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Após aquela primeira aula desastrosa, passámos o resto da manhã da mesma forma a única diferença foi o facto de o Enzo não ter mais qualquer aula connosco o que era uma espécie de bênção já que ia ter de passar tempo com ele mais logo e dispensava passar também toda a manhã.
Felizmente a hora do almoço até chegou bastante rápido o que significa que as aulas daquele dia chegavam finalmente ao fim e por isso mesmo podíamos descontrair um pouco. Mesmo que fosse só um pouco sempre era melhor do que continuar a ter de prestar atenção a power-points e discursos monótonos.
- Nem acredito que a Chanfrada te obrigou a fazer o relatório da aula com o Enzo e ainda por cima para entregar amanhã. – comentou a Meg com uma careta antes de levar uma garfada de massa à boca – A mulher é mesmo passada da cabeça.
- Ela lá passada é mas tendo em conta que ela tem uma paixão maluca pelo Enzo, acho que o relatório é o castigo mais benesse que ela vos poderia dar. – foi a vez da Lola falar sobre aquele assunto.
- Espera, o quê? – perguntou a Meg com uma expressão confusa – O Enzo andou com a Chanfrada? – quando a Lola confirmou aquilo que eu já sabia, a Meg fez a mesma careta que eu desconfio ter feito quando o próprio Enzo me falou naquilo – Eu sei que ele é teu irmão mas acabou de descer mais um ponto na minha consideração. A sério, a Chanfrada? Ele estava bêbado ou assim?
Levei mais uma garfada de carne à boca e olhei para a minha prima – Mas quem é que anda a fazer uma lista das pessoas com quem o Enzo andou? De certeza que a Chanfrada é uma no meio de uma data delas. – acho que aquilo soou num tom demasiado julgador do que era suposto mas tinha a certeza que estava longe de ser alguma mentira; percebia-se a léguas que o Enzo se dava mais do que bem com o sexo feminino.
- Bem e isto quer dizer que vão conhecer a minha casa. – a Lola sorriu mas foi possível perceber automaticamente que era um sorriso um pouco forçado – Acredito que tu também vás? – perguntou dirigindo-se à Meg.
O olhar da minha prima caiu novamente em mim antes de ela encolher os ombros – Acho que sim. Não fico a fazer nada aqui na universidade sozinha e eu ia encontrar-me com o Tiago ao final da tarde.
Aquela relação ainda me dava má-disposição mas não podia fazer nada e por isso esforçava-me ao máximo para ignorar e apoiá-los, ou pelo menos tentar. O Santiago também não parecia gostar propriamente de mim por isso só o fingia por causa da minha prima.
Levámos os tabuleiros assim que acabámos de comer e depois disso dirigimo-nos até à biblioteca da universidade para passar uns rascunhos das aulas e para aproveitar também para estudar um pouco a matéria que já tinha sido dada. As aulas tinham começado há duas semanas mas nenhuma de nós queria desleixar os estudos e por isso mesmo tínhamos que nos esforçar todos os dias.
- Vamos? – perguntou a Lola quando viu que o ecrã do seu telemóvel marcava as cinco da tarde.
Arrumámos todas as nossas coisas e abandonámos o campus universitário. Fizemos o caminho até casa dos Suarez a pé, uma distância que demorou certa de quinze minutos e a qual passámos a falar sobre os mais variados temas, sendo o principal novamente o meu encontro com o Martin na noite anterior.
À medida que nos afastávamos do centro de Madrid e da zona principal da cidade, era mais do que fácil perceber que estávamos a entrar na zona de bairros e a zona mais pobre da cidade. Deixávamos de ver turistas ou espanhóis da classe média para ver montes de crianças com roupas pouco cuidadas a passear na rua, rapazes e homens com várias tatuagens e um ar assassino e raparigas e mulheres igualmente assustadoras. Digo isto porque desde sempre que fui habituada a manter-me longe deste tipo de zonas; nunca na minha vida tinha entrado num bairro pobre e a sensação era assustadora.
- Se alguém se meter com vocês alguma vez que cá venham sozinhas ou na ida para casa digam que nos conhecem. Não se preocupem que não vos acontece nada. – depois do conselho da Lola fiquei alguns segundos a pensar que apesar de vindos daquele bairro e do seu ar de rebeldes, principalmente os dois rapazes e também o Diego, os quatro pareciam um pouco deslocados dali e do resto das pessoas que passavam por nós e acenavam com a cabeça num cumprimento silencioso. Algo me dizia que os Suarez eram uma espécie de realeza dali.
Eu e a Megan continuámos a seguir a Lola por aquelas ruas até pararmos em frente a uma casa amarela que tal como as outras tinham um aspeto bastante pobre e familiar. Mais uma vez nada parecido àquilo que eu estava tão habituada. Isto fazia-me soar uma verdadeira mimada mas a verdade é que desde que me lembrava de existir que o meu pai sempre tinha tido cargos importantes e por isso mesmo o nosso nível de vida era ligeiramente acima da população dita normal.
- Tenho a certeza que isto está longe de ser aquilo a que estão habituadas, - disse a Lola praticamente lendo os meus pensamentos – mas há sítios piores. – acabou a frase com um risinho nervoso.
- Lola estamos fartas de ver a porta de tua casa. – sorri e dei-lhe um pequeno encontrão no braço para tentar desanuviar o ambiente.
Ela sorriu-me de volta antes de tirar a chave de casa da mala e abrir a porta da frente. Entrámos todas na residência que apesar de parecer pequena por fora essa visão era um pouco enganadora. Estávamos na sala de estar que tinha algumas estantes cheias de livros, fotografias e outros objectos e naquele espaço havia ainda um sofá e uma televisão. De onde me encontrava dava ainda para ver a entrada da cozinha e antes disso umas escadas que dariam para o andar superior onde certamente se encontrariam os quartos.
- Cheguei! – gritou a Lola enquanto apontava para um canto vazio ao pé das estantes para que deixássemos ali as nossas coisas – Eles devem estar todos lá em cima. – explicou ela quando não houve qualquer sinal de vida naquela casa para além de nós.
Subimos as escadas até ao andar superior e percorremos um pequeno corredor até à porta ao fundo do mesmo. Depois da Lola abrir a porta o som do que pareciam ser corridas de carro e as vozes do Enzo, Santiago e Diego fizeram-se ouvir.
- Olá maninha. – disse o Enzo cujo sorriso aumentou assim que me viu também – E princesa. – ele atirou o comando da playstation, por momentos fiquei confusa com aquilo mas depois lembrei-me que ele ganhava imenso dinheiro com os combates e isso devia ser apenas a ponta do iceberg, e levantou-se tentando ao máximo fazer o sorriso que tinha nos lábios desaparecer mas parecia uma missão impossível – É verdade, temos o relatório para fazer. – como se ele se tivesse esquecido daquilo.
- Pensava que só nos íamos encontrar mais tarde. – ouvi o Santiago, que entretanto também se tinha levantado da cama e se tinha aproximado da minha prima a quem agora estava agarrado, dizer.
- Se quiseres posso ir embora. – foi a resposta dela e não precisei de olhar para saber que aquele tom era bastante provocador, o que me fez automaticamente revirar os olhos e tentar afastar alguns pensamentos da minha cabeça.
- Claro que não. Vamos sair. – disse ele desta vez para o grupo antes de agarrar na mão da Meg e saírem os dois do quarto que apesar de até ser espaçoso parecia pequeno com tanta gente ali dentro.
- Qualquer coisa liga. – a Megan disse-me com um pequeno sorriso antes de desaparecer pelo corredor.
- Queres ir fazer alguma coisa? – perguntou o Diego à Lola. Apesar de estarem bastante longe, ao contrário do Santiago e da Megan anteriormente, era preciso ser cego e surdo para não perceber que havia ali alguma coisa. Tínhamos de falar sobre aquilo, não podia ser a única a ter constantemente a sua vida amorosa a ser escrutinada.
- Atenção. – o tom protetor do Enzo fez-se ouvir enquanto olhava para o outro rapaz.
- Por favor, eles já são crescidinhos. – disse eu tentando acalmar os ânimos e claro, não estar no lado do Enzo e ajudar a minha amiga.
- Exato, obrigada Sky. – a Lola aproximou-se do Diego de forma a agarrar na mão dele e puxá-lo – Não tens de estar constantemente a armar-te em protetor, nós sabemos tomar conta de nós, eu sei tomar conta de mim, muito obrigada. – foi a última coisa que ela disse antes de desaparecer com o Diego a reboque.
Ajudar a Lola tinha parecido uma óptima ideia até chegar aquele momento em que me apercebi que ia ficar sozinha com o Enzo. No quarto dele. Sozinhos. Maravilha.
- É melhor começarmos o relatório. – disse eu de forma a acabar com aquele silêncio desconfortável – Quanto mais depressa o fizermos mais depressa vamos à nossa vida.
O Enzo voltou a atirar-se para a cama e acenou com a cabeça para que eu fizesse o mesmo. Sentei-me ao lado dele mas com alguma distância entre nós, não fosse ele começar com ideias, e abri o caderno que tinha tirado da mala antes de subirmos para ali.
- Eu não tenho pressa nenhuma. Estamos a passar tempo juntos por isso temos de aproveitar todos os minutos.
- Isso é tudo muito bonito mas temos de entregar isto até amanhã. E de certeza que a tua namorada a ti te passa mas a mim? Não me parece por isso vamos lá meter mãos à obra.
- Isso parece-me bem. – revirei os olhos com o comentário do Enzo mas sabia perfeitamente que a culpa era minha devido à minha escolha de palavras. Atirei-lhe o caderno que não lhe acertou por pouco e levantei-me da cama para ir até à pequena secretária de madeira que havia no quarto para agarrar no portátil que ali se encontrava – Espera, dá-me isso. – juntei as sobrancelhas e estendi-lhe o objecto enquanto voltava a sentar-me – Tenho de fechar aqui uma coisa antes de to dar para as mãos. – fiz uma careta enojada imaginando logo que se devia tratar de pornografia ou algo do género – Pronto já está.
Voltei a agarrar no portátil e ajeitei-me o melhor possível com as costas encostadas à parede atrás de mim e o portátil no meu colo. Abri um documento word e comecei por escrever o título.
- Estive a passar alguns dos apontamentos da Lola e da Meg para ser mais fácil fazer isto uma vez que não estávamos a prestar nenhuma atenção ao início da aula.
- Eu lembro-me. – o sorriso do Enzo voltou a surgir – Estavas a fazer-me perguntas sobre a minha vida amorosa e sexual. – fiz uma careta antes de virar a cara para ele com um ar bastante sério – Tudo bem, vamos lá fazer isto.
Eram cerca de seis horas da tarde quando começámos o relatório comigo a escrever tudo no computador enquanto o Enzo lia os vários rascunhos que tínhamos tanto no meu caderno como no dele e apesar de ter sido uma única aula, demorámos duas horas e cinco páginas de word a dar aquilo como concluído. Não querendo mais nenhum problema decidi mandar o relatório para o e-mail da Chanfrada.
- Esta casa está demasiado silenciosa. – constatou o Enzo enquanto descíamos as escadas de volta para o andar inferior – A minha mãe hoje vai ficar em casa dos patrões, queres cá dormir?
Olhei para ele de olhos semicerrados – Não abuses.
- Só te estava a convidar para passarmos mais um bom bocado como amigos mas pronto. E tens razão, não é um convite muito bom tendo em conta que partilho o quarto com o meu irmão. Só se ele fosse sair… - revirei os olhos por ele continuar a pensar naquilo – Mas e que tal jantar? – perguntou o Enzo a sorrir – Parece que somos só nós. – disse ele mostrando-me dois bocados de papel gatafunhados.
Quero agradecer-vos imenso por continuarem a seguir a história e por todos os vossos comentários e apoio.
Espero seriamente que estejam a gostar, ainda há muito para acontecer porque isto é apenas o início.
Beijinhos e muito obrigada!