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Subi para os ombros do Bryan tal como ele tinha dito para fazer e consegui chegar à janela mas não conseguia ver nada lá para dentro. A janela estava demasiado suja e lá dentro estava demasiado escuro para conseguir perceber o que lá dentro se passava.
Desci das costas dele e apesar de a nossa relação já não estar tão estranha como estava antes, limitei-me a ficar em silêncio. Não tinha nada para lhe dizer, não conseguia pensar nele quando a minha irmã estava com uma pistola apontada à cabeça e a culpa era minha.
Acho que a respiração faltou-me por segundos quando a Reed disse que estávamos no sítio certo mas depressa voltei a mim e tirei do bolso das calças o telemóvel. Marquei o número da minha mãe com uma enorme rapidez e felizmente ela não me fez esperar muito tempo.
- Encontrámo-la. – apesar de ela ter falado depois de mim, não estava a prestar qualquer atenção, estava sim a pensar no que fazer, como entrar na fábrica e como tirar a minha irmã de lá – Quantos homens? – repeti a pergunta da minha mãe e ouvi a Reed a responder que eram bastantes – Alguns. A polícia tem de vir. – o Jake não queria a polícia mas nós precisávamos de apoio ou a minha irmã acabava morta ou levada pelo Jake ou a outra opção era a minha mãe entregar-se àquele maluco. Nada ideias que eu aprovasse – Eu sei mãe, mas é a Deborah. Precisamos da polícia e vocês têm de se despachar.
Desliguei a chamada e voltei a guardar o telemóvel no bolso – A tua mãe avisa o teu tio? – perguntou a Reed ao que eu assenti com a cabeça.
- O que é que fazemos agora? – foi a vez do Bryan. Eu queria entrar. Queria tirá-la de lá o mais depressa possível mas não estava a ver como.
- As fábricas têm sempre portas laterais. – lembrei-me. Sim, podia esgueirar-me lá para dentro sem que dessem por mim – Vocês já fizeram bastante, obrigada por nos ajudarem a encontra-la mas isto agora é connosco. – olhei para eles os quatro – É melhor irem embora.
- Não te vou deixar aqui sozinha com ideias suicidas de entrar dentro desta fábrica sozinha.
Tirei a minha pistola que estava presa na parte de trás das minhas calças e levantei a mesma – Eu sei o que é que estou a fazer, Bryan. E vou armada.
- Devlin, o Bryan tem razão, não deixa de ser uma ideia parva. Tens de esperar pelos teus pais e pela polícia.
- Dom… - desviei o olhar do rapaz para a namorada dele – Não vale a pena, ela vai entrar. – a Reed já me conhecia demasiado bem para saber que eu era incapaz de ficar quieta à espera quando sabia que podia fazer alguma coisa – Por isso a única coisa que podemos fazer é entrar com ela. – apesar do que ela disse, juntei as sobrancelhas quando a Reed virou costas e começou a afastar-se depois – Mas também temos de ir armados. – disse ela enquanto agarrava nuns pedaços de metal que haviam para ali.
Assim que todos arranjaram alguma coisa para servir de armas, comecei a caminhar pelo outro lado da fábrica. Tal como eu tinha dito, havia uma porta lateral e tentei abri-la sem fazer muito barulho. Eu conhecia bem aquela fábrica, estava fechada à anos porque os donos tinham decidido expandir o negócio e ir para uma fábrica muito maior.
Estávamos numa casa de máquinas quando a porta por onde tínhamos entrado abriu atrás de nós. Levantei logo a minha glock e apontei naquela direção mas baixei a mesma quando vi que era o meu pai e a minha mãe.
- Qual foi a parte do esperar que não percebes, Devlin?
- Pai, eu sabia que o esperar era vocês entrarem e eu ficar lá fora. – respondi antes de abraçar os dois com força – O que é que vamos fazer agora?
- Os teus tios estão lá fora à espera da polícia. – respondeu a minha mãe enquanto olhava para nós os quatro prestes a dizer que nós devíamos ir lá para fora e esperar também – Já sei que não vale a pena dizer-vos para sair, não é? – assentimos todos com a cabeça e ela suspirou – Muito bem. Vamos ter cuidado. Não se aproximem demasiado porque os homens do Jake estão sempre armados e são perigosos.
- Dev. – já tinha recomeçado a andar para a porta que nos levava para a outra divisão quando o meu pai falou – Falta-te isto. – levantei a mão esquerda e agarrei no silenciador que ele me tinha atirado. Sim, pais polícias eram muito bons nestas ocasiões. Só esperava que estas ocasiões não voltassem a acontecer. Eu adorava armas mas preferia não ter de as usar para salvar a minha irmã ou quem quer que fosse.
Assim que passámos aquela porta, chegámos à zona principal da fábrica e era aí que tínhamos de ter o máximo de cuidado. Colocámo-nos atrás de paletes e pilhas de caixas e objectos abandonados e foi no momento em que ia sair de trás de uma palete para a outra que a vi. Parei automaticamente.
A Deborah estava sentada numa cadeira, amarrada à mesma mas parecia bem. Graças a deus. Estava sozinha mas no momento em que o resto do grupo chegou ao pé de mim e percebeu que eu estava ali especada e percebeu o porquê, tivemos todos de nos esconder porque a porta da frente da fábrica foi aberta.
- Chegou a hora, minha querida. – tentei controlar o vómito quando ouvi o Jake a falar – Vou mandar mensagem à tua mãe com o sítio onde nos vamos encontrar com ela.
- Ela nunca vai aparecer.
- Claro que vai, Deborah. Pensava que já conhecias a tua mãe melhor que isso. – assim que ele largou o telemóvel da Deborah, a minha mãe tirou o telemóvel do bolso para ler a mensagem que tinha acabado de receber – Pronto, já está. Espero que não te importes por ficar aqui mais um bocadinho. Não te preocupes, a tua mãe vai fazer-te companhia num instante. É uma pena não conseguir trazer a tua irmã também mas paciência. Duas de três já é muito bom.
Não consegui ouvir mais. Não consegui continuar a olhar para aquele filho da puta. Saí de trás palete de arma levantada e disparei. Errei o alvo mas apenas por centímetros porque em vez de lhe acertar no coração, acertei no ombro. Mas já era um começo.
- Devlin! – ouvi alguém gritar atrás de mim e depois aconteceu tudo demasiado depressa.
O Jake arrastou-se para uma zona onde não o conseguíssemos ver para se proteger de mais tiros e eu corri até à minha irmã – Estás bem? – perguntei-lhe enquanto pousava a pistola no chão e lhe tirava as cordas.
- Dev. – sabia que ela estava a sorrir mas não pude levantar o olhar das cordas, tinha que me despachar – Eu sabia que tu ias ser a teimosa que ia cá chegar primeiro.
No preciso momento em que a consegui soltar, os tiros começaram. Os homens do Jake abriram a porta da frente e ao fundo da fábrica o meu pai e a minha mãe começaram a disparar. Puxei a Deborah para baixo e puxei-a depois com a mão para corrermos até uma zona onde nos podíamos esconder.
- Estás ferida? – perguntei olhando para ela para ver se via sangue em algum lado.
- Não, estou bem.
Os homens do Jake começaram a cair, um a um à medida que os meus pais disparavam na direção deles. O bom timing da polícia foi aparecer quando o último levou um tiro mesmo no meio da testa. Saí juntamente com a Deborah para a zona onde os meus pais e os nossos amigos se começavam a juntar.
O meu coração continuava apertado no peito mas já estava mais calma. Muito mais calma. As coisas tinham corrido bem. A Deborah estava bem.
- Devlin!
Não sei o que é que aconteceu, só percebi depois de ter acontecido, depois de não poder evitar. Estavam todos a abraçar a Deborah enquanto eu estava ali a sorrir e a pensar, alheia a tudo. O Jake saiu do sítio onde estava de arma na mão a apontar na minha direção. Eu ia morrer mas não morri. Em vez disso, foi a pessoa que eu mais amava no mundo.
Cai no chão quando a Deborah me empurrou e pareceu acontecer primeiro a correr e depois em câmara lenta. A bala atravessou a Deborah, ela caiu de joelhos no chão com o sangue a jorrar da ferida que ela tinha no peito. A minha mãe disparou, acertando no Jake que caiu também no chão.
Gatinhei até à minha irmã e pressionei com força a ferida que ela tinha no peito para tentar impedir que ela perdesse sangue mas o chão já estava um lago de sangue. Só sangue.
- Dev.
- Shh, vais ficar bem. – disse sentindo as lágrimas a escorrer-me das bochechas enquanto continuava a pressionar a ferida – Precisamos de uma ambulância! – gritei.
- Dev. – uma das mãos da Deborah pararam em cima das minhas – Vou morrer. – abanei a cabeça – Vou sim. – a voz dela estava tão baixa, tão fraca – Vou morrer e tu vais ficar viva. Ainda bem. – continuei a abanar a cabeça enquanto ela sorria – Eu sei que consegues viver sem mim, eu não consigo viver sem ti.
- Não consigo viver sem ti, estúpida. Não vais morrer.
- Ele está apaixonado por ti. – limpei as lágrimas com a parte de cima do braço, sem parar de pressionar a ferida dela. Levantei o olhar para o Bryan que estava a alguns metros de nós, agarrado à Reed, assim como o Dom – Já não nos vamos chatear por causa de um rapaz. Eu sei que também o amas.
- Pára. Pára de falar. Estás a cansar-te. – levantei novamente a cabeça mas agora a olhar em volta – Onde é que está a merda da ambulância?
- Não me percas e a ele também.
Baixei novamente o olhar para a Deborah e foi nesse momento que vi. Pela primeira vez na minha vida assisti a como era ver a vida de alguém a desaparecer dos olhos.
- Deborah. Deborah! – pressionei a ferida com mais força – Não me deixes, Deborah!
Larguei-a e sentei o rabo nos calcanhares enquanto sentia as minhas calças a ficarem ensopadas de sangue debaixo de mim.
**
Estava sentada naquela cadeira desconfortável mas apesar de saber onde me encontrava, parecia que não estava lá. Parecia um sonho. Sim, estava a sonhar, era isso.
Mas eu sabia que não era. Não sei quanto tempo passou nem como aconteceu mas de repente já estava em pé à frente da cova, abraçada a mim própria enquanto via baixarem o caixão da minha irmã. O caixão da minha irmã.
A multidão começou a dispersar-se quando o coveiro começou a tapar o buraco com a terra que tinha tirado. Eu limitei-me a ficar no mesmo sítio. O que é que ia fazer? Ia para casa onde para onde quer que olhasse via a minha irmã morta?
Despedi-me da Reed e do Dom e depois de eles se afastarem eu limitei-me a continuar parada ali, a ver o coveiro trabalhar.
- Devlin. – olhei por cima do ombro quando ouvi a voz do Bryan.
- Não estou com paciência, Bryan.
- A tua irmã morreu ontem e tu não falaste com ninguém desde aí. Acho que precisas de falar com alguém.
- E porque é que hei de falar contigo?
- Porque eu era o melhor amigo dela e sou teu amigo. – ri-me – O que é que foi?
- Ela estava apaixonada por ti. – ele sabia que eu não ia deixar de olhar para o local onde a Deborah estava por isso caminhou até ficar ao meu lado.
- Eu sei, ela disse-me. Sempre que uma rapariga começa a sentir alguma coisa por mim eu afasto-a. Mas era a Deborah. – olhei para ele e vi-o sorrir – Quando a Reed nos apresentou ela era a rapariga mais tímida que eu conheci em toda a minha vida e por mais estranho que pareça, nunca a vi como vejo as outras raparigas. Fiquei feliz quando começámos a ser amigos em vez de termos alguma coisa romântica. Ela era a minha melhor amiga, Devlin.
- Agora está morta por causa de mim. – abanei a cabeça para tentar afastar as lágrimas – Estúpida, estúpida. – fechei os olhos com força – Sabes o que é que ela disse antes de morrer? Que estava feliz por ser ela a morrer, porque não ia conseguir viver sem mim mas sabia que eu conseguia viver sem ela. Eu não consigo viver sem ela, Bryan. E claro que antes de morrer tinha que se armar em casamenteira.
O Bryan voltou a sorrir ligeiramente – O que é que ela disse?
Desviei o olhar e encolhi os ombros – Disse que tu estavas apaixonado por mim. E que agora que ela estava morta não a podia perder a ela e a ti.
- Dev, eu sei que não é uma conversa para ter agora mas que se lixe. Tal como senti com a Deborah que a única coisa séria que queria ter com ela era uma relação de amizade bastante forte, à medida que passámos mais tempo juntos e que nos fomos conhecendo eu percebi que sim, estava apaixonado por ti. Ainda estou.
- Eu sei. – assim que o coveiro acabou e se foi embora, caminhei até à sepultura da Deborah e fiquei parada em frente à mesma. Deborah Parker-Winston. 1995-2014. Amada pela família e amigos. – O que me fez afastar de ti foi o que eu sentia por ti. Nunca fui de me apegar às pessoas mas contigo foi diferente. O que eu senti por ti, nunca tinha sentido por ninguém. E pela primeira vez na minha vida estava feliz até que a minha irmã me disse que estava apaixonada por ti. Ela tem razão, nós podemos ficar juntos agora mas não está certo.
- Devlin, eu sei que com tudo o que estás a passar é um tempo difícil e não te estou a pedir para começarmos a namorar, estou a pedir para estarmos juntos, para tentarmos que resulte.
Olhei para ele e suspirei – Não vai resultar, Bryan. Não consigo estar com o rapaz de quem a minha irmã morta gostava, por mais que te ame. E além disso, o verão está a acabar, eu vou voltar para França. – aproximei-me dele e parei quando ficámos frente a frente – Arranjas melhor que eu, prometo. Se a minha própria irmã acha que eu fico bem sem a ter aqui, é porque eu sou demasiado fria para ficar com quem quer que seja. – estiquei-me até conseguir beijar-lhe a bochecha e antes que ele dissesse alguma coisa que me conseguisse convencer a esquecer tudo o que eu já tinha dito, arranjasse um argumento para eu ficar e ficar com ele, lancei um último olhar à campa e afastei-me dele, saindo do cemitério.
Este capítulo fui muito maior do que os anteriores mas espero que não tenham perdido a paciência e tenham deixado de ler a meio. Aconteceu muita coisa aqui.. tenho a certeza que muitas de vocês não estavam à espera que isto acontecesse mas bem eu queria drama e desde o início da história que tinha decidido que uma das gémeas ia morrer, depois acabei por optar pela Deborah por causa deste final, da personalidade da Devlin e do facto de até a própria irmã achar que para ela a morte de alguém é mais fácil de lidar.
Posso dizer-vos que deprimi bastante a escrever a morte dela assim como a conversa da Devlin e do Bryan mas pronto.. life is a bitch.
Espero que tenham gostado apesar de tudo e no sábado é o último capítulo, um segundo epílogo. Beijinhos c: