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Depois de acordar e ver que a minha irmã não estava ao meu lado na cama não foi difícil calcular onde é que ela estava. Com o Bryan, obviamente. Por isso levantei-me, tomei banho e depois de escolher uma roupa para vestir, tomei rapidamente o pequeno-almoço e sai de casa.
Estacionei o carro à frente da oficina e entrei na mesma, vendo longo o Dominic a falar com um cliente. Assim que me viu a expressão dele mudou e passado uns cinco minutos o cliente estava despachado e ele aproximava-se de mim – Devlin. O que se passa?
Eu conhecia o Dom desde que éramos pequenos e gostava bastante dele ainda mais quando tinha ficado a saber que ele e a minha melhor amiga estavam juntos e ela estava bastante feliz. Mas depois do que tinha acontecido entre eles, parte de mim tinha-o odiado um bocadinho mas isso tinha passado quando tinha visto o quanto a Reed estava a sofrer, porque sabia que ela estava a sofrer por não estar com ele.
- A Reed precisa de ti. – ele abriu a boca para falar mas eu não deixei – Não estás a perceber, ela precisa mesmo de ti. Ela perdeu o bebé, Dom.
- O quê? – as sobrancelhas loiras do Dom juntaram-se em confusão – O que é que aconteceu?
- Ela teve um aborto espontâneo. – expliquei – Ela não queria que tu soubesses mas já passou uma semana e estou farta de a ver sofrer, tens de fazer alguma coisa. Ah e ela não pode saber que fui eu que te disse se não ela vai passar-se. Não faças porcaria outra vez porque eu adoro-te mas adoro-a mais.
Estava à espera que ele me respondesse num tom mais mal-educado mas ele era o Dom, não era o Bryan que achava sempre que tinha razão. Como se tu não gostasses disso… Por isso é que já devia de estar à espera do abraço forte que ele me deu - Obrigado, Devlin.
Assim quando a chamada da Reed chegou, não foi grande novidade para mim que as coisas estivessem resolvidas, mas tinha que fazer o meu papel – Eu não fiz nada! – disse novamente – Por amor de deus, o que é que eu podia fazer? Exato, nada.
- Claro que não. – ouviu-se do outro lado da linha o que me fez encolher os ombros e sorrir – Tenho que ir, meninas. Amanhã vemo-nos. Beijinhos.
Pousei o meu telemóvel de volta à mesa-de-cabeceira e deitei-me de costas na cama, tapando os olhos com o braço – Sinto-me tão mais calma agora.
- Aquilo que tu fizeste foi adorável, Dev. – afastei o braço da cara para olhar para a minha irmã – Eu sei que te custa mais mostrar carinho mas foste óptima. – sorri-lhe de volta e encolhi os ombros – Vou para a minha cama, dorme bem.
Apoiei-me nos cotovelos para me elevar ligeiramente na cama e olhar para a Deborah – Como é que correu a conversa com o Bryan? Eu sei que prometemos não discutirmos por ele mas ele não deixa de ser o teu melhor amigo e eu não deixo de ser a tua irmã, podes falar sobre ele à vontade.
Fiquei a olhar para a minha irmã assim que ela parou à porta do meu quarto por uns segundos, a ponderar no que eu tinha acabado de dizer. Eu conhecia-a tão bem que sabia que apesar de ela querer falar sobre o Bryan, tinha medo de ao fazer magoar-me. E claro que magoava mas eu tinha que viver com isso. Assim que ela caminhou novamente em direção à minha cama, sentei-me na mesma para lhe dar mais espaço e fiquei em silêncio à espera que ela começasse.
- Correu bem com o Bryan, ele pediu desculpa e resolvemos as coisas… eu estou preocupada porque… oh esquece, deve ser uma parvoíce.
- Deborah, quando tu estás preocupada nunca é uma parvoíce.
- Quando estava à espera do Bryan entrou no café um homem. Demorei a perceber de onde é que o conhecia mas depois lembrei-me de onde. Vi-o no festival a que fomos, no início do verão. Ele veio contra mim. Posso estar obcecada e ser tudo um acaso mas não sei…
Estiquei-me para a frente e agarrei nas mãos da minha irmã com força – Temos de falar com o pai e a mãe. Sabes que eles conseguem descobrir se isto é um acaso ou não. – mordi o lábio inferior antes de falar naquilo que ninguém falava debaixo daquele teto – Sabes muito bem os problemas que a mãe teve antes de casar com o pai, isso pode estar a voltar, nunca se sabe.
Antes da minha mãe e do meu pai se conhecerem a minha mãe tinha sido casada com um homem muito importante no Texas. Os primeiros anos de casamento tinham sido óptimos mas as coisas tinham mudado depois disso, ele tinha-se tornado agressivo, tinha começado a bater-lhe. Ao princípio ela escondia as negras, fingia que nada se passava até que tinha chegado a altura de dizer basta. E desde essa altura tinha ido viver com o meu tio e tinha feito de tudo para conseguir o divórcio. Tinha conseguido mas tinha sido muito difícil, principalmente porque ele não lhe queria dar o divórcio. O meu pai é que a tinha ajudado a consegui-lo e bem, deixaram de se armar em parvos e admitiram finalmente que queriam ficar juntos.
Tínhamos ouvido esta história com catorze anos e depois disso não se tinha voltado a falar do que tinha acontecido no Texas, nunca mais. Mas e se o que tinha acontecido no Texas tinha voltado agora para a Austrália? Podia não ser nada mas podia ser.
- Não sei… não os quero preocupar e depois não ser nada.
- Deixa-te disso, Deb. Amanhã vamos falar com eles. Sabes que mais vale prevenir que remediar.
Não havia muitas coisas da qual eu tivesse medo mas que isto fosse verdade era uma delas. Uma coisa que eu sabia muito bem era que o passado tinha que ficar no passado devia ficar no passado ou as coisas iam correr mal.
- E agora deixei-te preocupada. – a Deborah suspirou – A sério, não te preocupes com isto. Falamos com eles mas não vai passar de conspirações estúpidas e sem sentido. Coitado do homem.
Abracei-a com força antes de a deixar levantar-se para sair de vez do meu quarto e ir para o seu. Enfiei-me debaixo das mantas assim que a porta se fechou e estiquei a mão para desligar o candeeiro no preciso momento em que o meu telemóvel tremeu com uma mensagem.
Suspirei e apaguei a mensagem mesmo sem a ver. Era do Bryan e bastava-me saber que era dele para não a querer ler a mensagem. Não conseguia fingir que ele não existia e esquecer o que se tinha passado com ele se seguisse as coisas normalmente, fingindo que estava tudo bem entre nós e que podíamos ser amigos. Não podíamos. E por mais mau que isso fosse, ansiava que o verão chegasse ao fim para voltar para a universidade em França e afastar-me daqui. Virei-me de barriga para baixo e enterrei a cara na almofada, podia ser que me conseguisse sufocar, poupava todo o drama que se estava a passar na minha vida neste momento.
Juntei as sobrancelhas quando comecei a ouvir uma batida na janela do meu quarto. Ao princípio pensei que fosse um ramo ou algo do género mas depois percebi que não. Era filha de dois polícias e por isso estiquei a mão e abri a gaveta que tinha ao lado da minha cama, tirando a minha pistola de dentro da mesma. Sempre tinha sido ensinada a defender-me e a disparar primeiro, perguntar depois, auto-defesa é melhor que homicídio.
Aproximei-me da janela calmamente e depois de olhar lá para fora guardei a pistola no elástico dos meus calções antes de puxar a janela para cima – Estás parvo? – perguntei para baixo onde se encontrava o Bryan a olhar para mim com admiração, certamente por não estar à espera que eu lhe abrisse a janela.
- Mandei-te mensagem. – disse ele como se fosse uma explicação espectacular.
- E eu ignorei-a o que significa que não quero falar contigo, coisa que já disse uma vez. – o problema de viver numa casa de família, ou seja onde vivia toda a minha família era que tínhamos de falar baixo ou ainda acordávamos alguém com a nossa conversa.
- Quero ser teu amigo, Devlin. Eu percebo que não queiras que tenhamos algo mais mas quero ser teu amigo.
- E eu quero conhecer e casar com o príncipe Harry mas infelizmente nem todos os nossos desejos se realizam.
- Va lá. Amigos. Sabes que conseguimos fazer isso. Estamos os dois a pensar na tua irmã, nenhum de nós vai portar-se mal.
Mas ai estava o problema, mesmo a pensar na minha irmã, quando se tratava do Bryan, não sabia se conseguia não portar-me mal.
- Está bem. – disse com um revirar de olhos – Mas agora deixa-me dormir ou começo aos tiros. E não estou a fazer bluff.
E a Devlin é ou não adorável? Claro que é. É bastante provável que se não fosse por ela o Dom tinha demorado muito mais tempo a ir ter com a Reed e a fazerem as pazes.
Quanto à Deborah... será que está mesmo com a mania da perseguição ou o passado dos pais delas vai ter alguma coisa a ver com o futuro delas?
E como não podia deixar de ser, Bryan e as suas visitas inesperadas ahah. Ao que parece está finalmente tudo bem entre todos, vamos esperar para ver quanto tempo isso dura e.e
Espero que tenham gostado, obrigada por todos os vossos comentários!
Assim que voltei para casa, encheram-me de mimos. E eu não me queixei, especialmente no estado em que me encontrava, depois de tudo o que tinha acontecido era tudo o que eu queria. E foi assim que passei o dia.
Enfiei-me debaixo das mantas da minha cama e sem querer o meu olhar parou na fotografia que tinha em cima da mesa-de-cabeceira. Aquela foto já tinha pelo menos três anos mas ainda me lembrava como se fosse ontem daquele dia. Eu estava sentada no colo do Dom e estava a rir-me de uma piada parva que ele tinha contado. O sorriso de felicidade dele era a coisa mais adorável do mundo.
Suspirei e meti a mão fora dos cobertores para virar o vidro da moldura para baixo. Pousei a mão no meu telemóvel para mandar uma mensagem às gémeas mas achei que era melhor não. Precisava de algum tempo sozinha aqui em casa com a minha família até conseguir voltar a sentir-me eu. Isso ainda não tinha acontecido e achava que estava longe de acontecer.
Tinha acabado de fechar os olhos para adormecer quando ouvi uma barulheira do lado de fora do meu quarto. Juntei as sobrancelhas e afastei as mantas de cima de mim, agarrando de seguida no robe para vestir o mesmo e só quando saí para o corredor é que percebi quem é que estava a fazer uma confusão enorme.
- Eu quero vê-la! Não me pode impedir de a ver, se ela não quiser falar comigo eu vou embora.
- Vais ter de sair, Dominic. A Reed não te quer ver e ela está a descansar.
- Ouviste a minha irmã? Vai-te embora, rapaz.
Eu tinha a certeza que tinha caminhado sem fazer qualquer barulho mas assim que cheguei à porta da sala o olhar de toda a gente foi posto em mim pelo que percebi que talvez não tivesse sido assim tão silenciosa. No meio da sala estava o Dom e as minhas mães, no meio de uma discussão por causa de mim.
- O que é que queres, Dom? – perguntei cruzando os braços enquanto olhava para ele.
- Falar contigo. Eu sei que não mereço, Reed, mas quero falar contigo. O Bryan contou-me… - afastei o olhar quando o vi a olhar para a minha barriga – Fui um idiota mas quero falar contigo. Por favor, Reed. Ouve-me e depois podes mandar-me embora, mas ouve-me.
Continuava a sentir todos a olhar para mim, à espera que eu tomasse uma decisão. Parte de mim queria gritar com ele e mandá-lo ir embora depois da maneira como ele me tinha feito sofrer quando não me tinha apoiado e por não ter estado lá quando eu tinha passado pelo aborto. Mas a outra parte de mim queria falar com ele, essa parte tinha saudades do Dom e de estar com ele. E infelizmente, ou felizmente, ainda não sabia bem, essa última parte ganhou à primeira.
- Tudo bem. Vamos falar. – disse passando por ele e dirigindo-me para a porta da rua – Mas cá fora. – sabia que elas não o iam deixar em paz se conversássemos lá dentro.
Senti o Dom a caminhar atrás de mim, completamente em silêncio. Depois de o ouvir a fechar a porta, sentei-me no banco de baloiço que tínhamos no alpendre – Podes sentar-te. – disse-lhe enquanto o via a olhar para mim com aquele ar de cachorro abandonado.
- Reed. – continuei a olhar para a frente. Não conseguia olhar para ele porque sentia as lágrimas a picarem-me os olhos e se olhasse para ele sabia que as lágrimas iam começar a escorrer pelas minhas bochechas – Desculpa. Eu sei que pedir desculpa não chega mas quero que saibas que é sincero. Eu devia ter dito logo que te apoiava e que queria estar contigo, formar a nossa família, mas tive medo… e saber que passaste por tudo sozinha… não é justo e eu devia ter estado contigo. Eu tinha que estar contigo. – olhei para ele e mordi o lábio inferior com força – Eu amo-te, Reed. Eu fui um idiota mas amo-te e quero lutar por ti.
Ficámos em silêncio no que pareceu uma completa eternidade. O Dom olhava para mim com os olhos brilhantes e o seu ar sincero enquanto eu tentava pensar no que dizer ou fazer. Eu amava-o, não havia dúvida disso, sempre o tinha feito e apesar de ele me ter desiludido, isso não tinha mudado. Mas… e se voltasse a acontecer? E se eu voltasse a precisar do Dom e ele não me apoiasse?
- Por favor, dá-me outra oportunidade.
- Dom… não sei. – puxei as pernas para cima e agarrei-me às mesmas – Eu amo-te, isso não mudou mas eu confiei em ti e desiludiste-me. E se voltar a acontecer? Não consigo passar pelo mesmo. Doeu tanto desta vez…
- Eu sei… e não posso prometer que não vou voltar a desiludir-te mas posso prometer que vou fazer de tudo para não o fazer.
Voltei a baixar as pernas e sentei-me de frente para ele. Amar era isto mesmo, amar alguém com as suas virtudes e os seus defeitos. Perdoar e ser perdoado. Ninguém é perfeito e por isso mesmo é que quando se ama alguém temos de aprender a viver com isso. E eu amava o Dom, muito.
Lancei-me para o Dom e rodeei o seu pescoço com os meus braços, sentindo de seguida os braços dele à volta da minha cintura para me puxar mais para si num abraço apertado.
- Desculpa, amor. – pediu ele enquanto passava uma das mãos pelo meu cabelo, ainda a apertar-me bastante contra o seu peito – Devia ter estado lá quando… quando o nosso bebé… - cheguei-me mais para ele, apertando-o com mais força ainda – Não vou voltar a ir embora, prometo. E vamos ter muitos bebés. Eu quero ter muitos bebés contigo. Quero que sejam inteligentes como tu e lindos como eu.
Soltei uma gargalhada enquanto sentia as lágrimas a escorrer pelas minhas bochechas. Eu amava-o como nunca tinha amado ninguém, amava-o completamente. O Dom era uma parte de mim que eu não queria perder nunca.
- Temos de ir lá dentro. – limpei as lágrimas com as costas da mão e puxei a mão do Dom para que fizesse o mesmo – Agora vais ter de conseguir que elas te perdoem.
Custou um bocado mas lá acabou por acontecer. Tanto a Cheryl como a Jennifer, apesar desta última ainda não o conhecer muito bem, sabiam o quanto o Dom significava para mim, o quanto me fazia feliz, mais do que me tinha feito triste e desiludida. E depois das pazes feitas, a Cheryl deu-lhe autorização para que dormíssemos juntos esta noite, mas que nos portássemos bem, claro. Como se eu fosse fazer sexo debaixo do mesmo teto que a minha família, credo!
Voltei a enfiar-me na minha cama mas desta vez com um sorriso nos lábios. Esperei que o Dom despisse a roupa dele até ficar de boxers para se juntar a mim. Cheguei-me mais para ele e deitei a cabeça no seu peito.
- Não sabes como eu estou feliz por estarmos juntos outra vez. – levantei a cabeça para olhar para o Dom assim que ele falou e sorri ao ver o seu sorriso.
- Sei sim porque eu também estou. – estiquei-me até lhe conseguir beijar o maxilar e voltei a chegar-me para baixo depois de o fazer.
Deixámo-nos ficar ali assim, agarrados um ao outro enquanto ele passava os dedos pelo meu cabelo e eu lhe fazia festinhas no peito despido. Pareciam que tinha passado muito tempo desde que tínhamos estado assim. Estava feliz por estarmos juntos novamente, muito feliz.
Levantei a cabeça e voltei a sorrir assim que vi que o Dom tinha adormecido. Sentia-me bem, sentia-me feliz, muito feliz. Nunca tinha sido o tipo de rapariga que se apaixonava por um rapaz e não via mais nada à frente a não ser ele e continuava a não sê-lo mas já não conseguia ver a minha vida sem o Dom nela.
Estiquei-me devagarinho até à mesa-de-cabeceira, tentando não me mexer muito para não o acordar apesar de saber que ele tinha sono pesado, e agarrei no meu telemóvel. Não precisei de ir aos contactos ou marcar o número porque já tinha o número na marcação automática.
- Reed? Oh meu deus, como é que estás? – pausa do outro lado da linha – Deb! É a Reed! - ri-me baixinho com todo o entusiasmo delas. Eram as minhas melhores amigas e também não conseguia ver a minha vida sem elas – Estás em alta-voz. O que é que aconteceu?
- O Dom veio cá. – falei num tom mais baixo que o normal – Fizemos as pazes.
- Claro que fizeram. – sabia que a Devlin estava a sorrir com um ar convencido.
- Devlin, o que é que fizeste? – perguntei de sobrancelhas juntas.
- Nada! – quase gritou ela do outro lado da linha o que me fez perceber que ela tinha mesmo feito alguma coisa.
- Devlin!
A pedido de muitas famílias, este casal fez as pazes e a pedido também de muitas famílias ahah o Dom disse que queria muitos bebés com a Reed! São mesmo românticos argh
Eu adoro a amizade destas três e esta conversa ao telemóvel não só me deixou um sorriso na cara como ainda me fez rir. Espero que tenham gostado do capítulo e muito obrigada por estarem a seguir a história! Beijinhos!
Depois do que tínhamos visto no bar e da nossa saída apressada do mesmo, eu tinha conduzido de volta para nossa casa. Sentia-me mal, principalmente por causa da Reed. Depois de tudo o que ela tinha passado, esta noite era suposto ser para ela se divertir e esquecer os problemas mas ao invés disso os problemas tinham-lhe aparecido mesmo à frente. E acompanhados.
Já para não falar que o Bryan também lá estava, depois de mal me ter respondido às mensagens que eu lhe tinha mandando ao longo da semana anterior. As coisas tinham estado perfeitas para todos nós e de repente tinha-se tudo estragado completamente.
Subimos as escadas de madeira em silêncio absoluto até ao quarto onde dormíamos sempre todas juntas. Só depois de fechar a porta é que percebi que a Reed se tinha sentado na cama e estava a chorar.
- Reed… - a Devlin passou a mão pelas costas dela enquanto a tentava acalmar – Merda, a culpa foi minha. Não devíamos ter ido sair.
- Não sejas parva. – a minha melhor amiga passou as costas da mão pelas bochechas molhadas e pelo nariz – A culpa não foi tua e vamos esquecer isto e dormir, estou cansada.
E isto significava que ela não queria nem ia falar mais no assunto, não valia a pena insistir. Tal como a minha irmã, elas eram demasiado teimosas e quando diziam uma coisa era a sério. Estávamos as três infelizes e por causa de rapazes, como é que isso tinha acontecido?
Despi a minha roupa e vesti o pijama, enfiando-me na cama de seguida. Pior do que isto era saber que o verão estava quase a acabar e sem a Devlin as coisas iam tornar-se piores, ia passar a ser eu e a Reed, deprimidas com o mundo. Sim, porque com a Devlin, mesmo ela não estando bem, as coisas tendiam a ser mais animadas.
Ao contrário do que estava à espera, mal fechei os olhos adormeci. Só voltei a acordar na manhã seguinte já com o sol a entrar pela janela. A primeira coisa que reparei foi que a cama estava mais vazia e quando olhei por cima do meu ombro só vi a Devlin, ainda a dormir como seria de esperar, agarrada à almofada. Juntei as sobrancelhas e tentei ver se a Reed tinha ido para a casa de banho mas o meu olhar prendeu-se num papel que estava na mesa-de-cabeceira ao meu lado.
Bom dia, Deb. Sabes que adoro a vossa companhia mais que tudo mas esta semana que passámos juntas ajudou-me imenso e está na altura de eu voltar para casa, elas estão preocupadas comigo. Manda beijinhos à Devlin e eles dizem que eu nunca preciso de agradecer, mas agradece na mesma à tua família. Preciso de um tempo para mim mas assim que me sentir novamente eu, falo com vocês.
Reed.
Pousei novamente a carta e suspirei. Era horrível ver a minha melhor amiga assim, a passar pelo que estava a passar com o namorado e com o que tinha acontecido ao bebé que ia ter. Mas o pior de tudo era eu não saber o que fazer. Ia dar-lhe tempo e obrigar a minha irmã a dar-lhe tempo também.
Olhei novamente para a Devlin e sorri ao vê-la ainda a dormir ferrada. Estiquei-me na sua direção e beijei-lhe a bochecha, coisa que já não fazia desde que éramos miúdas. Levantei-me da cama e saí do quarto, indo até ao meu para tomar um duche e mudar de roupa.
Apesar de ser verão o dia estava um pouco escuro, com algumas nuvens no céu e sem estar o calor habitual. Viver na Austrália era muito bom mas vivermos perto do mar também tinha os seus defeitos.
No preciso momento em que me ia sentar num dos bancos da cozinha, ouvi o meu telemóvel apitar. Tirei o mesmo do bolso e abri a mensagem nova que tinha, juntando as sobrancelhas assim que vi o nome em cima da conversação.
Preciso de falar contigo, encontramo-nos no café das panquecas? B.
Fiquei alguns segundos apenas a olhar para o balão amarelo que me aparecia à frente, sem saber o que fazer. Depois da semana anterior e da noite passada, não tinha a certeza de querer falar ou ver o Bryan. Mas ele era o meu melhor amigo e merecia pelo menos explicar-se.
Sim. Dez minutos
Agarrei num post-it que tinha no frigorífico e escrevi que ia à cidade para não preocupar ninguém. A nossa família era muito vasta mas ser filha de pais polícias e pertencer a uma família muito unida, fazia com que a preocupação uns pelos outros fosse levada ao nível extremo na maioria das vezes.
Demorei oito minutos a chegar e felizmente foi um instante até arranjar lugar para estacionar o carro. Começaram a cair umas pinguinhas de chuva e por isso estiquei-me até ao banco de trás para vestir um casaco de malha antes de sair do carro e entrar no café onde ia tomar o pequeno-almoço com o Bryan.
Caminhei até uma mesa vazia mais ao fundo do estabelecimento apenas porque não gostava de estar sozinha e estar na zona mais próxima da porta. Estando sozinha na mesa, pousei o queixo na minha mão e meti-me a olhar em volta, sem mais nada para fazer. Como sempre, o Bryan estava atrasado de certeza.
Assim que ouvi a campainha que se encontrava por cima da porta do café a fazer barulho, olhei na direção da mesma na esperança de que fosse o Bryan, mas não era ele. Juntei as sobrancelhas quando aquele homem que tinha acabado de entrar me parecia bastante familiar mas não me recordava onde é que o tinha visto.
Não tive mais tempo para pensar nisso porque passados uns segundos a porta voltou a abrir-se e desta vez era o Bryan. Assim que me viu, caminhou na minha direção com aquele ar natural dele, o ar que fazia com que as duas raparigas que se encontravam sentadas numa mesa perto da porta parassem de comer para olhar para ele. O mesmo ar que de certeza tinha levado a que na noite anterior ele e o primo tivessem ido com um grupo de raparigas ao bar.
- Obrigado por teres vindo, Deb. – se eu tivesse estado a hibernar na última semana, o sorriso dele tinha-me feito pensar que nada tinha mudado, que tudo tinha estado normal, nós a falar todos os dias e a encontrarmo-nos para fazer coisas parvas que só nós gostávamos, que eu não tinha dito que gostava dele mais do que como amigo e que ele não tinha dito que a nossa relação não ia mudar por causa do que eu sentia.
Antes que ele continuasse, falei eu – Eu percebo que seja difícil esquecer que eu sinto mais por ti do que amizade mas não tens de parar de me falar por causa disso. Especialmente quando foste tu quem disse que as coisas não iam mudar.
As sobrancelhas pretas do Bryan juntaram-se enquanto ele me olhava – Não foi nada disso, Deborah. Passei a última semana atolado de trabalho e com um primo deprimido a viver debaixo do mesmo tecto que eu. – abri a boca para falar da noite anterior mas foi a vez dele de não me deixar falar – E ontem à noite nós não íamos com aquelas raparigas, elas é que nos viram à entrada e começaram a falar connosco. Eu prometi pagar-lhes um shot para ver se elas nos deixavam em paz, mais nada.
- Já sabem o que vão pedir? – perguntou a empregada que se aproximou da nossa mesa. Pedi as minhas habituais panquecas e uma meia de leite, ouvindo de seguida o Bryan a pedir o mesmo. A rapariga foi-se embora, deixando-nos novamente sozinhos.
- Eu também tenho estado com a Reed, ela está péssima mas mesmo assim tentei falar contigo durante este tempo. – suspirei – Ela perdeu o bebé, Bryan. Ela está devastada com o Dom e com isto.
- Não sabia. Tenho estado a tentar animá-lo já que tentar partir aquela cabeça dura não resulta. – resmungou ele com um revirar de olhos. Baixei o olhar para a mesa assim que a mão do Bryan pousou em cima da minha – Desculpa, Deb. Sabes que és a rapariga mais importante para mim, és a minha melhor amiga.
Assenti com a cabeça e sorri-lhe. Não conseguia ficar chateada muito tempo fosse com quem fosse, não tinha a capacidade de guardar rancor da minha irmã. E se havia tanta coisa em que eu a invejava, esta não era uma delas.
Olhei para o lado quando a empregada se voltou a movimentar pelo meio das mesas mas em vez de vir para a nossa, foi até à mesa onde o homem que tinha entrado antes do Bryan o fazer. Quando ele respondeu à rapariga que apenas queria um café lembrei-me onde é que o tinha visto. No festival de praia.
- Está tudo bem? – olhei para o Bryan quando falou novamente e assenti com a cabeça enquanto lhe sorria de volta – Ainda bem. Eu estou esfomeado. – queixou-se enquanto se encostava para trás e levava as mãos à barriga.
- Nem penses que te vou dar a minha comida. – disse-lhe rindo-me.
- Não precisas de deixar, eu roubo-a. – atirei-lhe um guardanapo de papel embrulhado numa bolinha e antes que ele pudesse mandá-la para mim, a rapariga apareceu novamente na nossa mesa, com o tabuleiro cheio com os nossos pedidos.
Então e.e afinal as coisas não eram como pareciam na saída em que se encontraram todos, apesar de os primos não deixarem de ser teimosos porque não vão falar com as meninas deles mas mesmo assim..
E fiquem atentar porque o drama da história (eu que já houve muito drama mas o principal) começa neste capítulo. Alguma sugestão ou ideia do que é e do que se vai passar?
Obrigada pelos vossos comentários! Beijinhos
Tinha passado uma semana desde que tinha recebido uma chamada da Reed a pedir-me para ir ao hospital vê-la. Tinha pegado no carro a correr, juntamente com a Deborah enquanto toda a minha família ia nos outros, todos bastante preocupados com ela. E havia motivos para isso.
A minha melhor amiga estava grávida, coisa que eu ainda não sabia até àquele momento e preferia não ter sabido porque o que nos levou ao hospital foi a Reed ter perdido o bebé. Aborto espontâneo, disseram as enfermeiras, devido a muito stress e emoções muito fortes.
Ao longo desta semana ela tinha passado muito tempo em nossa casa, umas mini-férias para a fazer esquecer do sucedido. E felizmente estava a resultar. Ela continuava mal pelo que tinha acontecido tanto com o bebé como com o Dom e tinha-se recusado a contar-lhe o que se tinha passado, por mais que nós insistíssemos. E apesar de a maioria das vezes eu fazer o que era melhor para ela mesmo que ela não o visse no momento, desta vez decidi aceitar a sua decisão e não me meter, era o melhor.
- Anda lá, Reed. Vamos sair, temos passado a semana toda enfiadas em casa. E vamos só ao bar. – disse enquanto abria o meu roupeiro e tirava um vestido azul escuro curto. Ao longo desta semana tinha estado tão preocupada com os problemas da minha melhor amiga que felizmente nem tinha tido tempo para pensar nos meus. Ou melhor, no meu problema, um problema muito giro e por quem eu nutria sentimentos chamado Bryan.
- És uma chata, Dev. – foi a resposta dela mas levantou-se da cama e caminhou até à casa de banho para tomar um duche.
Assim que a porta se fechou atrás dela, o meu olhar e o da Deborah encontraram-se. Nós sabíamos que a tínhamos que animar, fazer o máximo para que ela voltasse a ser a Reed de antes, aquela que passava a vida a sorrir e se ria, a Reed que eu desconfiava que ela já nem se lembrava.
Meia hora depois estávamos as três prontas e descíamos as escadas da vivenda da família Parker para o rés-do-chão, onde estava toda a família na sala de estar como de costume. Despedimo-nos de todos antes de sairmos para o exterior, entrando no carro da Deborah que conduziu até à cidade.
Esta semana tinha sido muito diferente e muito estranha. Eu, a Deb e a Reed tínhamos passado os dias fechadas em casa, entre filmes e jogos, apenas a passar o tempo de alguma maneira, quer fosse dentro de casa quer fosse na nossa propriedade, na praia ou perto dos animais. Nada de saídas, nada de festas e definitivamente, nada de rapazes. Muito menos uns certos dois primos que conhecíamos muito bem.
Depois do carro ser estacionado, saímos as três e caminhámos em direção ao bar onde tínhamos combinado ir. À bastante tempo que não éramos vistas lá, a última vez tinha sido antes da minha ida para França. Vários olhares foram postos em nós enquanto passávamos a fila de pessoas e entrávamos, uns de inveja e outros de adoração, mas nada disso nos interessava hoje.
- Reed, estás com ar de velha. Sorri. – disse-lhe enquanto me esticava na sua direção e lhe puxava os cantos dos lábios para cima. Felizmente tínhamos encontrando com grande facilidade uma mesa vazia.
- Boa noite. – um dos empregados aproximou-se de nós com um sorriso nos lábios – O que é que vão desejar?
- Shots. – eu nem cheguei a abrir a boca porque a Reed foi quem respondeu – Muitos shots para esta mesa. – o rapaz olhou para mim e para a minha irmã, de certeza à espera que uma de nós fizesse outro tipo de pedido mas assim que eu encolhi os ombros e a minha irmã sem fala assentiu com a cabeça, ele desapareceu.
O rapaz reapareceu trazendo três copos de shots e depois de encher os mesmos ia levar a garrafa de vodka mas a Reed não deixou, agarrando na mesma e pousando-a na mesa. Bebemos o primeiro shot de uma vez, sem dizer nada e depois o segundo.
- À nossa. – a Reed levantou o copo de shot e nós fizemos o mesmo. Era a noite dela e era só isso que interessava – À amizade, à nossa amizade, mais importante que qualquer namorado ou filhos, mortos ou vivos. – senti a Deborah ao meu lado a encolher-se mas a Reed continuou – Vocês são as melhores amigas mais especiais que alguém pode ter.
Emborcámos o terceiro copo e de seguida pousámos o mesmo na mesa. A Deborah recusou-se a beber mais por isso a Reed reencheu o meu copo e o dela. Sempre tínhamos sido muito dadas a beber e isso tinha feito com que a nossa capacidade ao álcool fosse bastante elevada, mas uma semana de celibato tinha-me deixado mais fraca, estava a sentir-me meio tonta.
- Dev… - tinha encostado a testa à mesa mas levantei a cabeça assim que ouvi a voz da minha irmã. Tanto o meu olhar como o da Reed viraram-se para onde a Deborah estava a olhar e foi ai que os vi. Bryan e Dominic, a entrar no bar com um grupo de raparigas.
A Reed começou a rir-se e foi o que fez com que eles olhassem para nós. Que maravilha. Abanei a cabeça e agarrei na garrafa de vodka antes que a Reed tivesse tempo de agarrar na mesma – Queres ir embora? – perguntei-lhe preocupada.
- Não. Viemos para eu me divertir, não foi? Estou a divertir-me. – o olhar dela continuava fixo no grupo que tinha acabado de entrar e que se dirigia agora para uma mesa vazia na outra ponta do bar.
Os minutos que se seguiram foram passados entre bebidas e conversas sem qualquer interesse. Estávamos mais interessadas em olhar para a mesa do fundo porque por mais que qualquer uma de nós dissesse que não se importava ou não queria saber, sabíamos muito bem que era mentira. Mas eles eram rapazes, claro que se nós ficávamos uma semana em casa a chorar e a pensar no que tinha acontecido, eles iam aproveitar para sair com outras raparigas.
- Olá. – estava a levar o copo de shot à boca quando ouvi a voz familiar atrás de mim. Não me virei, não queria olhar para ele, mas a Reed abanou a cabeça depois da vodka descer pela garganta e levantou o olhar para o Bryan – Eu… - pela primeira vez ele parecia embasbacado – Está tudo bem com vocês?
Desta vez, antes que a Reed dissesse fosse o que fosse ou antes que eu atirasse o conteúdo do meu copo à cara do Bryan, a Deborah interviu, com o seu ar tranquilo de sempre – Sim, Bryan, obrigada. E contigo?
- Também. – foi a resposta dele, com os olhos postos em Reed. Tinha sido mais forte que eu mas tinha acabado por me virar de maneira a olhá-lo.
- O que é que foi, Bryan? – desta vez a Deborah não conseguiu impedir que a Reed falasse – Não te preocupes, já posso beber. Tive um aborto. – a maneira como ela disse aquilo fez soar tão natural mas eu sabia que ela estava a sofrer, via nos olhos dela.
A boca do Bryan entreabriu e desviou o olhar na minha direção por segundos. Revirei os olhos e levantei-me – Vamos embora. – disse eu e dei uma nota ao rapaz assim que ele passou pela nossa mesa. Tanto a Reed como a Deborah levantaram-se também, nenhuma delas estava triste pela saída mais cedo do bar.
- Devlin. – parei quando senti o meu pulso ser agarrado e olhei por cima do meu ombro para o Bryan à espera que ele dissesse alguma coisa apesar de eu não querer ouvir fosse o que fosse. A entrada no bar tinha sido suficiente, apesar de eu estar mais chateada com o Dom que com ele – Tenham uma boa noite.
Revirei os olhos com um sorriso cínico nos lábios antes de me afastar em direção à porta onde elas se encontravam à minha espera.
- O que é que ele queria? – perguntou a Reed. Tinha a certeza que a pergunta que ela queria fazer era ele falou do Dom? mas não a fez.
- Desejar-nos uma boa noite uma vez que a deles vai ser muito boa. – respondi no meu tom mais irónico. Não devia estar chateada, certo? Uma vez que tinha sido eu a afastar-me dele, uma vez que não tínhamos tido nada sério. Mas a verdade é que estava mais do que chateada, estava mesmo irritada com toda a situação.
Ele só está a ser exatamente como tu eras, e como ele é. Disse uma vozinha dentro da minha cabeça. Entrei no carro da minha irmã e abri a janela, precisava de levar com o vento na cara para afastar as emoções que estava a sentir.
A viagem de volta a casa foi feita em total silêncio da nossa parte, a única coisa que se ouvia eram as vozes que vinham do rádio do carro. Eu sabia que não era a única com a cabeça naquele bar e nas pessoas que lá se encontravam, tanto a Reed como a Deborah sentiam o mesmo.
A conclusão a que chegava era que as raparigas eram mesmo idiotas e principalmente que esta minha nova versão era uma idiota chapada. Estava na altura de voltar a comportar-me como um homem.
Portanto... este capítulo foi super dramático e emotivo como conseguiram perceber. Eu sei, eu também fiquei super deprimida por escrever a morte do bebé da Reed e do Dom mas quando eu comecei esta história sabia que ela ia ser cliché por causa do românce Dev-Bryan-Deb e por isso decidi que para compensar isso ia ter muito muito drama.
Obrigada por todos os vossos comentários *.* espero que gostem deste capítulo e o comentem também! Tenham um bom último dia de 2014 e um ótimo 2015! Beijinhos!
Mordi o lábio inferior assim que vi a porta fechar depois do Bryan sair. Tinha estado ali a ouvir o final da conversa mas não o tinha feito propositadamente ou no sentido de ser cusca, nada disso. Apenas tinha chegado naquela altura e estava à espera do momento oportuno para dizer que estava ali mas tinha acontecido tudo demasiado depressa.
A Deborah estava apaixonada pelo Bryan? E não era de agora? Como é que eu nunca tinha reparado nisso? Sim, eles eram bastante próximos mas eram melhores amigos, caramba, nunca tinha visto qualquer diferença. Se calhar tinha andando demasiado ocupada com os meus problemas e com as minhas coisas para me preocupar realmente com o resto das pessoas, as minhas amigas, e isso estava a fazer-me sentir culpada neste momento.
- Desculpa, Deb, juro que não queria ouvir a conversa, eu estava a entrar na sala mas vocês não paravam de falar e eu não queria interromper. – expliquei enquanto caminhava até ao sofá onde ela ainda se encontrava sentada.
- Não faz mal. O pior era o Bryan saber e ele já sabe, por isso. – senti pena por ela naquele momento. O Bryan… era o Bryan, aquele que não se interessava por uma rapariga por mais do que um dia mas com a Deborah era diferente, a amizade deles era algo que eu achava bastante bonito e aquilo que ele lhe tinha dito, ele nunca o diria a qualquer outra rapariga. Ela podia estar triste por os seus sentimentos não serem correspondidos mas podia dar-se por feliz por o ter como melhor amigo porque nisso ele era mesmo bom – É melhor ir para casa, a Devlin foi não sei onde, acho que ela não está muito bem. Ficas bem? – quando assenti com a cabeça e lhe sorri, ela levantou-se do sofá e beijou-me a bochecha – Até amanhã, Reed.
Passei o resto da tarde por ali sem saber o que fazer e por isso limitei-me a sentar-me no sofá e ver os vários programas de televisão que iam passando. Tinha que falar com o Dom sobre o que se estava a passar comigo e bem… connosco e precisávamos de repensar a nossa vida e ver o que íamos fazer. Ia correr bem. Ia correr bem.
Acabei por adormecer e só acordei quando senti alguém a pegar em mim ao colo. Encostei o nariz à camisola e sorri ao sentir o cheiro do Dom. Deixei-me estar bastante sossegadinha enquanto ele me levava para o quarto e me pousava na cama.
- Oh, desculpa, não te queria acordar. – pediu ele com um pequeno sorriso nos lábios e deitou-se ao meu lado – Como é que foi o teu dia?
Precisava de lhe contar e sabia que quanto mais tempo demorasse pior era. Tinha que ser como arrancar um penso de uma ferida, rápido. Demorar só ia fazer com que a dor permanecesse e se tornasse mais forte.
- Dom, tenho que te contar uma coisa. – o sorriso dele desapareceu assim que eu proferi esta frase e as sobrancelhas loiras juntaram-se – Eu descobri que estou grávida. – pronto, já estava, como um penso rápido – Eu sei que devia ter dito assim que descobri mas fiquei nervosa e precisava de pensar.
- Tu… - as sobrancelhas dele continuavam juntas enquanto o olhar baixava em direção à minha barriga, com uma expressão totalmente incrédula – Mas… - sim, mas. Mas nós usávamos sempre preservativo e eu tomava a pílula, excepto numa altura em que tinha andando a tomar antibiótico, certamente nessa altura – O que é que vamos fazer agora?
- Nós temos empregos e a minha família pode ajudar-nos, tenho a certeza que a tua também o vai fazer. Isto só corre mal se nós quisermos que corra. Dom, nós sempre falámos em ser pais, eu sei que falámos em mais tarde mas…
- Reed, nós somos muito novos. – disse ele levantando-se da cama – E o que eu ganho e o que tu ganhas não dá para alimentar e tomar conta de um bebé. Eu amo-te e claro que amo um filho nosso mas isto… não sei se consigo fazer isto, Reed. Não sei ser pai e sei que ainda não tenho capacidades quer psicológicas quer monetárias para o fazer.
Eu percebia o lado dele e sabia que assim que lhe contasse ele não ia dar pulos de alegria e comprar já balões a dizer que íamos ter um bebé mas mesmo assim a sua reação foi bem pior do que aquela que eu estava à espera.
Levantei-me da cama também e depois de abrir o roupeiro, agarrei no meu saco desportivo, começando a encher o mesmo com as minhas coisas – Reed… - ouvi atrás de mim – Por favor, vamos falar melhor sobre isto. Reed, pára.
Corri o fecho assim que tinha tudo o que era meu guardado e olhei para ele novamente – Eu percebo, Dom, a sério que sim mas não consigo ficar aqui enquanto tu me olhas como se eu fosse um fardo. Eu vou arranjar maneira de viver com o nosso filho nem que tenha que desistir do meu sonho e arranjar dois empregos, tu precisas de tempo para pensar, eu percebo e respeito isso.
Coloquei o saco de desporto por cima do meu ombro e caminhei até à porta do quarto, parando assim que ele se colocou à minha frente e me impediu de avançar. Esperei por alguma coisa, por um pedido para eu ficar, por um eu sei que é difícil mas vou fazer tudo por ti e pelo nosso filho, mas nada disso veio, apenas o silêncio. Olhei uma última vez para ele e precisei de toda a força do mundo para impedir as lágrimas de escorrer pelas minhas bochechas.
Assim que sai pela porta da rua e ia descendo as escadas, senti as lágrimas a seguirem pelas minhas bochechas e apesar de não estar a soluçar, sabia que estava bastante perto de o fazer. Quando cheguei à oficina tentei passar para a saída o mais depressa possível mas não resultou.
- Reed? Que se passa? – ouvi uma voz atrás de mim mas não me virei para ver o Bryan, não conseguia – Reed, onde vais? – limitei-me a continuar a andar dali para fora – Reed!
Ajeitei o saco desportivo que parecia mais pesado do que era na realidade e continuei a caminhar, afastando-me o mais rápido que conseguia da oficina. A minha casa ainda ficava longe mas não queria falar com ninguém, nem a pedir boleia para a mesma, queria ficar sozinha, queria apenas isso.
Quase quarenta e cinco minutos depois, cheguei finalmente à vivenda onde tinha passado toda a minha vida, excepto neste período em que tinha estado a viver com o meu namorado. Ex-namorado…
Assim que fechei a pesada porta de madeira atrás de mim, deixei o saco desportivo no chão do hall de entrada e caminhei até à sala onde estava a minha mãe e a minha tia, ou a minha mãe e a minha mãe, o que quer que fosse. Jennifer, a minha mãe biológica estava sentada no sofá a ler uma revista e Cheryl, a minha tia mas minha mãe adoptiva estava a passar os canais da televisão. As duas pararam o que estavam a fazer assim que me viram.
Não precisei de dizer nada porque tinha a certeza que a minha expressão mostrava tudo menos felicidade. Corri até ao sofá e sentei-me no meio das duas, abraçando-as com toda a força de seguida e sentindo-as a retribuir o abraço, era tudo o que eu precisava neste momento.
- O que é que aconteceu? – Cheryl perguntou enquanto passava os dedos pelos meus cabelos com a sua preocupação bastante visível, ela sempre se tinha preocupado demasiado comigo mas neste momento não me importava, sabia bem.
- Contei ao Dom. – disse apenas. Quando tinha vindo a casa fazer uma pequena visita, tinha-lhe contado da gravidez e apesar de ela não ter aprovado por eu ainda ser demasiado nova, tal como a Jennifer, tinha-se comprometido a ajudar em tudo o que fosse necessário e a amar esse bebé como se fosse seu – Nós… - não sabia o que dizer mais porque sinceramente nem sabia bem o que se tinha passado naquele quarto, apenas que não tinha tido o apoio dele que eu queria, apesar de perceber que ele estivesse confuso e sem saber o que fazer.
- Está tudo bem. – disse ela puxando-me mais para si enquanto a Jennifer se levantava e caminhava até à cozinha, de certeza para fazer um chá ou algo do género. Ainda mal tinha passado uma hora desde que me tinha afastado do Dom e sentia uma dor demasiado forte no peito assim como uma revolta na barriga. Sabia que desta vez o assunto era sério e sabia que apesar de nos amarmos bastante, isso podia não chegar neste momento.
- Toma, bebe. – Jennifer estendeu-me uma caneca de chá assim que voltou para a sala e sentou-se novamente ao meu lado no sofá. Beberiquei a bebida mas mesmo assim aquela sensação horrível não passava – Reed… - afastei a caneca da boca ao ouvi-la – Querida, não te quero preocupar mas temos de ir ao hospital.
A Cheryl agarrou na caneca do chá mesmo antes de eu ter oportunidade de dizer fosse o que fosse e olhei para elas sem perceber, até notar o olhar delas fixo no sofá, na zona exata onde eu estava sentada e foi ai que vi. A mancha de sangue cobria o local onde eu me encontrava, sujando o sofá creme.
Levantei-me com a ajuda delas, agarrando-me à Jennifer enquanto a Cheryl se dirigia para o hall para agarrar nas chaves no carro e ir ligando o mesmo.
A sensação de que as coisas estavam mal eram agora ainda piores. Não podia perder o Dom e o meu filho no mesmo dia. Era de mais para mim, simplesmente não conseguia aguentar se isso acontecesse.
Eu sei que toda a gente adorava o Dom e estavam super ansiosas por saber a reação (adorável) dele mas vamos ser sinceras... eles são "putos", a Reed canta num bar e portanto não tem um ordenado fixo, o Dom tem uma oficina mas não é um emprego a sério e por isso é claro que ela teria imensas dúvidas, o que não quer dizer que ele não a ame ou que não queira ter filhos com ela, porque isso é mentira.
Quanto ao final... claro que tinha de haver mais drama né? O que é que acham que vai acontecer? O bebé morre mesmo ou será que não?
Apesar do capítulo ser super sad, espero que gostem. Beijinhos e obrigada por todos os vossos comentários!