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Ocho

por Joanna, em 03.08.15

Apesar de ter todos os meus pensamentos a mil e não conseguir parar de pensar em tudo o que tinha acontecido nas últimas horas, acabei por me deixar levar pelo sono e adormecer sem sequer me dar conta.

Acordei sobressaltada ao ouvir o barulho da porta do quarto a fechar e apesar de a divisão se encontrar às escuras à excepção de alguma luz que vinha do lado de fora e que a cortina não estava a tapar, consegui ver a Megan a entrar e dirigir-se para a casa de banho. Por alguns segundos ponderei acender a luz do candeeiro e esperar até ela vir para a cama para falar com ela sobre o que se tinha passado mas rapidamente afastei aquele pensamento. Não queria falar da minha noite e também não a queria preocupar, o que sabia que ia acontecer se lhe relatasse o sucedido nos chuveiros com o Enzo.

Ajeitei-me na cama, enfiada debaixo dos lençóis e com a cara contra a almofada antes de voltar a adormecer.

**

Sentia os meus ouvidos a zumbir e por isso mesmo fiz uma careta enquanto levantava a cabeça da almofada. Levantei-me com cuidado da cama, não tanto por estar preocupada em fazer barulho quando a Meg ainda estava a dormir mas sim por não saber se conseguiria mesmo levantar-me dali se o fizesse demasiado depressa, e caminhei descalça até à casa de banho onde agarrei na embalagem dos compridos e tomei um.

Quando me senti ligeiramente melhor tratei de tudo o que tinha para fazer naquela divisão antes de voltar para o quarto para vestir qualquer coisa. Tirei as primeiras coisas que me apareceram no roupeiro, umas calças de ganga e uma blusa azul clara. Calcei de seguida as minhas botas baixas e aproximei-me da secretária que me tinha sido destinada para agarrar num post-it e numa caneta.

“Não te esqueças que combinámos almoçar na embaixada. Encontramo-nos lá. Vais ter muito para me contar, senhora Megan. Sky xx”

Arranquei o post-it e dirigi-me em silêncio até à cama onde a Megan continuava a dormir sem sequer se dar conta de todos os meus movimentos e barulhinhos. Colei o papel amarelo na testa dela e fiquei alguns segundos a sorrir e a olhar para ela, ainda à espera que ela acordasse mas claro que isso não aconteceu, aquela rapariga dormia que nem uma pedra.

Agarrei no meu casaco e na minha mala e sai do quarto. O corredor do dormitório encontrava-se em total silêncio e tinha a certeza que devia ser a única que depois de ter ido à festa da noite anterior já estava acordada a estas horas. Para além disso como era fim-de-semana muitas raparigas também o deviam ter ido passar a casa em vez de ficarem ali no campus.

O caminho para a embaixada foi feito nos dez minutos habituais e nem cheguei a precisar de tocar à campainha que havia à minha frente para que o grande portão negro fosse aberto pois um dos seguranças já estava lá pronto e à minha espera mesmo que eu tivesse vindo muito mais cedo do que a hora combinada.

Entrei no edifício que se encontrava com a movimentação do costume a esta hora da manhã devido aos pequenos-almoços e preparações para o almoço e cumprimentei a Jacinta quando passou por mim toda atarefada. Aquela mulher ainda ia ter noventa anos e ia continuar ali de um lado para o outro a dar ordens e a fazer tudo o que era preciso. Subi as escadas que davam para o andar superior na esperança de encontrar a Kendra mas em vez disso encontrei primeiro a Taylor que já esperava por mim no início das escadas com um sorriso de orelha a orelha, atirando-se para os meus braços mal cheguei aquele piso.

- O que é que estás aqui a fazer, pirralha? – perguntei abraçando-a com força e dando-lhe um beijo no cabelo.

- Vi-te a chegar e vim esperar por ti para te dizer olá. Tinha muitas saudades tuas.

Pousei-a no chão e agarrei na mão da Taylor, caminhando em direção ao corredor que dava para os quartos sabendo que de certeza a absoluta que estava alguém em estado de pânico à procura da pirralha.

- Eu também tive muitas saudades tuas mas não podes fugir assim que já sabes que a tua mãe fica preocupada. – tal como tinha suspeitado a Kendra encontrava-se à porta do quarto da Taylor juntamente com a ama dela que estava neste preciso momento a levar nas orelhas – Ela está aqui.

A Kendra virou o olhar na nossa direção e suspirou de alívio. Ela tal como o meu pai tinham-se tornado muito mais protectores em relação à minha irmã depois da minha experiência.

- Só fui dizer olá à Sky. – disse a pequena no seu tom mais inocente – Desculpa mamã e desculpa Olga.

- Não faz mal. – o alívio da minha madrasta era bastante visível – Mas agora vai com a Olga, tens aula de espanhol. Já voltas para perto da Sky ao almoço e depois disso.

Assenti com a cabeça, tentando fazer um ar sério e evitar o sorriso quando a Taylor fez beicinho e olhou para mim na esperança que a salvasse daquilo. Largou a minha mão com um suspiro e correu até à ama que a levou de volta para o quarto.

- Pensava que só vinhas mais tarde. E a Megan não veio contigo?

- A Meg ficou a descansar, ontem fomos a uma festa mas eu não conseguia dormir mais e lembrei-me que podia ir descontrair um bocado. Emprestas-me as chaves?

- Já não ias à academia há muito tempo. – constatou a Kendra com um sorriso – Claro que sim, vou busca-las.

A Kendra era ballerina, melhor dizendo, tinha sido até se ter lesionado e decidido continuar próxima do ballet mas a ensinar. Ela tinha sido minha professora nos Estados Unidos e tinha sido assim que o meu pai e ela se tinham conhecido, através de mim, o que nos momentos em que a odiava de morte também me odiava a mim por ter sido a responsável por ela ali estar. Mesmo assim a nossa relação estava a ficar melhor e na verdade os momentos em que agora a odiava tinham mais a ver comigo do que com ela; não queria substituir a minha mãe nem em estatuto nem em memórias e não queria que ela me tratasse como filha dela quando não o era. Só que a Kendra era demasiado simpática e eu sabia que não havia nenhum motivo real para a odiar o que só tornava as coisas piores.

Agarrei na chave que ela me estendia e agradeci com um sorriso – Obrigada. Eu volto para o almoço e se entretanto a Meg não vier liguem-lhe. Até logo.

Saí da embaixada e desta vez dirigi-me até à zona mais central de Madrid onde a Kendra tinha aberto a sua academia desde que se tinha mudado para Espanha. Não me lembrava quando é que tinha sido a última vez que tinha dançado mas sabia que já tinha passado imenso tempo e por isso mesmo sentia aquela impressão na barriga devido ao entusiasmo de o voltar a fazer.

Tranquei a porta atrás de mim e dirigi-me à parte de trás do edifício onde ficavam os balneários. De seguida abri o cacifo que me tinha sido designado desde o dia em que a Kendra tinha aberto aquele local e eu ainda me encontrava nos EUA e fiquei alguns segundos apenas a olhar para a roupa que costumava usar sempre que dançava. Não era nada de especial era simplesmente uma roupa de treino e não uma roupa para ir a um bailado mas era algo que me era tão importante e que gostava tanto que naquele momento me senti nostálgica.

Mudei rapidamente de roupa e atei o meu cabelo no alto da cabeça, dirigindo-me para o estúdio onde ocorriam as aulas. Comecei por aquecer, algo que fazia sempre para tentar ao máximo evitar qualquer tipo de lesões e depois disso fui ligar a música e comecei a dançar, deixando-me levar pela melodia e inventando a minha própria coreografia. Estava tão concentrada em tudo isto que quase morri de susto quando ouvi alguém bater no vidro enorme que dava para o exterior do edifício e para a rua principal da academia. Levei a mão ao peito enquanto tentava acalmar a minha respiração e me aproximava da porta.

- Credo, quase me deste um ataque cardíaco.

- Desculpa, não era suposto. – pediu o Martin deixando cair o sorriso que tinha anteriormente para um ar preocupado – Estava a passar e pareceu-me que eras tu então só vinha cumprimentar-te, não tinha como objetivo matar-te.

- Fico feliz por saber isso. – respondi sorrindo e deixando cair a mão que até à momentos estava junto ao meu peito – E a culpa também foi minha, estava distraída e apanhaste-me desprevenida. O que é que estás aqui a fazer? Não era suposto estares a dormir?

Ele assentiu com a cabeça e encolheu os ombros – Tens razão, era suposto até porque depois de te levar ao dormitório ainda tive de esperar que a festa acabasse para ajudar a arrumar tudo; os problemas de fazer parte da organização… por isso mal dormi mas não conseguia ficar mais na cama.

Ouvi-lo falar da noite anterior e de me ter levado até aos dormitórios fez-me automaticamente lembrar o que se tinha passado com o Enzo, depois disso, nos chuveiros. Forcei um sorriso e forcei aqueles pensamentos para o mais fundo possível da minha mente - Bem, agora já sabes o que custa fazer festas para a universidade inteira. – sorri e encostei-me à ombreira da porta enquanto olhava para o Martin – E por falar na noite de ontem – afasta os pensamentos, afasta os pensamentos – fiquei com o teu casaco. Eu devolvo-to segunda, prometo.

- Não te preocupes com isso. – foi a vez dele de voltar a sorrir – Como pudeste reparar, tenho muitos. – sorri novamente – Bem me parecia que tu eras dada para estas coisas. – juntei as sobrancelhas confusa – Tinha quase a certeza que dançavas alguma coisa depois de termos passado tanto tempo a dançar ontem à noite. Estavas tão concentrada e notava-se que gostavas mesmo daquilo. Apesar daquela música não ter nada a ver com isto. – acrescentou ele com um sorriso divertido.

Achei adorável que ele tivesse reparado no meu interesse pela dança numa festa onde a dança não tinha nada a ver com o tipo de dança que eu fazia. O Martin era exatamente o tipo de rapaz de quem eu precisava e queria na minha vida mas apesar disso parecia que o universo continuava a ter outros planos para mim.

- Sim, ballet. – respondi sorrindo – É a minha paixão desde que me lembro. Acho que comecei a andar e a seguir calcei logo as sapatilhas.

- Eu gostava de poder dizer que depois de começar a andar fiz algo assim tão emocionante mas a verdade é que eu era um bebé muito desastrado. – soltei uma gargalhada ao imaginá-lo em bebé – A sério e o pior é que isso durou mais do que a minha infância. Felizmente agora já estou menos desengonçado.

- Não me pareces nada desengonçado. – disse rindo de novo – E nem todos nascemos perfeitos. – acrescentei fazendo um ar bastante sério apesar de estar apenas a provocar.

O Martin semicerrou os olhos enquanto sorria – Claro, depois há isso. Nem todos podemos ser como a Skylar. – encolhi os ombros ainda com o mesmo ar mas acabei por não conseguir manter aquilo e rir novamente – Não quero continuar a interromper a tua dança. Do bocadinho que vi uau.

- Uau? Espero que seja um bom uau.

- Claro que é um bom uau. – ele sorriu e eu sorri-lhe de volta. Aquele rapaz conseguia arrancar-me um sorriso com uma enorme facilidade – E pronto, vou andando. Gostei de te ver e até segunda. Não te preocupes com o casaco.

- Não me preocupo mais, até estou a pensar ficar com ele. – brinquei – Ah e desculpa não te ter convidado a entrar, só agora é que me apercebi que estivemos este tempo todo a falar à porta.

- Tu de um lado da porta e eu do outro; parece uma história de amor. – soltei uma gargalhada com o ar sério e filosófico com que ele disse aquilo – Não faz mal, depois compensas-me e temos uma conversa como deve ser num café com uma mesa no meio de nós em vez de uma porta.

Assenti com a cabeça e sorri – Prometo. O nosso próximo obstáculo vai ser uma mesa de café.

O Martin aproximou-se de mim e beijou-me a bochecha, deixando-me com os calores em alta – Até segunda, Sky.

- Até segunda. – respondi de volta enquanto o via a afastar-se calmamente da academia.

 

Para compensar o capítulo passado ter sido uma OS e eu ter andado a não publicar nada de especial nestas últimas semanas por causa das minhas férias, este capítulo foi um bocadinho maior.

Lembrem-se desta conversa sobre casacos e.e vai ser importante para algo mais lá à frente e.e e agora vão achar que é uma coisa mega entusiasmante mas não é nada de mais ahah

E então o que é que vocês estão a achar da história? Deixem-me todas as opiniões em relação a isso e ao Martin, ele é adorável não é? Só que o Enzo... é o Enzo...

Ainda não sei bem como é que vou fazer com os capítulos porque com isto das férias os capítulos adiantados que tenho são poucos, tenho de me ir dedicar a escrever a sério mas depois digo-vos alguma coisa. Obrigada por tudo!

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publicado às 22:16


2 comentários

De JustAnOrdinaryGirl a 03.08.2015 às 23:40

O Martim é realmente adorável, super querido e parece bom rapaz. Mas, tal como dizes, o Enzo é o Enzo!
Fiquei curiosa com isso dos casacos...

Adorei o capítulo, admito que já tinha saudades!

De twilight_pr a 04.08.2015 às 12:09

Gostei bastante deste capítulo e uma nota na testa?? Demais, eu tirava uma foto apenas para ter uma recordação desse momento xDD
Gostei do capítulo ^^
Mal posso esperar para ler :DDD

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