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- Está tudo bem?
Ouvi a pergunta do Diego que se mantinha atrás de mim mas não lhe respondi enquanto seguia com o olhar a Sky até ela sair do meu campo de visão. Já a conhecia perfeitamente para saber que alguma coisa se tinha passado e agora que estava com esta sensação não ia parar até descobrir o que tinha acontecido.
- Acho que sim. – respondi-lhe finalmente e continuámos o nosso caminho em direção à zona do refeitório e bar da universidade, voltando à nossa conversa anterior. Pousei o casaco e a mochila numa das cadeiras vazias e levantei o olhar para o Diego que se encontrava agarrado ao telemóvel, muito provavelmente a falar com a minha irmã – Vou lá fora fumar.
Tirei o maço de tabaco do bolso das calças e retirei do mesmo um cigarro que levei automaticamente à boca mas apenas acendi quando saí do edifício. Por estarmos no final de maio, a temperatura conseguia ser bastante agradável ao sol.
- Ainda há bocado estive com a Sky. – afastei o cigarro da boca e desviei a cara para a direita, para onde aquele nome tinha acabado de ser proferido. O Martin encontrava-se rodeado do seu bando de falhados ricos que o ouviam bastante atentamente; o nosso olhar encontrou-se por segundos antes de ele sorrir e voltar a desviar a atenção para o grupo – Está cada vez mais boa. – voltei a aproximar o cigarro dos meus lábios, tentando que a nicotina acalmasse a irritação que começava a surgir debaixo da minha pele enquanto o ouvia a falar sobre ela – Ela faz-se de difícil mas no fundo eu sei que está mortinha por estar comigo. Já me levou aos dormitórios dela e tudo. Tenho a certeza que até ao final da semana consigo mete-la na minha cama.
Aquilo foi de mais e mesmo ainda com o cigarro longe de estar no fim, atirei-o para o chão e dirigi-me até ao grupo que se ria e felicitava o Martin como se estivessem a falar de outra coisa qualquer que não a minha namorada.
- O que é que disseste?
Assim que me aproximei o grupo calou-se e afastou-se ligeiramente para o lado, deixando-me frente a frente com um Martin ainda bastante sorridente. Apertei as mãos com tanta força que sabia que tinha os nós dos dedos brancos.
- Tu ouviste bem o que eu disse. Vou levar a Skylar para a cama e não vai ser assim tão difícil. Ela não me larga desde o primeiro dia em que fui falar com ela. O que é que se passa Enzo? Não me digas que ainda não passaste para outra.
As palavras e o tom de voz do Martin fizeram com que rapidamente todo o meu sangue começasse a ferver; sentia-me da mesma forma como quando começava um combate, mesmo sabendo perfeitamente que se tratavam de situações diferentes. Vistas bem as coisas, não me sentia exatamente da mesma forma uma vez que quando me dirigia àqueles recintos cheios de pessoas para me ver, eu sabia perfeitamente que tinha de dar um espectáculo e por isso mesmo acabava por levar todo aquele ambiente mas na brincadeira do que outra coisa. Naquele momento só queria tirar aquele sorriso da cara do Martin e fazê-lo parar de dizer aquelas coisas sobre a Sky.
- Ela andou a defender-te este tempo todo e tu agora armas-te em miúdo amuado. – abanei a cabeça ainda com o meu olhar fixo no seu – És ainda pior do que eu pensava.
O Martin riu-se – Estou a receber lições morais do Lorenzo Suarez! É melhor chamarem a imprensa; este é um dia histórico. – ele encolheu os ombros, trazendo de volta aquele seu sorriso que me estava a dar cabo da paciência – Não te preocupes muito, eu vou trata-la bem.
- Não! Enzo, não te preocupes! Eu estou a trata-la bem! Não estou? Julia, diz-lhe que te estou a tratar bem.
Aquela noite voltou-me ao pensamento assim que o ouvi falar e ao imaginar a Sky junto dele, mesmo que a situação não fosse como a da Julia e fosse por sua vontade própria, era demasiado para mim. Tinha tentando lutar contra aquilo que sentia por ela, tinha mesmo tentado manter a nossa relação num certo nível para não complicar depois tudo mas a verdade é que tinha sido simplesmente impossível.
Lancei-me para o Martin e antes de conseguir acabar os meus pensamentos e acções já os meus punhos tinham voado em direção à cara sorridente dele, golpeando-o constantemente. Senti umas mãos nos meus ombros e tinha quase a certeza que alguém chamava por mim, mas estava tão irritado e possuído pela raiva naquele momento que nada me fazia afastar do corpo agora imóvel e caído do Martin.
- Enzo!
O zumbido que tinha estado a preencher os meus ouvidos até àquele momento desapareceu assim que ouvi a voz do Diego gritar aos meus ouvidos ao mesmo tempo que os seus braços rodeavam o meu tronco e me puxavam para trás e para longe do Martin.
Deixei-me ser puxado sem resistir muito e assim que o meu olhar voltou a baixar-se é que consegui ver o verdadeiro estado em que o Martin se encontrava: o seu rosto estava completamente pisado e ensanguentado e ele encontrava-se imóvel à excepção do peito que ia subindo e descendo. A segunda coisa que reparei é que ele estava finalmente sem aquele sorriso na cara e que também não o ouvia a dizer fosse o que fosse sobre a Sky.
Mesmo mantendo-me quieto junto ao Diego, os seus braços continuavam à minha volta como se ele estivesse com medo que eu voltasse a atirar-me ao Martin caso me largasse. Assim que finalmente dispersei a minha atenção, consegui ver que durante o meu ataque de raiva se tinha formado ali uma pequena multidão que olhava em choque para o Martin que estava entretanto a ser ajudado pelo seu grupo de amigos.
- Sky. – murmurei ouvindo a minha voz mais rouca e arrastada que o seu tom habitual assim que a vi a poucos metros de distância. Consegui largar-me do aperto do Diego e caminhar até ao sítio onde ela se encontrava. Assim que me consegui aproximar o suficiente para lhe tocar, ela afastou-se de mim como se eu tivesse alguma doença contagiosa – Sky?
- Tu... – ela levantou o olhar para tentar impedir que as lágrimas que se tinham formado de cair pelas suas bochechas e isso foi o suficiente para sentir um aperto no peito – Tentei parar-te mas tu não fizeste caso. Quase o matavas… Se não fosse o Diego… - murmurou ela bastante baixo.
Recordei que tinha sentido umas mãos nos meus ombros mas que as tinha ignorado e afastado para continuar a bater no Martin. Tinha estado tão fixado em toda a raiva que estava a sentir por tudo aquilo que ele tinha dito sobre ela e que me tinha passado pela cabeça que poderia acontecer, que não tinha ligado a absolutamente mais nada.
Voltei a tentar aproximar-me dela mas fui novamente afastado e só quando deixei cair as mãos nesta segunda vez é que me apercebi no estado em que estavam os nós dos meus dedos, tão ensanguentados e pisados como o rosto do Martin.
- Sky… Ele… As coisas que ele estava a dizer sobre ti, - comecei a falar apesar de não conseguir formar frases com grande sentido naquele momento. O aperto que sentia no peito ia alastrando-se lenta e dolorosamente pelo meu corpo à medida que via a expressão da Sky alterar-se e desde o dia em que a tinha conhecido, consegui perceber que ela esta com medo de mim – ele só estava a dizer merdas sobre ti e eu tinha de o calar. Estava a defender-te.
- Isso não me interessa, Enzo. – uma vez mais a minha tentativa de me aproximar e tocar nela foi-me negada – Tinhas razão sobre o Martin; ele não presta e eu agora sei disso mas tu… quase o mataste… - repetiu baixinho – E eu contei-te sobre o meu ex… - a Sky abanou a cabeça sem conseguir, tal como eu, proferir frases completas e com algum sentido – Não consigo passar por isto outra vez. Não consigo ter novamente alguém violento na minha vida, sem saber quando é que te vais passar de novo e andar a espancar pessoas. – o nosso olhar voltou a encontrar-se – Ou quando é que me vais fazer isso a mim.
Abanei rapidamente a cabeça – Sky. – chamei novamente e desta vez fui rápido o suficiente para conseguir agarrar-lhe na mão e puxa-la contra o meu peito. Senti-me relaxar automaticamente com a nossa proximidade e senti também o corpo dela descontrair contra o meu peito.
Fechei os olhos com um pequeno sorriso nos lábios sem me importar minimamente com as outras pessoas que continuavam à nossa volta; na verdade nem estava a prestar qualquer atenção ao que eles estavam a fazer nem sabia se os seus olhares estavam fixos em nós, mas nada disso me interessava. Não sei concretamente quanto tempo se passou mas pareceram longos minutos e durante todo esse tempo pensei que estaria tudo bem e que mesmo que as coisas não fossem assim tão simples, estaria tudo mais ou menos resolvido.
Assim que senti a Sky afastar-se do meu peito e fugir dos meus braços, percebi que ia voltar a perder a rapariga que amava, tal como tinha acontecido antes com a Laura. E apesar de tudo, a dor que sentia no peito desta vez era muito pior. A Sky estava a fugir-me dos dedos sem eu saber o que poderia fazer para lhe mostrar que não era nada como o ex dela e que nunca lhe faria mal propositadamente; mas à medida que o meu cérebro se inundava de tentativas de explicações e de formas de lhe mostrar que eu era diferente, também era atacado pelas mentiras que lhe tinha contado e as verdades que não lhe tinha chegado a dizer.
- Não consigo, Enzo… - as lágrimas que ela tinha estado a conter começaram a escorrer-lhe pelas bochechas e senti novamente aquela sensação apoderar-se de todo o meu corpo – Eu queria conseguir olhar para ti e afastar estes pensamentos todos mas não consigo passar por isto novamente. – a Sky abanou a cabeça e passou rapidamente as costas das mãos pela cara de forma a afastar as lágrimas – Gostava muito que fosse de outra forma… Eu… - ela mordeu o lábio com força, impedindo a palavra que eu sabia que ela ia dizer.
Abri a boca para falar mas não consegui dizer ou fazer nada e limitei-me a ficar parado quando ela se voltou a aproximar de mim e me beijou a bochecha. Senti o perfume dela no ar e fechei os olhos enquanto os lábios da Sky se mantinham em contacto com a minha pele. Não sei quanto tempo é que fiquei assim mas quando voltei a abrir os olhos ela já estava a alguns metros do sítio onde eu me encontrava, a afastar-se de mim.
- Enzo, temos de ir.
Continuei a seguir a Sky com o olhar à medida que ela se afastava, desta vez sabendo que não a voltaria a ver tão cedo. Assenti com a cabeça ao ouvir a voz do Diego e agarrei nas minhas coisas que ele tinha na mão.
- O que é que aconteceu? – a Lola apareceu a correr junto a nós e depois de inspeccionar rapidamente o namorado para ter a certeza que estava tudo bem com ele, foi a vez de se aproximar de mim. Afastei as minhas mãos das suas assim que ela as agarrou e tentei ignorar a dor que começava a sentir por todos aqueles golpes que tinha dado – Enzo? O que é que fizeste?
- Ela foi-se embora. – foi a única coisa que consegui dizer e assim que proferi as palavras em voz alta a minha única vontade foi de ir para casa e estar longe de toda a gente.
- Quem é que se foi embora? – perguntou a Lola sem perceber o que se estava a passar – A Sky foi-se embora? – os olhos azuis da minha irmã abriram-se em choque quando tentou ligar as peças – Tu… - abanou a cabeça – Não, tu não lhe farias isto. – olhei para ela irritado por pensar que eu era capaz de bater na Sky mas ela também tinha pensado nisso, tinha pensado que era só uma questão de tempo até eu também lhe fazer mal mas eu nunca lhe faria mal.
- Foi o Martin. – respondeu finalmente o Diego por mim – É melhor sairmos daqui antes que dê problemas. Vamos para casa.
Dirigimo-nos para o exterior da universidade onde as pessoas andavam de um lado para o outro sem aparente conhecimento do que se tinha passado na outra ponta da mesma. Não fazia a mínima ideia do que tinha acontecido nem do estado do Martin mas nada daquilo me importava agora.
- Vou ligar ao Santiago, ele não está em condições de conduzir. - ouvi a voz da minha irmã ao longe enquanto ela e o Diego falavam um com o outro e apesar de ir percebendo aquilo que eles diziam, parecia que estava em modo automático e agarrei no capacete, enfiando o mesmo na cabeça antes de subir para a mota – Enzo!
Ouvia-a gritar pelo meu nome mas não parei e segui, sem saber bem para onde ia.