Saltar para: Post [1], Comentários [2], Pesquisa e Arquivos [3]
13.06 – 1:05 am
Skylar mantinha-se totalmente imóvel, sentada em cima do tampo da sanita enquanto Megan lhe passava um pano molhado pela cara para lhe retirar os resquícios de sangue que manchavam a mesma.
- Fala comigo, Sky… - pediu a rapariga continuando aquele trabalho, tentando fazê-lo o mais rapidamente possível.
- Ele está morto. – murmurou a outra de volta, os seus olhos fixos na porta da casa de banho como se esperasse que a porta fosse aberta e viesse alguém ataca-la – Está morto. – repetiu novamente mas desta vez em espanhol enquanto desviava o olhar para o de Megan.
Três meses antes
Tratar de tudo o que era necessário para a substituição do meu telemóvel foi mais trabalhoso e demorou muito mais tempo do que pensava, fazendo com que eu e a Megan não tivéssemos tempo para mais nada a não ser voltar para a embaixada.
- Quando é que podemos ir para o nosso quarto na universidade? – perguntei ao meu pai enquanto levava uma garfada de comida à boca.
- São precisos mais uns dias, é preciso tratar ainda da vossa entrada e analisar o sítio onde vão ficar. – um dos problemas de ser filha de um embaixador eram os cuidados excessivos que tinha de ter com tudo. Mas não era apenas o facto de ser filha do embaixador que fazia com que o meu pai fosse tão desconfiado de tudo - Mas vocês podem ficar aqui à vontade, Sky. – respondeu ele com um ligeiro sorriso.
Não me levem a mal, eu adoro o meu pai e apesar de na maior parte das vezes os sentimentos serem contraditórios, também gostava da Kendra o problema é que ver tudo isto, ver toda esta vida fazia-me sempre pensar na minha mãe, no facto de ela já não estar cá e fazer apenas parte do passado. Um passado que eu começava a não recordar muito bem e o que acabava por me deixar ainda mais chateada com a tentativa de ter uma mãe nova.
- Eu sei mas preferia ir para lá. – pousei os talheres do prato apesar de ainda ter bastante comida no mesmo e recostei-me na cadeira. O olhar de todos foi posto em mim, excepto a Taylor que continuava demasiado entusiasmada a contar ervilhas para prestar atenção à conversa de adultos que decorria à sua volta.
- O que a Sky quer dizer, - começou a Meg tentando salvar a situação como sempre fazia – é que não queremos dar trabalho e isto ainda é demasiado estranho para nós, é mais fácil tendo o nosso espaço.
Não a corrigi, parte daquilo era verdade mas mesmo que quisesse contestar a outra parte não me apetecia começar uma discussão naquele momento. O resto do jantar foi passado apenas com conversas de circunstância até todos acabarmos, despedirmo-nos uns dos outros e eu e a Megan seguirmos para o andar superior, dirigindo-nos aos quartos que nos tinham sido designados enquanto ali ficássemos.
- Podias ser menos antipática às vezes.
- Eu não gosto de fingir que gosto quando as coisas não estão do meu agrado. – respondi de volta com um encolher de ombros enquanto ficávamos ambas no corredor, à porta dos nossos quartos que eram lado a lado.
- E porque é que não falaste com o teu pai sobre o assalto? Eu acho que devias apresentar queixa. Sabe-se lá o que é que vão fazer com a tua informação ou se aquilo não volta a acontecer.
Rodei a maçaneta de maneira a abrir a porta e lancei um último olhar à minha prima – Não te preocupes, não vai acontecer nada. Até amanhã.
Mal sabia eu que essa frase era tão verdadeira como eu estar com saudades dos Estados Unidos.
**
Os dois dias seguintes foram passados a descontrair por Espanha. Depois das coisas da universidade estarem tratadas, excepto infelizmente o nosso quarto, pudemos dedicar-nos a passear por Madrid e conhecer o melhor que podíamos o espaço que nos rodeava. Por agora tinha de me contentar a manter-me apenas ali mas mal tivesse uma oportunidade de poder passar mais dias livres, ia aproveitar para conhecer outras zonas do país.
Levantei-me da cama com um sorriso após desligar o despertador e dirigi-me até à casa de banho que tinha no meu quarto para tomar um duche rápido e vestir-me. O semestre começava hoje e eu estava mais do que entusiasmada, apesar de preferir a descontracção a ter aulas.
Mal fiquei pronta, desci até ao andar inferior e caminhando pelos corredores que se destinavam apenas a nosso uso e ao pessoal da staff que tinha um estatuto superior, entrei na cozinha onde havia alguma algazarra devido à preparação das refeições.
- Por favor, menina! Vá para a sala que eu levo-lhe o pequeno-almoço! – pediu Jacinta, a senhora de idade que era a governanta daquele local. Soltei uma gargalhada quando as mãos dela vieram agarrar nas minhas e me tentava puxar em direção da sala.
- Eu não gosto de ser tratada como se fosse especial, posso muito bem comer aqui. – respondi de volta deixando que ela me fosse puxando pelo corredor.
- Mas a menina é especial e tem de comer na sala como toda a gente daqui. Além disso a sua prima já lá está à espera.
Sorri e inclinei-me na direção dela, dando-lhe um beijo na bochecha – Pronto, eu vou. Mas só porque a Megan já lá está!
Voltei a sorrir quando ela suspirou de alívio e depois de um aceno de cabeça voltou a fazer o caminho para trás em direção à cozinha. Abri as grandes portas de madeira que davam para a sala de refeições e o meu olhar parou imediatamente na Megan que já se encontrava sentada à mesa de telemóvel na mão a teclar uma mensagem que seria muito provavelmente para a sua mãe preocupada.
- Finalmente, princesa.
- Não me chames isso. – pedi com uma careta enquanto caminhava até à mesa e me sentava na cadeira vazia ao lado da minha prima. Aquele tinha sido o apelido que o outro me tinha dado. O outro… era muito estranho mas uma parte de mim queria vê-lo novamente. Para lhe dar um pontapé nas partes baixas e riscar-lhe aquela mota. Apenas por vingança. Hm… claro que sim…
- Como andas a fugir de toda a gente perdeste o comunicado. – juntei as sobrancelhas ao ouvir aquelas palavras da Megan. A última vez que tinha ouvido um comunicado tinha sido para ser informada que o meu pai e a sua namorada nova, sendo que também tinha sido comunicada da sua existência algum tempo antes, iam casar. Portanto a minha relação com comunicados não era a melhor – O teu pai veio avisar que está tudo pronto para irmos para o campus. Ele ficou de rastos mas sabe que é isso que queres por isso podemos mudar-nos quando quisermos.
Os cantos dos meus lábios foram subindo para um sorriso super entusiasmado acabando depois num guinchinho – Finalmente! – soltei extasiada – Podemos fazer isso hoje, depois das aulas. – sugeri aos pulinhos na cadeira onde me encontrava como uma verdadeira criança.
- Tens a certeza que não queres ficar aqui? – o olhar da Megan era triste. Ela sabia que a minha relação com o meu pai e com o resto da família não era a melhor mas ela ainda tinha esperanças que as coisas se resolvessem. E agora que ela própria estava longe da pessoa que mais lhe era importante no mundo, parecia querer ainda mais que as coisas para o meu lado se resolvessem. Quando lhe lancei um olhar juntamente com uma careta ela encolheu os ombros – Que pergunta.
A porta de madeira foi aberta mostrando Jacinta a empurrar um carrinho de metal onde se encontrava tudo o que estaria à nossa disposição para o pequeno-almoço e com isso a conversa chegou ao fim.
**
A contragosto do segurança que tinha sido designado para nos levar, eu e a Megan acabámos por sair sozinhas e pelos nossos pés da embaixada, dirigindo-nos até à universidade que não ficava muito longe dali e que por isso não era preciso que um homem de dois metros e noventa quilos nos levasse num carro preto de vidros fumados. Queria ter uma vida normal como estudante, não ser confundida como uma rapariga que pertencia à máfia.
- Não tires o telemóvel para ver o mapa. – soltou a Meg mal passámos o portão de entrada e nos encontrámos no exato local onde estávamos naquele fatídico dia – Sabe-se lá se o teu amigo ladrão não volta a aparecer para levar outro.
Soltei uma gargalhada com aqueles seus comentários e abanei a cabeça – Não te preocupes, não o vou tirar da mala e além disso até já sei qual é a sala para onde vamos. – agarrei na mão dela e puxei-a para que entrássemos no grande edifício que se encontrava à nossa frente.
Fui percorrendo os corredores por onde passávamos com o olhar assim como as pessoas que se encontravam à nossa volta. Ainda me era estranho estar ali, no meio de todas aquelas pessoas que eu nunca tinha visto, que não sabiam nada sobre mim, sobre quem era o meu pai.
A porta da sala onde íamos ter aula já se encontrava aberta e por isso mesmo entrámos na mesma e escolhemos os nossos lugares, mais ou menos a meio da sala de maneira a podermos prestar atenção à aula mas também podermos divagar se aquilo se tornasse bastante aborrecido.
- Acho que vou morrer antes da aula começar. – sussurrou-me a Meg à medida que mais alunos iam entrando naquele recinto – Estamos aqui e aquele professor é tão bom que doí.
- Lamento desiludir-te mas podes ir perdendo as esperanças. – olhei para a minha direita quando ouvi uma voz feminina vir desse sítio e deparámo-nos com uma rapariga de cabelo escuro e olhos muito azuis – É gay. – acrescentou ela com um pequeno sorriso e um encolher de ombros – Posso sentar-me aqui? – quando ambas acenámos com a cabeça ela voltou a sorrir – Sou a Lola Suarez.
- Skylar Mars e Megan Price. – apresentei eu apontando para mim e depois para a minha prima.
- Americanas? – perguntou ela sorrindo novamente assim que voltámos a assentir afirmativamente com a cabeça – Não é costume termos americanas cá.
- A Sky é metade espanhola. – esclareceu a Meg enquanto se inclinava para a frente de maneira a conseguir olhar para a Lola uma vez que eu é que me encontrava no meio das duas – E sempre quisemos vir para cá.
- Bem, então sejam muito bem-vindas. Espero que não se desiludam com isto aqui, porque não podíamos ser mais banais.
- Eu não dirigia isso. – a Meg fez uma careta – No dia em que chegámos a Skylar foi roubada mesmo à descarada. E eu acho que o rapaz anda cá, o que só torna as coisas mais assustadoras, sabe-se lá o que mais ele pode fazer.
As sobrancelhas de Lola juntaram-se antes de ela desviar o olhar na minha direção – Quando é que vocês chegaram?
- À dois dias.
Houve uma pausa enquanto a rapariga à minha frente parecia dar a volta à cabeça – Oh merda. – juntei as sobrancelhas para lhe perguntar o que se passava mas não cheguei a fazê-lo.
- Muito bem, sejam bem-vindos a este semestre. Vamos deixar-nos de conversa e passar ao trabalho sim?
Aqui está mais um capítulo e mais um cheirinho daquela noite que vos está a deixar com a cabeça a andar às voltas e.e espero que tenham gostado, quero agradecer-vos por todos os comentários e por seguirem mais uma história minha.
Até quarta!