  

As palavras e o tom de voz do Martin fizeram com que rapidamente todo o meu sangue começasse a ferver; sentia-me da mesma forma como quando começava um combate, mesmo sabendo perfeitamente que se tratavam de situações diferentes. Vistas bem as coisas, não me sentia exatamente da mesma forma uma vez que quando me dirigia àqueles recintos cheios de pessoas para me ver, eu sabia perfeitamente que tinha de dar um espectáculo e por isso mesmo acabava por levar todo aquele ambiente mas na brincadeira do que outra coisa. Naquele momento só queria tirar aquele sorriso da cara do Martin e fazê-lo parar de dizer aquelas coisas sobre a Sky.

- Ela andou a defender-te este tempo todo e tu agora armas-te em miúdo amuado. – abanei a cabeça ainda com o meu olhar fixo no seu – És ainda pior do que eu pensava.

O Martin riu-se – Estou a receber lições morais do Lorenzo Suarez! É melhor chamarem a imprensa; este é um dia histórico. – ele encolheu os ombros, trazendo de volta aquele seu sorriso que me estava a dar cabo da paciência – Não te preocupes muito, eu vou trata-la bem.

- Não! Enzo, não te preocupes! Eu estou a trata-la bem! Não estou? Julia, diz-lhe que te estou a tratar bem.

Aquela noite voltou-me ao pensamento assim que o ouvi falar e ao imaginar a Sky junto dele, mesmo que a situação não fosse como a da Julia e fosse por sua vontade própria, era demasiado para mim. Tinha tentando lutar contra aquilo que sentia por ela, tinha mesmo tentado manter a nossa relação num certo nível para não complicar depois tudo mas a verdade é que tinha sido simplesmente impossível.

Lancei-me para o Martin e antes de conseguir acabar os meus pensamentos e acções já os meus punhos tinham voado em direção à cara sorridente dele, golpeando-o constantemente. Senti umas mãos nos meus ombros e tinha quase a certeza que alguém chamava por mim, mas estava tão irritado e possuído pela raiva naquele momento que nada me fazia afastar do corpo agora imóvel e caído do Martin.

- Enzo!

O zumbido que tinha estado a preencher os meus ouvidos até àquele momento desapareceu assim que ouvi a voz do Diego gritar aos meus ouvidos ao mesmo tempo que os seus braços rodeavam o meu tronco e me puxavam para trás e para longe do Martin.

Deixei-me ser puxado sem resistir muito e assim que o meu olhar voltou a baixar-se é que consegui ver o verdadeiro estado em que o Martin se encontrava: o seu rosto estava completamente pisado e ensanguentado e ele encontrava-se imóvel à excepção do peito que ia subindo e descendo. A segunda coisa que reparei é que ele estava finalmente sem aquele sorriso na cara e que também não o ouvia a dizer fosse o que fosse sobre a Sky.

Mesmo mantendo-me quieto junto ao Diego, os seus braços continuavam à minha volta como se ele estivesse com medo que eu voltasse a atirar-me ao Martin caso me largasse. Assim que finalmente dispersei a minha atenção, consegui ver que durante o meu ataque de raiva se tinha formado ali uma pequena multidão que olhava em choque para o Martin que estava entretanto a ser ajudado pelo seu grupo de amigos.

- Sky. – murmurei ouvindo a minha voz mais rouca e arrastada que o seu tom habitual assim que a vi a poucos metros de distância. Consegui largar-me do aperto do Diego e caminhar até ao sítio onde ela se encontrava. Assim que me consegui aproximar o suficiente para lhe tocar, ela afastou-se de mim como se eu tivesse alguma doença contagiosa – Sky?

- Tu... – ela levantou o olhar para tentar impedir que as lágrimas que se tinham formado de cair pelas suas bochechas e isso foi o suficiente para sentir um aperto no peito – Tentei parar-te mas tu não fizeste caso. Quase o matavas… Se não fosse o Diego… - murmurou ela bastante baixo.

Recordei que tinha sentido umas mãos nos meus ombros mas que as tinha ignorado e afastado para continuar a bater no Martin. Tinha estado tão fixado em toda a raiva que estava a sentir por tudo aquilo que ele tinha dito sobre ela e que me tinha passado pela cabeça que poderia acontecer, que não tinha ligado a absolutamente mais nada.

Voltei a tentar aproximar-me dela mas fui novamente afastado e só quando deixei cair as mãos nesta segunda vez é que me apercebi no estado em que estavam os nós dos meus dedos, tão ensanguentados e pisados como o rosto do Martin.

- Sky… Ele… As coisas que ele estava a dizer sobre ti, - comecei a falar apesar de não conseguir formar frases com grande sentido naquele momento. O aperto que sentia no peito ia alastrando-se lenta e dolorosamente pelo meu corpo à medida que via a expressão da Sky alterar-se e desde o dia em que a tinha conhecido, consegui perceber que ela esta com medo de mim – ele só estava a dizer merdas sobre ti e eu tinha de o calar. Estava a defender-te.

- Isso não me interessa, Enzo. – uma vez mais a minha tentativa de me aproximar e tocar nela foi-me negada – Tinhas razão sobre o Martin; ele não presta e eu agora sei disso mas tu… quase o mataste… - repetiu baixinho – E eu contei-te sobre o meu ex… - a Sky abanou a cabeça sem conseguir, tal como eu, proferir frases completas e com algum sentido – Não consigo passar por isto outra vez. Não consigo ter novamente alguém violento na minha vida, sem saber quando é que te vais passar de novo e andar a espancar pessoas. – o nosso olhar voltou a encontrar-se – Ou quando é que me vais fazer isso a mim.

Abanei rapidamente a cabeça – Sky. – chamei novamente e desta vez fui rápido o suficiente para conseguir agarrar-lhe na mão e puxa-la contra o meu peito. Senti-me relaxar automaticamente com a nossa proximidade e senti também o corpo dela descontrair contra o meu peito.

Fechei os olhos com um pequeno sorriso nos lábios sem me importar minimamente com as outras pessoas que continuavam à nossa volta; na verdade nem estava a prestar qualquer atenção ao que eles estavam a fazer nem sabia se os seus olhares estavam fixos em nós, mas nada disso me interessava. Não sei concretamente quanto tempo se passou mas pareceram longos minutos e durante todo esse tempo pensei que estaria tudo bem e que mesmo que as coisas não fossem assim tão simples, estaria tudo mais ou menos resolvido.

Assim que senti a Sky afastar-se do meu peito e fugir dos meus braços, percebi que ia voltar a perder a rapariga que amava, tal como tinha acontecido antes com a Laura. E apesar de tudo, a dor que sentia no peito desta vez era muito pior. A Sky estava a fugir-me dos dedos sem eu saber o que poderia fazer para lhe mostrar que não era nada como o ex dela e que nunca lhe faria mal propositadamente; mas à medida que o meu cérebro se inundava de tentativas de explicações e de formas de lhe mostrar que eu era diferente, também era atacado pelas mentiras que lhe tinha contado e as verdades que não lhe tinha chegado a dizer.

- Não consigo, Enzo… - as lágrimas que ela tinha estado a conter começaram a escorrer-lhe pelas bochechas e senti novamente aquela sensação apoderar-se de todo o meu corpo – Eu queria conseguir olhar para ti e afastar estes pensamentos todos mas não consigo passar por isto novamente. – a Sky abanou a cabeça e passou rapidamente as costas das mãos pela cara de forma a afastar as lágrimas – Gostava muito que fosse de outra forma… Eu… - ela mordeu o lábio com força, impedindo a palavra que eu sabia que ela ia dizer.

Abri a boca para falar mas não consegui dizer ou fazer nada e limitei-me a ficar parado quando ela se voltou a aproximar de mim e me beijou a bochecha. Senti o perfume dela no ar e fechei os olhos enquanto os lábios da Sky se mantinham em contacto com a minha pele. Não sei quanto tempo é que fiquei assim mas quando voltei a abrir os olhos ela já estava a alguns metros do sítio onde eu me encontrava, a afastar-se de mim.

- Enzo, temos de ir.

Continuei a seguir a Sky com o olhar à medida que ela se afastava, desta vez sabendo que não a voltaria a ver tão cedo. Assenti com a cabeça ao ouvir a voz do Diego e agarrei nas minhas coisas que ele tinha na mão.

- O que é que aconteceu? – a Lola apareceu a correr junto a nós e depois de inspeccionar rapidamente o namorado para ter a certeza que estava tudo bem com ele, foi a vez de se aproximar de mim. Afastei as minhas mãos das suas assim que ela as agarrou e tentei ignorar a dor que começava a sentir por todos aqueles golpes que tinha dado – Enzo? O que é que fizeste?

- Ela foi-se embora. – foi a única coisa que consegui dizer e assim que proferi as palavras em voz alta a minha única vontade foi de ir para casa e estar longe de toda a gente.

- Quem é que se foi embora? – perguntou a Lola sem perceber o que se estava a passar – A Sky foi-se embora? – os olhos azuis da minha irmã abriram-se em choque quando tentou ligar as peças – Tu… - abanou a cabeça – Não, tu não lhe farias isto. – olhei para ela irritado por pensar que eu era capaz de bater na Sky mas ela também tinha pensado nisso, tinha pensado que era só uma questão de tempo até eu também lhe fazer mal mas eu nunca lhe faria mal.

- Foi o Martin. – respondeu finalmente o Diego por mim – É melhor sairmos daqui antes que dê problemas. Vamos para casa.

Dirigimo-nos para o exterior da universidade onde as pessoas andavam de um lado para o outro sem aparente conhecimento do que se tinha passado na outra ponta da mesma. Não fazia a mínima ideia do que tinha acontecido nem do estado do Martin mas nada daquilo me importava agora.

- Vou ligar ao Santiago, ele não está em condições de conduzir.  - ouvi a voz da minha irmã ao longe enquanto ela e o Diego falavam um com o outro e apesar de ir percebendo aquilo que eles diziam, parecia que estava em modo automático e agarrei no capacete, enfiando o mesmo na cabeça antes de subir para a mota – Enzo!

Ouvia-a gritar pelo meu nome mas não parei e segui, sem saber bem para onde ia.

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publicado às 16:41

Veintinueve

por Joanna, em 09.01.16

Enterrei a cabeça na almofada antes de abrir os olhos aos poucos, recebendo automaticamente com a claridade que passava pelas cortinas do quarto. Mordi o lábio inferior na tentativa de reprimir um sorriso ao sentir os lábios do Enzo a roçar ao longo das minhas costas despidas.

- O que é que estás a fazer? – perguntei olhando por cima do meu ombro, de forma a conseguir vê-lo. O cabelo despenteado por ter acabado de acordar juntamente com o sorriso que lhe apareceu nos lábios assim que ouviu a minha voz foi o suficiente para me deixar completamente arrepiada.

- Não sei. O que é que te parece?

Encolhi os ombros e voltei a deitar a cabeça na almofada – Que estás a ocupar o meu espaço pessoal. – respondi num ar sério. Voltei a morder o lábio inferior para não sorrir quando o Enzo se chegou para mais perto do meu corpo, estando praticamente deitado em cima de mim agora com os lábios bastante próximos do meu pescoço e ouvido.

- Isso também mas achava que não te incomodava. Pelo menos ontem à noite não incomodou. – encolhi-me assim que senti os dentes dele na minha orelha.

- Mas olha que me incomodou e bastante. – virei a cara na sua direção, deixando-nos a meros milímetros um do outro – Não foi assim nada de especial.

Ele semicerrou os olhos na minha direção tentando parecer tão sério como eu mas os cantos dos lábios subiram-lhe ligeiramente para um sorriso – A sério? Bem… nesse caso então vamos ter de repetir, não é? Não te posso deixar tão mal servida.

Soltei um guincho assim que o Enzo me fez rodar na cama, deixando-me com as costas contra o colchão e o seu corpo novamente completamente encostado ao meu. Mordisquei o meu lábio inferior ao sentir toda a nossa proximidade bastante ampliada pelo facto de nenhum de nós se encontrar vestido. Coloquei os meus braços à volta do pescoço dele assim que o Enzo se chegou para a frente, quebrando qualquer espaço que ainda havia entre nós.

Fechei os olhos e mordi o lábio inferior ao sentir os lábios do Enzo a descer para o meu pescoço, passando pelo mesmo de forma bastante lenta e provocadora ao mesmo tempo que as suas mãos vagueavam também pelas minhas pernas despidas. Entrelacei melhor os dedos no seu cabelo e soltei um suspiro bastante arrastado quando os lábios do Enzo desceram até à minha barriga, deixando a minha pele completamente arrepiada.

Estiquei a mão e foi às apalpadelas que acabei por encontrar uma embalagem de preservativos, estendendo a mesma ao Enzo. Ele agarrou na mesma com um sorriso nos lábios, olhando na minha direção enquanto os seus lábios se mantinham na zona da minha barriga.

- Não consegues esperar? – elevei-me na cama, fazendo com que voltássemos a inverter as nossas posições e a que o meu corpo se encontrasse novamente por cima dele – Estou a ver que não. – murmurou o Enzo com um meio sorriso antes de se voltar a apoderar dos meus lábios.

A embalagem voltou para as minhas mãos e enquanto beijava o Enzo, abri também a mesma e apressei-me a colocar-lhe o preservativo. Mordi o meu lábio inferior antes do Enzo me beijar novamente assim que as suas mãos pararam na minha cintura e ele me penetrou, fazendo com que os nossos gemidos fossem abafados por aquele beijo.

Tinha passado muito tempo desde a última vez em que me tinha entregado assim a alguém e apesar de ter passado todo este tempo a assegurar-me que não me entregava assim a alguém como o Enzo, agora não conseguia pensar em estar assim tão próxima de qualquer outra pessoa, inclusivamente o Martin.

As mãos do Enzo mantinham-se na minha cintura enquanto eu me movimentava em cima dele e tive de morder novamente o meu lábio inferior de forma a tentar abafar quaisquer gemidos à medida que ele passava também os lábios pela pele sensível do meu pescoço e junto à minha orelha.

Os movimentos tornaram-se mais rápidos e intensos e voltámo-nos a beijar de forma a abafar os nossos gemidos ao atingir o orgasmo. O Enzo deixou-se cair para trás na cama e eu deixei-me cair também por cima do peito dele, ouvindo o coração dele a bater bastante depressa ao mesmo tempo que o seu peito subia e descia mais rapidamente que o normal.

- Desta vez estiveste bastante melhor. – provoquei com um meio sorriso enquanto me esticava para lhe beijar o maxilar.

- Tu também não estiveste nada mal. – respondeu de volta com um meio sorriso nos lábios antes de conseguir apanhar o meu lábio inferior com os dentes.

Afastei a cabeça para trás de forma a conseguir soltar-me e saí de cima dele – Temos de ir tomar o pequeno-almoço. – relembrei ao ver as horas – Ou vão estar todos à nossa espera.

O Enzo levantou-se preguiçosamente da cama e caminhou até onde eu me encontrava a remexer nas roupas que tinha na mala para escolher aquelas que ia vestir naquele dia – Não faz mal, eles que esperem. – murmurou contra o meu ouvido – Eu tenho de tomar banho, tu tens de tomar banho, e podemos poupar água se o tomarmos juntos.

- Mas temos de nos despachar. – disse-lhe bastante seriamente enquanto pousava a roupa que já tinha escolhido por cima da cama que se encontrava completamente desmanchada – Estou a falar a sério.

- Eu sei que sim. – respondeu o Enzo com um meio sorriso nos lábios enquanto me puxava para a casa de banho.

**

Claro que por mais que eu dissesse ao Enzo que nos tínhamos de despachar, ele fazia com que eu perdesse todo o meu ar sério e força de vontade assim que passava os lábios pela junto ao meu ouvido e as suas mãos percorriam o meu corpo; e por isso mesmo acabámos por demorar o dobro do tempo a tomar banho.

Caminhámos de mãos dadas pelos longos corredores até ao salão onde era servido o pequeno-almoço e onde já se encontravam todos à nossa espera. Não demorou nem um minuto a que os outros quatro reparassem em toda a minha proximidade com o Enzo mal entrámos naquele espaço.

- Então agora vocês estão juntos? – perguntou o Santiago com aquele seu ar de enfadado mal eu e o Enzo nos sentámos à mesa. A Meg semicerrou-lhe os olhos e ele apenas encolhi os ombros – Só estou a tentar perceber. – disse ele olhando fixamente para o irmão.

O Enzo assentiu com a cabeça e sorriu-me antes de voltar a olhar para o resto do grupo – Sim, estamos juntos.

- Fico muito contente por vocês. – sorri de volta à Lola.

- Eu também fico muito feliz por vocês estarem finalmente juntos. – olhei para a Meg quando a ouvi e confesso que nunca tinha pensado ouvi-la dizer aquilo mas em contra partida eu também nunca tinha gostado da relação dela e mesmo assim agora já a conseguia aceitar – Já estava na altura.

- Parabéns meu. – o Diego sorriu e bateu nas costas do Enzo que se encontrava sentado mesmo ao seu lado.

- Sim, parabéns. – foi a única coisa que o Santiago disse sem sequer olhar para nós antes de começar a comer.

**

A semana de férias em Portugal passou a correr e assim que voltámos para Madrid tivemos de nos reabituar ao nosso quotidiano e ao horário das aulas, coisa que nenhum de nós estava com qualquer vontade mas era absolutamente necessário.

O Enzo e o Diego estavam a ter aulas na outra ponta da universidade enquanto eu, a Meg e a Lola tínhamos aulas na outra ponta, pelo que apenas nos íamos conseguir encontrar todos à hora do almoço. Na universidade ainda ninguém sabia da minha relação com o Enzo e tendo em conta que se tratava do nosso primeiro dia de aula, que ainda não tínhamos estado juntos, e mesmo estando nós andávamos sempre juntos, era normal. Estava ligeiramente preocupada, não que as pessoas soubessem da minha relação, a minha preocupação recaia apenas numa pessoa: o Martin.

Vi-me obrigada a sair a meio de uma para ir à casa de banho e quando estava prestes a sair do pequeno cubículo quando a conversa das duas raparigas que tinham entrado depois de mim, me prendeu assim que ouvi aquele nome que há muito tempo não ouvia e do qual não tinha grande conhecimento.

- Soubeste que a Julia voltou? – fiquei estática durante alguns segundos, sabendo perfeitamente que se podia tratar de uma Julia qualquer e não necessariamente daquela Julia – Coitada, ouvi dizer que veio só para visitar a família durante as férias mas que vai voltar para Sevilha. Se fosse eu nem me queria aproximar de Madrid, às tantas ainda voltava a encontrar o Martin e sabe-se lá o que é que aconteceria.

- A sorte dela da outra vez foi o Enzo ter aparecido. – mordi o interior da bochecha à medida que ia ouvindo mais sobre aquele assunto mas ainda assim continuava sem perceber o que se tinha passado – Também nunca tinha visto o Martin naquele estado, nem a ser assim.

- Eu depois ouvi dizer que aquilo não foi só da bebida; acho que ele também andou a comprar umas coisas. Mas de qualquer das maneiras, pobre Julia. Se o Enzo não tivesse aparecido a rapariga tinha sido violada naquela festa.

- Podes crer. Por isso é que não gosto nada quando andam a falar mal dele. Ainda por cima… já olhaste bem para ele? Quem me dera que o Enzo se interessasse por mim…

Quando o espaço ficou em completo silêncio ganhei finalmente coragem para abrir a porta do cubículo e sair do mesmo. Aquilo que tinha ouvido não passavam de meros rumores e eu sabia que não podia confiar em tudo o que ouvia vindo de qualquer pessoa mas ainda assim. O Enzo tinha-me estado sempre a dizer que o Martin não era assim tão boa pessoa como parecia e para eu lhe falar sobre a Julia e agora aquela conversa que eu tinha ouvido…

Lavei as mãos e aproveitei também para molhar ligeiramente a cara, tentando acalmar a sensação de calor que se tinha apoderado do meu corpo. Fechei os olhos com força e respirei fundo tentando ao máximo afastar os pensamentos que a minha mente começava a formar daquela noite da qual eu nem sabia todos os pormenores mas que me fazia recordar o meu próprio passado que eu queria esquecer.

Ao sentir-me ligeiramente mais calma acabei por sair da casa de banho e não podia ter aproveitado melhor o timming.

- Sky! – mordi o lábio inferior com força enquanto o meu cérebro tentava arranjar um plano de fuga mas já não havia nada a fazer; o Martin já me tinha visto e já estava a caminhar na minha direção para eu desaparecer e fingir que não o tinha visto ou ouvido – Como é que foram as férias? – perguntou ele com um sorriso antes de me beijar a bochecha.

- Correu tudo bem. – respondi forçando um sorriso – E as tuas?

- Tinham sido melhores se tivesse passado algum tempo contigo. – aquele seu sorriso característico já não me aquecia o coração como antes; vistas bem as coisas acho que nunca tinha tido esse efeito em mim, eu é que queria que tivesse – O que é que se passa? Não pareces muito bem.

- Quem é a Julia?

Não consegui impedir que a pergunta me escapasse dos lábios e o Martin pareceu tão em choque como eu por aquele assunto ter vindo à baila. A boca do Martin abriu e fechou algumas vezes enquanto ele parecia pensar em algo para dizer.

- Quem é que te falou na Julia?

- Ouvi umas raparigas a falar na casa de banho e o Enzo-

- Claro, o Enzo. – o Martin riu secamente – Ouvi dizer que foram de férias todos juntos. Não me digas, ele finalmente conseguiu convencer-te a ires para a cama com ele como fez com as outras todas?

- Bem, ao menos não é ao Enzo que o acusam de quase violar uma rapariga. – atirei em resposta e rapidamente me arrependi daquilo que disse. Abri a boca para me desculpar mas não cheguei a emitir qualquer som.

- Eu não estava em mim nessa noite e ela não estava assim tão importada quanto isso. Mas claro que o Enzo tinha de aparecer e armar-se em salvador da pátria. – abanei a cabeça para mim própria sem saber como é que já tinha achado que o rapaz que estava ali à minha frente era perfeito para me fazer esquecer o passado e ser o rapaz com quem eu queria estar – Enfim, não estejas à espera que ele seja o teu príncipe encantado. Ele farta-se de todas elas quando as coisas começam a ficar muito sérias ou simplesmente quando encontra uma nova para levar para a cama. – o Martin voltou a sorrir mas desta vez o sorriso não tinha nada de carinhoso – Ele esteve com a Laura dois meses por isso boa sorte a ultrapassares esse tempo.

- Não sei como é que alguma vez pensei que eras boa pessoa. O Enzo tinha razão sobre ti, não passas de um fingido.

Passei por ele pronta para me ir embora quando senti o meu braço a ser agarrado com força – Porque o Enzo também é tão boa pessoa. – falou ironicamente o Martin. Tentei afastar-me quando ele levantou uma mão de forma a colocar uma mecha do meu cabelo atrás da orelha mas o aberto que ele tinha no meu braço impedia-me de mexer – Boa sorte com isso, princesa.

Larguei-me finalmente do seu aperto e afastei-me com alguma velocidade, querendo chegar o mais rapidamente possível a um espaço com mais pessoas onde me conseguisse sentir ligeiramente mais segura.

- Hey hey! – parei de repente quando os braços do Enzo se encontraram ao redor da minha cintura, impedindo-me de andar para longe – O que se passa?

Fechei os olhos e mantive-me encostada ao peito dele enquanto sentia os seus lábios a roçar ao de leve pela minha testa. Não me importava minimamente que estivéssemos num sítio com bastante gente da universidade e que o mais certo era estarem a olhar para nós, porque estar nos braços do Enzo era exatamente isso que eu queria naquele momento e era assim que me sentia segura depois do que tinha acabado de acontecer.

- Não estavas em aula? – perguntei tentando afastar a sensação que ainda tinha no peito e na barriga.

- Saímos mais cedo mas ouvi dizer que tu ainda devias estar. Baldaste-te para me ver? – perguntou ele com um meio sorriso nos lábios.

- Fui à casa de banho. – respondi afastando-me a custo dele – Encontramo-nos a seguir?

Já estava completamente livre dos braços do Enzo quando ele me agarrou novamente na mão e me puxou para si. Os nossos lábios juntaram-se e isso pareceu bastar para afastar todos os medos e receios do meu corpo – Podes crer que sim.

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publicado às 20:52