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Catorce

por Joanna, em 05.09.15

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- Pensava que íamos falar com os teus pais. Martin, onde vamos? – perguntei olhando em volta à medida que ele me puxava para algum sítio longe daquele salão cheio de pessoas. Não fazia a mínima ideia de qual era o plano dele e isso só me fazia ficar nervosa. Era o Martin e eu sabia que ele nunca me varia mal mas mesmo assim… o passado tinha-me feito desconfiar à mínima mudança e aqueles sonhos que tinham decidido voltar não ajudavam.

- Espera, estamos quase. – disse-me ele enquanto agarrava numa garrafa de champanhe que se encontrava juntamente com muitas outras num carrinho parado perto da zona da cozinha.

Continuei a segui-lo, a ser puxada pela mão que não estava a agarrar na garrafa enquanto caminhávamos para o que parecia ser a zona lateral do edifício. O Martin virou a cara na minha direção quando chegámos a umas escadas e sorriu antes de me puxar para continuar a caminhar atrás dele.

As luzes daquela divisão foram acesas, revelando uma espécie de escritório uma vez que havia uma secretária e uma cadeira perto de uma das paredes mas era um espaço muito espaçoso e por isso havia mais alguma mobília espalhada. Uma delas era uma mesa baixa que estava cheia de comida que tinha um aspeto delicioso.

- Que tal? – o Martin colocou-se ao lado da mesa enquanto agarrava na garrafa de champanhe bastante perto da sua cara e sorria na minha direção – Por muito que gostasse passar a noite toda lá em baixo a ser interpelado por todos os amigos dos meus pais, prefiro passar a noite aqui contigo, só os dois. Espero que isto esteja bem para ti.

O meu olhar voltou a passear pela divisão antes de voltar à cara do Martin onde o sorriso rasgado tinha sido substituído por um mais pequeno e uma expressão ligeiramente preocupada. Sorri e acenei com a cabeça afirmativamente.

- Para mim está ótimo. Até porque quer dizer que posso fazer isto. – apoiei-me na secretária que não estava muito longe do sítio onde eu me encontrava e descalcei os meus sapatos, deixando os mesmos ali perto antes de caminhar até à mesa baixa – Isto está muito bonito. – constatei ainda a sorrir enquanto me sentava no chão – E parece que finalmente temos aquele encontro que combinamos; uma mesa entre nós é muito melhor do que uma porta. – brinquei relembrando aquele dia em que o Martin me tinha assustado enquanto treinava e tínhamos ficado a falar cada um de um lado da porta da academia da Kendra.

- Eu penso em tudo. – respondeu ele com um sorriso nos lábios enquanto abria a garrafa de champanhe e de seguida enchia os dois copos que já se encontravam em cima da mesa juntamente com toda aquela comida de aspeto delicioso – Confesso que estava com algum receio. – juntei as sobrancelhas enquanto tentava perceber do que é que ele estava a falar – Não sabia se te devia ou não convidar para sair, tinha medo que dissesses que não. E além do mais somos amigos, não quero estragar o que temos entre nós mas tu és diferente e quando estou contigo sinto-me uma pessoa melhor. – sorri com aquilo que ele tinha acabado de dizer e assenti com a cabeça.

Eu sentia exatamente o mesmo. Sabia que ainda era muito cedo para dizer que estava a morrer de amores pelo Martin mas tínhamos bastante em comum e sempre que estava com ele conseguia manter os pensamentos menos bons longe da minha cabeça, conseguia sorrir e o mais importante disso tudo é que adorava estar com ele e queria sempre vê-lo novamente.

- Então vamos fazer um brinde por eu ter aceitado o encontro. – soltei uma pequena gargalhada enquanto agarrava no meu copo cheio de champanhe e esticava o meu na direção do Martin que aproximou o seu copo do meu enquanto sorria.

De seguida o Martin contou-me como tinha preparado tudo aquilo; no início tinha mesmo ponderado passarmos a noite no andar de baixo com todos os convidados a fazer parte da festa de reabertura mas depois tinha percebido que aquilo não era um encontro decente e tinha tido esta ideia. Ao longo da noite, isto é antes de me ir buscar, tinha andado a recolher vários tabuleiros de comida basicamente tinha-os extraviado e em vez de estes irem para os convidados estavam ali à nossa disposição. O único pormenor que tinha ficado a faltar tinha sido a bebida mas ele tinha também conseguido dar a volta àquela situação.

- E então quem é que te meteu no mundo da dança? – perguntou o Martin. Já tínhamos estado a falar dos mais variados temas até ele se lembrar daquele. Não fazia ideia de que horas é que já eram porque estava a divertir-me imenso para me preocupar com isso e com o facto de ter de voltar para o dormitório. Ele era sem dúvida nenhuma uma grande companhia e eu adorava passar tempo com ele – De certeza que era quase impossível fugir disso uma vez que a tua mãe tem uma escola de dança.

O meu sorriso desapareceu por uns segundos mas rapidamente dei a volta à situação e voltei a trazê-lo ao de cima. Apesar de a minha relação com a Kendra estar a ficar cada vez melhor, continuava a odiar quando quem quer que fosse se referisse a ela como minha mãe, fazia-me sentir que a minha verdadeira mãe ficava esquecida e eu simplesmente odiava aquilo. Mas o Martin não tinha culpa; tínhamos falado de várias coisas mas daquela nunca tínhamos dito uma palavra que fosse.

Levei o copo com champanhe novamente à boca e sorri enquanto o pousava na mesa – A Kendra não é a minha mãe. – o sorriso do Martin desapareceu rapidamente, sendo de seguida substituído por uma expressão confusa e depois por uma mais preocupada e nervosa – É a minha madrasta. A minha mãe morreu quando eu ainda era muito pequena e depois o meu pai voltou a casar.

- Sky desculpa, não sabia. – apressou-se ele a dizer.

- Não faz mal, não tens de pedir desculpa. – sorri novamente, desta vez de forma mais sincera e encolhi os ombros – Eu gosto dela apesar de algumas vezes a nossa relação não ser exatamente a melhor. Ela é muito querida, faz o meu pai feliz e deu-me a minha irmã Taylor; por isso só posso estar feliz. Mas como é óbvio não consigo esquecer a minha mãe, foi ela a razão principal que me fez querer vir para Espanha. – o Martin assentiu com a cabeça à medida que ia percebendo melhor a história da minha vida. Ele já sabia do cargo do meu pai e na verdade tinha levado aquilo demasiado na boa. Normalmente quando as pessoas sabiam que o meu pai era embaixador começavam a pensar que ele era praticamente o presidente e ficavam mais preocupados do que era suposto. Tinha a certeza que até àquele momento ele tinha achado que o grande motivo de eu ter mudado para Espanha tinha sido o meu pai e o cargo que ele desempenhava cá. Esse era um dos motivos mas estava longe de ser o principal – A minha mãe era espanhola e até foi cá que os meus pais se conheceram.

- Já o disse antes mas volto a repetir, estou muito feliz por te teres decido a mudar para cá. E agora vamos parar de falar de coisas deprimentes antes que eu estrague irremediavelmente o nosso encontro. Mesmo a tempo.

Juntei as sobrancelhas com uma gargalhada quando do andar debaixo se fez ouvir uma música calma e romântica e o Martin aproveitou a oportunidade para esticar a mão na minha direção. Abanei a cabeça ainda a rir e ele tentou uma expressão ameaçadora.

- Anda lá! Aqui tu é que sabes dançar, se me deixas a dançar sozinho vai ser vergonhoso.

Agarrei na mão que ele me estendia e levantei-me do chão, sendo de seguida puxada em direção ao corpo do Martin. As nossas mãos continuavam agarradas enquanto a sua outra mão era pousada na minha cintura e eu pousava a minha mão livre no ombro dele. A música continuava a tocar, fazendo-se ouvir bastante bem ali (outra coisa que eu achava que também tinha sido planeada pelo Martin).

- Estás descalça. – constatou o Martin nervoso enquanto olhava para o chão e para os nossos pés – Isto vai ser mais grave do que eu pensava.

Voltei a rir e tirei a mão do ombro dele para lhe levantar o queixo e o fazer olhar para mim – Tem calma, vai correr tudo bem. – tentei descansá-lo enquanto sorria, parecia que não conseguia fazer outra coisa ali com ele – É fácil.

Cheguei-me para mais perto dele, aproximando os meus pés dos do Martin de forma a que fosse mais fácil seguirmos os mesmo movimentos e evitar que um de nós, sendo mais provável que essa pessoa seria eu, fosse pisada. Ele ainda ficou um pouco rígido durante mais alguns segundos mas depois conseguiu descontrair e foi quando a dança passou de calma a cheia de voltas e gargalhadas.

- Devia ter pensado nisto melhor antes de planear dançar contigo. – disse ele quando nos separámos depois da música parar de tocar – Mas até correu bem, pelo menos não te pisei uma única vez. Acontece que tenho mais jeito para danças de discoteca do que para isto. Aquelas são muito mais fáceis.

- Eu disse que ia correr tudo bem! – voltei a rir desta vez devido à sua expressão de orgulho e felicidade – Até tens jeitinho para a coisa só precisas de mais prática.

- Isso quer dizer que temos de voltar a repetir isto. – sorri de volta ao Martin e assenti com a cabeça – Mas agora é melhor levar-te de volta ao dormitório. Já é tarde. – olhei para o meu telemóvel quando o Martin disse aquilo e arregalei os olhos ao ver que já era uma da manhã. O tempo tinha passado sem dúvida demasiado rápido mas eu tinha-me divertido bastante – Vamos?

Agarrei em todas as minhas coisas e apressei-me a calçar novamente os meus sapatos antes de dar o braço ao Martin e sairmos daquela divisão, fazendo de seguida o caminho de volta para o salão principal que continuava cheio de convidados e depois disso até ao sítio onde ele tinha deixado o carro estacionado.

Continuámos a conversar durante a viagem de volta para a universidade e como perfeito cavalheiro que era, o Martin saiu do carro para me abrir a porta e acompanhar de seguida até à entrada do dormitório.

- Espero que te tenhas divertido.

- Claro que me diverti, espero que tu também tenhas gostado da minha companhia.

Os cantos dos lábios do Martin subiram ligeiramente para um sorriso enquanto ele assentia com a cabeça – Eu gosto sempre da tua companhia. Se calhar estou a ser muito atrevido mas…

Eu sabia o que é que ai vinha. Desde aquele sorriso que sabia que ele me ia beijar e estava à espera disso, estava ansiosa à espera disso. O Martin começou a aproximar a cara da minha, fechei os olhos enquanto sentia a minha barriga a contorcer-se de nervosismo e antecipação e esperei pelo beijo. Estávamos a meros centímetros de distância quando uma voz interrompeu aquele momento.

- Desculpem, tenho de entrar. – abri com grande rapidez os olhos e olhei para a rapariga que tinha acabado de falar. Já a tinha visto várias vezes pelo corredor dos dormitórios mas não fazia a mínima ideia de qual era o nome dela. Neste momento não me interessava, odiava-a de morte. Vinha com os cabelos todos despenteados e o vestido curto todo amarrotado. Não era difícil imaginar que tinha andado nos copos – Preciso mesmo de entrar. – disse ela levando a mão à boca - Podes vir comigo? – acrescentou ela enquanto olhava para mim.

Desviei o olhar na direção do Martin – Parece que é uma emergência. Até amanhã? – ele assentiu com a cabeça enquanto sorria e beijou-me a bochecha antes de desejar as melhoras à rapariga e se afastar.

Depois de a ajudar a chegar até à casa de banho, caminhei até ao meu quarto e fiz todos os possíveis para não fazer barulho uma vez que a Meg já estava na cama dela a dormir. Estava prestes a fazer o mesmo quando ouvi o telemóvel vibrar. Sorri a imaginar que seria uma mensagem do Martin mas não podia estar mais enganada.

Enzo {1:45} : Ouvi dizer que hoje tinhas um encontro com o paspalho. Espero que não te esqueças que amanhã é o meu dia princesa

Revirei os olhos e pousei o telemóvel novamente na mesa-de-cabeceira. Ouvi-o tremer novamente mas nem sequer me dei ao trabalho de olhar para o aparelho. Só mesmo o Enzo para ser capaz de estragar a noite que tinha tido. Em vez de estar a pensar no Martin e no nosso quase primeiro beijo à entrada dos dormitórios estava neste momento a pensar no Enzo e como o tinha de aturar amanhã uma vez que agora éramos amigos. Amigos. Ainda não conseguia perceber como é que aquilo tinha acontecido mas agora tinha de o aturar. Yey para mim.

 

Espero que tenham gostado do capítulo!

Como já sabem agora só posto aos sábados, preciso mesmo de tempo para adiantar capítulos antes do início das aulas porque já sei que nessa altura vai ser muito mais difícil escrever e vir aqui.

Beijinhos e mais uma vez, muito obrigada pelo vosso apoio.

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publicado às 18:42


2 comentários

De JustAnOrdinaryGirl a 05.09.2015 às 23:54

Gostei imenso! O Martim é mesmo querido e preparou um encontro fantástico. Se não fosse aquela rapariga no final. Mas talvez tenha sido um sinal de que o Martim, apesar de ser fantástico, não é o tal. Por muito bom que seja o Martim, eu continuo a preferir o Enzo. Aquela mensagem dele foi demais, deixou-me logo ainda mais curiosa para ver o que aí vem!!!
Adorei!
Beijinhos

De Sara a 07.09.2015 às 19:33

Estou a adorar!!!!
Ansiosa por ver esse encontro com o Enzo :)

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