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Diecinueve

por Joanna, em 30.10.15

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Assim que acabei finalmente de comer os cereais do pequeno-almoço, subi novamente os degraus que davam ao andar onde se encontravam os quartos e apressei-me a trocar a camisola do Enzo pela roupa que tinha trazido no dia anterior assim como tratar rapidamente da minha higiene pessoal.

- Vamos? – perguntou o Enzo assim que me apanhou a sair da casa de banho. Ele já tinha trocado as calças do pijama pelas suas usuais calças de ganga e uma camisola preta de manga comprida bastante parecida com aquela com que eu tinha dormido na noite anterior – Daqui a nada não passamos tempo nenhum juntos. – queixou-se ele amuado.

- Já passámos a noite toda juntos, não te chega? – perguntei num resmungo; odiava que me apressassem até porque eu nem era uma rapariga que demorasse muito tempo a ficar pronta – Já estou pronta. – segui-o novamente para o rés-do-chão e agarrei na minha mala que continuava num canto da sala onde a tinha deixado no dia anterior – Onde é que vamos afinal?

- Vamos numa aventura. – o sorriso entusiasmado do Enzo era bastante assustador e preocupante. Uma aventura com ele parecia-me algo que se devia tentar ao máximo evitar – Anda lá princesa.

Bufei para o ar e saí de casa à frente dele. Ao lado da casa havia um pequeno barracão onde o Enzo foi buscar a mota e trouxe-a pela mão até à zona onde eu ainda me encontrava à espera dele. Subi depois dele e ainda perguntei novamente se não íamos usar capacetes já que isso era uma grande irresponsabilidade e mais uma vez recebi a resposta não é preciso. Claro que não, quando morrermos o capacete só vai estar a mais.

Mal tinha acabado de colocar os braços à volta do tronco do Enzo quando ele arrancou dali para fora a uma velocidade muito acima da obrigatória dentro das localidades. Encostei a cara ao casaco do Enzo e fechei os olhos com força numa tentativa mal sucedida de fazer com que aquela viagem não parecesse assim tão assustadora mas a velocidade a que íamos, o tempo de duração da viagem, o facto de estarmos sem capacetes e bem, do Enzo ser o condutor, não ajudaram em nada.

Saltei da mota assim que a mesma parou finalmente e apoiei as mãos nas coxas enquanto respirava fundo e tentava acalmar a minha respiração e o bater descontrolado do meu coração – Tu deves queres matar-me. – mal acabei de proferir aquela frase coloquei-me direita e olhei em volta, observando que nos encontrávamos numa espécie de estrada secundária onde não passava um único carro. De ambos os lados da estrada a paisagem era apenas verde e azul; estávamos muito longe da cidade – E acho que queres mesmo. – murmurei para mim própria – Onde estamos?

O Enzo encolheu os ombros enquanto me lançava aquele seu sorriso – Fora da cidade. Não interessa onde estamos. – era exatamente isso que um assassino diria antes de matar alguém – Agora ajuda-me. – continuei a olhar para ele desconfiada quando me estendeu o que parecia uma manta; ele podia muito bem usar aquilo para enrolar o meu corpo – Anda lá. – resmungou ainda a estender-me o objecto e a tirar agora uma mochila preta.

Agarrei na manta a contragosto e fiquei à espera de alguma pista do que é que ele estava a pensar fazer ali no meio do nada quando a única opção que eu via era mesmo o assassinato. O Enzo colocou uma das alças da mochila no ombro e agarrou no meu braço para me fazer andar assim que ele decidiu caminhar pelo terreno que se encontrava à nossa frente, parando a uns cinco metros da mota dele.

- Que foi? – perguntei quando o vi a olhar fixamente para mim com um ar aborrecido. Desviei o olhar para a manta que tinha na mão quando ele apontou com o queixo para a mesma – Ah. – estendi o bocado de tecido no chão e sentei-me numa das pontas da mesma – Afinal o que é isto?

- Uma aventura. – respondeu-me ele como se a pergunta que eu tinha feito fosse totalmente idiota – Nunca quiseste ficar sozinha, longe da cidade, do ruído e de toda a gente e aproveitar apenas? – olhei por cima do meu ombro quando o Enzo fez sinal nessa direção e um sorriso foi aparecendo ao pouco nos meus lábios; naquele terreno enorme onde o verde predominava era possível observar o azul do céu e um pouco mais ao fundo conseguia-se ver a confusão da cidade – Este é um bom sítio para isso.

- E o que é que tens na mochila?

- Mantimentos. – o Enzo sorriu na minha direção ao mesmo tempo que abria o fecho da mochila preta que se encontrava agora no meio das suas pernas.

- Mantimentos? – repeti de sobrancelha levantada – Estás a pensar ficar aqui a viver? Isto até é muito bonito mas imagina ficar aqui quando começarem a chuvadas torrenciais como a de ontem.

Ele encolheu os ombros ainda a sorrir e estendeu-me uma garrafa de coca-cola que tinha tirado dos seus mantimentos. Bebi um gole do seu conteúdo e pousei de seguida a garrafa no espaço que havia entre nós.

 

Meg {12:56} : Onde é que estás? Não vens para a universidade?

Sky {12:57} : Deixei-me dormir e já não conseguia ir às aulas. Saí com o Enzo, encontramo-nos depois

 

- Deixa-me adivinhar, - guardei novamente o telemóvel no bolso das calças – a tua prima estava a assegurar-se que eu ainda não te tinha comido?

- Tendo em conta que ela anda enrolada com o teu irmão, não devia ter medo disso. – deixei escapar num tom aborrecido. Por mais que tentasse a relação daqueles dois ainda me dava a volta à cabeça – Então e agora? – deixei-me cair na manta e apoiei a cabeça na mão – Vamos ficar aqui o resto do dia? Por muito emocionante que seja ficar a olhar para ti o dia inteiro, tenho coisas mais interessantes para fazer.

- Como por exemplo? – o Enzo lançou-me mais uma vez aquele seu meio sorriso provocador – Passar tempo com o Martin?

Encolhi os ombros – Por exemplo. – respondi num tom desafiador; odiava a forma como o Enzo falava sempre do Martin e dificilmente me conseguia controlar para não lhe responder – Mas como estamos aqui… - fiz uma pausa e assim que tive aquela ideia, os cantos dos meus lábios subiram lentamente para um sorriso – já sei o que é que podemos fazer. Podias ensinar-me a andar de mota.

As sobrancelhas do Enzo juntaram-se – Não me parece que isso seja uma boa ideia. – lancei-lhe um olhar aborrecido e que o fazia perceber que não ia desistir daquela ideia por mais que ele tentasse dissuadir-me – Ninguém mexe na minha mota para além de mim. Não, nem penses.

- Também não emprestavas o teu casaco a ninguém. – constatei ainda a fitá-lo – Além do mais, nós somos amigos, grandes amigos. E eu quero andar na tua mota. – aquilo soou num tom entre o mimado e o desafiador e apesar de eu odiar qualquer uma dessas características, naquele momento não me importei minimamente; o Enzo já me tinha dado cabo da cabeça tantas vezes que eu merecia alguma recompensa. Além do mais éramos amigos. Naquele momento adorei isso.

- Eu- - começou ele numa nova tentativa de me fazer mudar de ideias mas quando eu apenas lhe lancei um olhar assassino, ele revirou os olhos e levantou-se – Tudo bem. Mas com cuidado, muito coitado!

Agarrei nas mãos que o Enzo me estendia para me levantar da manta que tínhamos colocado no chão e sorri vitoriosa – Não te preocupes, temos a estrada toda para nós, não é como se eu fosse provocar um acidente. - o Enzo semicerrou-me os olhos ao ouvir a palavra acidente o que me fez morder automaticamente o lábio inferior para evitar rir.

Caminhei atrás dele até ao local onde o Enzo tinha deixado a mota no descanso e assim que tive autorização para o fazer, subi para a mota sendo que desta vez o lugar do condutor era o meu. Por cima do meu ombro vi o Enzo a fazer o mesmo, invertendo assim os nossos lugares o que se tornava ligeiramente estranho. Sentia o peito do Enzo contra as minhas costas e as nossas coxas encostadas; tentei manter-me quieta assim que os seus braços se lançaram para a frente, com o meu corpo no meio deles enquanto o Enzo colocava as minhas mãos nos sítios certos e rodava a chave na ignição.

- Acelerador, travão, embraiagem. – o Enzo foi enumerando à medida que voltava a pousar as mãos dele sobre as minhas de forma correta – Eu meto as mudanças. – levantei ligeiramente a minha perna para lhe dar espaço para que chegasse às mesmas – Larga a embraiagem devagar.

- Largo? – perguntei alto por cima do barulho que a mota agora a trabalhar fazia.

- Não! Devagar! – gritou ele atrás de mim mas já era tarde de mais.

Desatei a rir às gargalhadas quando o Enzo se tentou chegar para a frente para agarrar nos manípulos da mota totalmente em stress assim que a mota começou a andar. Quando era mais nova o meu pai tinha uma mota e só a substituía pelo carro quando o tempo estava mais frio ou chuvoso; rapidamente a minha vontade de lhe imitar os passos tinha surgido e então como qualquer pai americano ele tinha-me ensinado a conduzir uma mota muito antes de me ensinar a fazê-lo num carro.

- Tu sabes andar de mota. – constatou o Enzo contra o meu ouvido agora visivelmente mais calmo – Estúpida. Ias-me dando um ataque cardíaco. – comentou ele enquanto o sentia relaxar contra o meu corpo e as suas mãos pousadas agora na minha cintura.

Depois de dar umas voltas naquela estrada abandonada, voltámos a sentar-nos na manta estendida onde ficámos a falar e a embirrar um com o outro como era nosso costume. Apesar de tudo e de nunca o ir admitir em voz alta, tinha de dizer que passar o dia com o Enzo não era assim tão mau como estava à espera. Acho que começávamos a tolerarmo-nos um ao outro, principalmente eu começava a tolerá-lo e apesar de algumas discussões e irritações até nos dávamos bem, pelo menos ainda nenhum tinha tido grande vontade de esganar o outro.

- Tenho fome. – queixei-me enquanto me sentava e prendia o cabelo num rabo-de-cavalo por causa do calor primaveril que se fazia sentir àquela hora – O que é que tens para aí nos mantimentos?

- Espera. – com a mochila no meio das suas pernas, o Enzo revirou a mesma e foi tirando garradas de coca-cola e vários tupperwares na minha direção. Fui agarrando em cada caixa de plástico que me era atirada e pousando-as lado a lado na manta onde estávamos sentados até ele me atirar uma que estava mal fechada e embateu directamente na minha camisola que ficou toda suja – Ups.

Atirei o tupperware para junto dos outros e agarrei logo no fundo da camisola para evitar que o conteúdo me sujasse também as calças de ganga. Levantei o olhar de forma a encontrar o do Enzo e semicerrei-lhe os olhos num ar assassino.

- É bom que tenhas uma solução para este problema. – proferi entre dentes enquanto fazia uma ginástica enorme para não sujar as calças ao mesmo tempo que tentava que a camisola não tocasse no meu sutiã e sujasse o mesmo.

- Tenho uma camisola na mota para acidentes. Era suposto usá-la no caso de me sujar mas tendo em conta que consegui perceber esta noite que gostas bastante da minha roupa, terei todo o gosto de ta emprestar. – como não podia deixar de ser um sorriso provocador emoldurava-lhe a face.

- Pousa-a ai. – ordenei depois de nos termos voltado a aproximar da mota e o Enzo tirar da mesma uma camisola cinzenta de manga comprida – Vira-te. – revirei os olhos quando em vez de fazer aquilo que eu tinha acabado de dizer o Enzo continuou a olhar para mim com aquele sorriso irritante – Se não te virares eu juro que te roubo a mota e te deixo aqui. – ameacei enquanto despia a minha camisola com todo o cuidado para não me sujar mais do que já estava. Atirei a peça de roupa para o chão ainda sem saber muito bem o que é que lhe ia fazer e agarrei na camisola do Enzo que estava pousada no assento, apressando-me a vestir a mesma – Eu não acredito. – dei-lhe um soco nas costas o que obviamente não serviu de nada porque a minha força em alguém como o Enzo era o mesmo que lhe ter acabado de dar uma palmadinha nas costas.

- Disseste para não me virar. Eu não me virei. – disse ele orgulhoso enquanto ajeitava o espelho da mota que tinha mexido anteriormente de forma a conseguir ver-me a mudar de roupa por ele.

- Não sabia que estavas assim tão desesperado para teres de andar a assediar raparigas que trocam de camisola. Pensa em falar outra vez com a Chanfrada, de certeza que ela não se importa de passar outra noite contigo.

Não estávamos muito longe um do outro e isso foi totalmente constado assim que o Enzo deu apenas um passo e ficámos a centímetros de distância um do outro. Levantei o olhar de forma a conseguir olhá-lo nos olhos agora que estávamos mais próximos e tentei parecer o mais descontraída e natural possível apesar das circunstâncias. O cheiro do Enzo enchia-me completamente o nariz devido à nossa proximidade e ao facto de estar novamente com uma peça de roupa dele.

- De certeza que não mas eu já te disse que agora estou mais interessado numa idade mais próxima da minha. – engoli em seco quando ele esticou a mão na minha direção e colocou uma mecha de cabelo que se tinha soltado do rabo-de-cavalo atrás da minha orelha – Não te mexas. – pediu ele afastando-se de mim quando se ouviu o som de mensagem do telemóvel.

Revirei os olhos e mexi-me, obviamente. Cruzei os braços no peito e dei um passo para trás de forma a que houvesse uma distância maior entre os nossos corpos – Quero ir para casa. – disse olhando para as horas; sem que nos tivéssemos dado conta disso já eram quase seis da tarde – E tenho de ir à casa de banho. – disse com uma careta.

- Então mesmo a tempo. – juntei as sobrancelhas e fiquei a ver o Enzo afastar-se em direção à manta e à mochila que continuavam no sítio onde tínhamos deixado tudo antes sequer de comermos – Tenho um combate daqui a uma hora.

Assenti com a cabeça e acabei por me decidir a ir ajuda-lo a arrumar tudo, aproveitando também para comer qualquer coisa – Ainda bem, assim podemos parar na estação de serviço que é aqui perto e podes levar-me a casa.

Assim que ficou tudo arrumado, voltámos a aproximarmo-nos da mota onde o Enzo guardou a mochila antes de olhar para mim sorrindo de forma provocadora – Sim, podemos parar na estação de serviço mas não, não te vou levar a casa. Vais comigo.

- Desculpa?

- Princesa, - revirei os olhos à utilização mais uma vez daquele apelido – estamos no meio do nada, tu não conheces isto e tenho a certeza que dispensas tentar pedir boleia de volta para a cidade. Tendo em conta que eu sou o condutor designado, tu vens comigo.

- Ou então não. – disse irritada antes de me lançar para cima do Enzo para lhe tentar tirar as chaves da mota que ele tinha agora na mão – Eu sei conduzir a tua mota e posso muito bem deixar-te a ti aqui a pedir boleia. – só percebi que aquilo tinha sido uma péssima ideia quando eu não consegui chegar às chaves e em contrapartida estava completamente encostada ao peito do Enzo, as nossas caras estavam a meros milímetros de distância uma da outra deixando-nos assim numa posição demasiado constrangedora.

- E já vi que estás mesmo com vontade de continuar perto de mim. – os cantos dos lábios do Enzo subiram lentamente.

Revirei mais uma vez os olhos e dei-lhe um empurrão, afastando-me para trás também. Sentia a garganta seca e sabia que o meu coração estava a bater ligeiramente mais depressa que o habitual. O Enzo conseguia dar-me cabo da cabeça fosse com o que fosse e eu odiava-o por isso.

- Deixa de ser estúpido. Vamos embora, preciso mesmo de ir à casa de banho.

Esperei que ele parasse de sorrir feito idiota e subisse para a mota para que eu lhe seguisse os movimentos. Desta vez não me agarrei a ele, agarrando-me em vez disso aos apoios para as mãos. Não lhe ia dar o gostinho de ter mais um motivo para as suas piadas estúpidas.

Quando parámos finalmente na estação de serviço, fui rapidamente à casa de banho assim como o Enzo e quando nos voltámos a encontrar junto às bombas onde ele estava agora a encher o depósito da mota, cruzei os braços com um ar amuado.

- Porque raio é que eu tenho de ir ao combate contigo? Aquilo são só selvagens e podes muito bem ir sozinho.

- Porque se não fores comigo ficas aqui. – ele encolheu os ombros – E és o meu amuleto da sorte, tens de vir.

- Então fico aqui. – disse num tom decidido e desafiador que teve como resposta um ar desconfiado do Enzo, fazendo-me lembrar automaticamente de uma conversa parecida que tínhamos tido no dia anterior à porta da casa dele – Pronto, eu vou. – falei a contragosto – Mas já lutavas antes de me conhecer e pelo que percebi, tu ganhas quase sempre.

- Não vale a pena, princesa. Vens comigo na mesma. – fulminei-o com o olhar, o que infelizmente não resultou – Não te preocupes, não vai acontecer nada de mal e aquilo vai ser rápido é só ganhar e receber o meu dinheiro. Agora espera aqui e porta-te bem.

Juro que estive prestes a atirar-lhe com alguma gasolina para cima e pegar-lhe fogo devido àquela expressão na cara dele, ao sorriso provocador e ao tom que ele tinha usado. A nossa relação era uma verdadeira montanha russa, num momento estávamos a falar sobre nós próprios e a ser o mais sinceros possível e no outro eu conseguia imaginar na minha cabeça várias formas de o matar.

 

Meg {18:13} : Por favor diz-me que ainda não foste morta

Sky {18:13} : Não, mas ele está prestes a ser

 

Voltei a guardar o telemóvel no bolso das calças e olhei para o Enzo voltou a aparecer junto a mim depois de pagar pelo abastecimento da mota. Subiu para a mesma e olhou para mim por cima do ombro – Anda lá princesa. Temos uma multidão à nossa espera.

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publicado às 22:29


2 comentários

De twilight_pr a 30.10.2015 às 23:37

AMEI! SUPER FIXE!
AINDA ME ESTOU A RIR COM A CENA DA MOTA, SUPER FIXEEE!
ADOREI!
MAL POSSO ESPERAR PARA LER :DDD

De Joanna a 01.11.2015 às 14:26

ahah eu também me ri ao escrever e imaginar e.e adoro estes dois
ainda bem que gostaste c: beijinhooos

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