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Continuava parada no mesmo sítio a olhar para aquele estranho sem conseguir mexer-me e afastar-me dali tanto por ele continuar a agarrar no meu pulso como por estar mesmo sem reação. O medo e o sentimento de impotência tomavam conta do meu corpo, fazendo-me sentir apavorada da mesma forma que me tinha sentido há não tanto tempo atrás.
- Tira as mãos. – engoli em seco e pareci recuperar os comandos do meu corpo ao ouvir a voz do Enzo atrás de mim.
- Então meu? Só nos estamos a divertir. – o rapaz continuava agarrado a mim e a sorrir – Não posso deixar uma rapariga tão bonita a dançar sozinha.
- Ela não está sozinha. – o olhar do Enzo era tão intenso como na altura em que tinha estado a lutar naquele ringue improvisado. Ao contrário da maior parte do tempo, aquele sorriso provocador habitual não fazia parte da sua expressão naquele momento, muito pelo contrário, parecia totalmente pronto para matar alguém com as próprias mãos e apesar de isso dever deixar-me assustada, naquele momento fazia-me sentir como se fosse uma tábua de salvação – Agora larga-a.
- Tudo bem Enzo. – o rapaz resmungou enquanto me largava finalmente, juntando de seguida um revirar de olhos – Ficas sempre com as melhores. – acrescentou antes de se afastar no meio de toda aquela confusão de corpos.
Fiquei alguns segundos que pareceram uma eternidade no mesmo sítio, a olhar na direção que o rapaz tinha tomado antes de desaparecer. A minha respiração começava a acalmar assim como o batimento descompassado do meu coração mas estava longe de me sentir normal. Tinha saído dos Estados Unidos na esperança que as coisas mudassem para melhor mas em vez disso o passado continuava a perseguir-me e não sabia se era obra do destino ou se era eu que fazia com que as coisas se repetissem uma e outra vez.
- Podes levar-me para a universidade?
- Queres mesmo ir embora? – assenti com a cabeça e ele repetiu o meu movimento a seguir – Tudo bem, anda.
Não me dei ao trabalho de voltar para junto do grupo para avisar a minha prima que me ia embora. Um rápido olhar naquela direção fez-me ver que nenhum dos quatro se tinha dado conta do que tinha acontecido ali à excepção do Enzo e a Megan continuava completamente colada ao Santiago. Só ia conseguir separar aqueles dois com um pé de cabra.
Segui o Enzo para fora da discoteca e encolhi-me de frio assim que chegámos ao exterior. Abracei-me a mim própria, esfregando os braços numa tentativa de afastar o frio e a réstia de medo que ainda sentia depois do que tinha acontecido no interior do edifício.
- Toma. – levantei o olhar quando voltei a ouvir a voz do Enzo e deparei-me com o casaco de cabedal dele estendido na minha direção – Veste-o. – ele continuava com aquele ar de antes, a expressão dura e tão estranha nele pelo menos do que eu conhecia dele.
Agarrei no casaco e vesti o mesmo, apertando de seguida o fecho até a cima. O casaco ainda me ficava bastante grande e sentia perfeitamente o perfume do Enzo a chegar ao meu nariz. Aquilo era bastante estranho mas basicamente era mais uma coisa para acrescentar à lista de estranhezas desta noite.
O Enzo subiu para a mota e fez-me sinal com a cabeça para que eu fizesse o mesmo. Subi para o veículo e desta vez coloquei mesmo os meus braços à volta do tronco dele, encostando tanto o meu peito como a cara às suas costas. Era provável que ele ficasse com a ideia errada mas ele parecia estar com um humor tão péssimo como o meu por isso até podia ser que percebesse que aquilo não mudava nada entre nós.
As mãos dele agarraram as minhas, ajeitando-as melhor de maneira a dar-lhe a mobilidade necessária para que arrancasse dali para fora e assim que a conseguiu foi exatamente isso que fez. Continuei com a cara encostada às costas dele, com aquela mistura de cheiros uns agradáveis como o perfume dele ou outros mais desagradáveis como o cheiro a tabaco e a suor a chegar-me ao nariz mas mesmo assim sentia-me segura naquele preciso momento. O que era ridículo porque era do Enzo que estávamos a falar.
A viagem pareceu demorar séculos, o que foi de estranhar uma vez que tal como a viagem até à discoteca, ele não foi propriamente a cumprir os limites de velocidade. Quando senti a velocidade da mota abrandar, abri os olhos e afastei a cara das costas do Enzo, mantendo ainda assim os braços à volta dele, mesmo a tempo de ver a mota a entrar no campus da universidade e seguir em direção ao edifício dos dormitórios femininos.
- Obrigada. – agradeci-lhe ao descer da mota. Estava a agradecer por mais do que ele trazer-me de volta e sabia que ele ia perceber isso.
- De nada. – respondeu continuando sentado na mota mas tendo-a parada e desligada – E não foi assim tão mau ir agarrada a mim pois não?
E claro que ele estava de volta. Revirei os olhos tanto devido àquela pergunta como ao sorriso provocador que tinha voltado a fazer a sua aparição nos lábios do Enzo.
- Foi horrível, cheiras bastante mal. – respondi sorrindo-lhe também mas bastante ironicamente - Aconselho-te vivamente a ir tomar um banho.
- Isso é um convite? – ok a culpa tinha sido minha ali. Imagens da vez em que tínhamos partilhados os chuveiros exatamente no edifício que se encontrava atrás de mim passaram-me pelo cérebro e deixaram-me sem conseguir pensar como deve ser ao recordar o corpo despido do Enzo e o quão próximos tínhamos estado. Ele era um idiota mas ele era um bom idiota.
- Claro que não. Já me chega a vez em que tive de tomar banho contigo. É melhor entrar preciso de ir descansar e tu deves ter coisas para fazer. – e assim que disse aquela frase lembrei-me da loira que tinha estado toda agarrada a ele na discoteca. Nem sabia como é que ele tinha dado conta do que se estava a passar comigo quando estava tão distraído com a loira falsa mas de qualquer das maneiras estava feliz por ele ter conseguido fazê-lo – Até amanhã.
- Skylar.
Vire-me para trás quando o Enzo me chamou, usando mais uma vez o meu nome em vez de me chamar princesa como adorava fazer. Estávamos a fazer alguns progressos mas eu tinha a certeza que aquilo ia durar pouco tempo.
- Que foi?
- O meu casaco.
- Não tens mais? – perguntei com um revirar de olhos enquanto puxava o fecho do mesmo para baixo.
- Tenho mas não os deixo em lado nenhum ou com ninguém. Na verdade és a primeira a usá-lo. – juntei as sobrancelhas com aquela última frase. Não sabia se me devia sentir importante ou se estava a ser enganada – Por isso é que preciso dele de volta.
Sim, o Enzo não tinha nada a ver com o Martin, na realidade eles eram o verdadeiro oposto um do outro. Enquanto que o Martin era um verdadeiro cavalheiro, super querido e bom rapaz, o Enzo era um idiota chapado que para além de andar metido em tudo o que era basicamente ilegal também lhe era impossível ser simpático ou preocupar-se com as outras pessoas.
Mas agora éramos amigos. Eu. Enzo. Amigos. Ia correr super bem. A única coisa que essa frase me fazia ficar descansada é que isso queria dizer que podia deixar de me preocupar com ele e continuar a aproximar-me do Martin e desenvolver a nossa relação. Pelo menos esperava eu.
Despi o casaco e atirei-lho demasiado agressivamente para alguém que me tinha salvo naquela noite mas por mais que tentasse o Enzo dava-me cabo dos nervos.
- Espero que estejas feliz agora. – acrescentei antes de lhe virar costas e entrar no edifício dos dormitórios sentido o olhar do Enzo nas minhas costas e sabia perfeitamente que ele estava a sorrir.
**
O meu objetivo inicial era tomar um banho rápido mas os planos saíram-me totalmente ao lado e demorei mais tempo do que o suposto. Os balneários estavam completamente vazios devido às horas que eram e queria tirar de mim o cheiro a fumo e transpiração da discoteca. Havia ainda outro motivo para a longa duração do banho e este era a minha enorme necessidade de esfregar bastante bem a minha pele, na tentativa de afastar todas as memórias do que tinha acontecido.
Já tinha passado imenso tempo desde a última vez que tinha feito aquilo; tinha conseguido aos poucos acabar com aquele hábito depois do que tinha acontecido mas com os acontecimentos desta noite e as memórias vindas à tona, sentia a necessidade de me limpar completamente.
Voltei para o meu quarto apenas enrolada à toalha e vesti o pijama um pouco à pressa desejando apenas entrar na cama e dormir na esperança de afastar todas aquelas recordações. Assim que fiquei com os cobertores puxados até cima, agarrei no telemóvel e mandei uma mensagem à Megan para que ela soubesse que me encontrava sã e salva nos dormitórios apesar de desconfiar que ela ainda nem tinha dado conta da minha ausência uma vez que estava demasiado distraída com o Santiagom mas de qualquer das maneiras agora estava avisada.
Comecei a sentir-me cada vez mais cansada e a adormecer até conseguir finalmente fazê-lo. Juntei as sobrancelhas ao sentir carícias na minha bochecha e de seguida essa mão a dirigir-se até aos meus lábios, passando lentamente pelos mesmos.
Abri os olhos lentamente e tive de esfregá-los para afastar a visão enevoada e ter perfeita compreensão do que se estava a passar. Assim que o fiz estaquei automaticamente.
- Olá boneca.
Aqueles olhos azuis olhavam directamente para os meus, aqueles olhos azuis que eu tinha achado tão pacíficos e bonitos um dia mas que tinham demonstrado ser nada mais do que uma grande ilusão e serviam apenas para esconder a verdadeira identidade da pessoa que os possuía.
- Não. – tentei abanar a cabeça mas não consegui fazê-lo porque aqueles dedos fortes seguravam agora o meu queixo – Tu não estás aqui, tu estás nos EUA. Tu não estás aqui. – repeti mais baixo numa tentativa de me fazer acreditar que aquelas palavras eram a verdade.
- Tinha saudades tuas e sei que também tens saudades minhas. – o meu peito subia e descia descompassadamente enquanto o medo voltava a apoderar-se de mim naquela noite – Va lá Sky nós passámos bons tempos juntos.
- Por favor. – pedi num tom baixo sentindo as lágrimas a picar-me os olhos – Por favor. Theo deixa-me em paz.
O sorriso dele aumentou à menção do seu nome saído dos meus lábios e aproximou-se de mim, fazendo-me automaticamente encolher e desviar o olhar.
- Não te consegues esquecer de mim Sky. E também não vais conseguir ficar longe muito tempo. Sabes que eu te encontro, onde quer que estejas.
Levantei-me de um salto da cama. O meu peito subia e descia a um ritmo demasiado rápido enquanto eu tentava ao máximo apoderar-me de todo o ar possível ao mesmo tempo que arfava em desespero. A camisola do meu pijama estava completamente colada às minhas costas.
Tinha sido um pesadelo. Só um pesadelo. Mas tinha parecido tão real que ainda estava completamente descontrolada.
Voltei a deitar-me, puxando as mantas para cima de mim novamente porque apesar de estar completamente transpirada sentia-me protegida assim. Tentei dizer a mim própria que apesar de ter sido horrível aquele pesadelo fazia todo o sentido. O rapaz da discoteca era tão parecido fisicamente com o Theo e tinha-me chamado boneca que era absolutamente normal que o meu subconsciente me fizesse lembrar dele.
Mas então porque é que eu continuava a sentir-me tão insegura e aterrorizada?
Demorei séculos a publicar capítulo eu sei desculpem :c
Mas pronto é um capítulo "especial" já que temos mais Enzo e Sky e também um bocadinho do passado dela e.e as peças do puzzle começam a juntar-se e.e
Espero que estejam a gostar da história e muito obrigada por todo o apoio! Beijinhos c: