Joanna

Siete

- O que é que estás aqui a fazer?!

O Enzo encontrava-se parado à entrada dos balneários, encostado à ombreira da porta enquanto olhava na minha direção. Haviam pequenas divisões de azulejo entre os vários chuveiros que apesar de terem uma altura considerável, não tapavam tudo e mesmo que o fizessem, ia continuar a usar os meus braços como protecção afinal era do Enzo que estávamos a falar.

- Preciso de um banho de água quente também. Aquela piscina era fria.

- Não me digas. – atirei com um revirar de olhos – Mas caso não tenhas percebido, isto são os dormitórios femininos onde só podem estar pessoas do sexo feminino. – completei como se estivesse a falar com uma criança – E tu nem vives no campus por isso vai tomar banho de água quente a casa.

- E perder a oportunidade de estrear este balneário? Nem pensar.

- O que é que estás a fazer? – perguntei de sobrancelhas juntas quando o vi desencostar-se da porta e caminhar lentamente até à zona dos chuveiros onde eu me encontrava. O Enzo parou a alguns metros de distância e despiu a camisola branca, atirando-a para o chão de seguida. Desviei o olhar e tentei cobrir-me o máximo possível. Acho que ainda estava com esperanças que aquilo não passasse de mais uma das brincadeiras estúpidas dele para me irritar e que ele iria embora daqui a nada – Sai daqui tarado. – ordenei já a começar a ficar mais preocupada de que ele estivesse a falar a sério e fosse mesmo tomar banho ali.

- A despir-me? – engoli em seco e voltei a desviar o olhar na direção dele, apanhando-o a desapertar as calças e despir as mesmas – Ou costumas tomar sempre banho vestida? Acho que não. – voltei a olhar para ele e apanhei-o a olhar na minha direção com o mesmo sorriso que lhe tinha visto das outras vezes em que falava do meu biquíni ou do meu vestido.

Agarrei numa das embalagens que tinha ali à mão e atirei-lha. Claro que não teve o efeito esperado porque num mundo perfeito a embalagem acertava-lhe na cabeça e fazia-o desmaiar antes que ele se aproximasse de mim mas no mundo real ele conseguiu apanhar a embalagem.

- Obrigado. – disse com um sorriso ao olhar para a embalagem de gel de banho – Fico contente por não te importares de partilhar o duche.

Revirei os olhos e coloquei-me mais debaixo de água, continuando a tapar todas as zonas que eram necessárias com os meus braços. Ponderei chegar até à toalha mas para o fazer tal implicaria que me aproximasse do Enzo e não me parecia uma boa opção aproximar-me nua de um Enzo também nu. Estava a pensar noutras opções que não envolvessem a toalha ou fugir despida do balneário quando ele passou à minha frente e foi impossível que os meus olhos não parassem no seu corpo despido. Desviei o mais rápido que consegui o olhar e senti o calor a subir todo para as minhas bochechas. Não era a primeira vez que via um homem nu, não era assim tão inocente mas o Enzo… exato, era o Enzo e por isso mesmo tinha que afastar aqueles pensamentos pecaminosos.

- Eu juro que te arranco os olhos se olhares nem que seja um milímetro por cima da parede. – ameacei deixando cair finalmente os braços quando ele se colocou debaixo do chuveiro ao lado do meu. A parede de azulejos que se encontrava entre nós impedia que tanto eu como ele víssemos algo mais mas mesmo assim estava longe de confiar que aquela parede o impedisse de fazer fosse o que fosse.

- Não te preocupes. Quanto a ti, podes olhar tudo o que quiseres que eu não me importo.

Revirei novamente os olhos e continuei debaixo de água para acabar de tomar banho. Esperava que ele continuasse com as gracinhas mas em vez disso o silêncio tomou conta daquela divisão. Mordi o meu lábio inferior enquanto tentava tomar banho e fingir que o Enzo não estava ali ao meu lado a fazer o mesmo mas era muito difícil se não totalmente impossível.

- Pára de olhar para mim. – disse olhando por cima do meu ombro quando o apanhei a fazê-lo – Eu arranco-te mesmo os olhos.

- Não estou a olhar para ti. Estou a olhar para a aranha simpática que tens no ombro.

- O quê?! – perguntei aos berros enquanto saltava e tentava afastar o bicho nojento de mim – Tira-a! – gritei enquanto  me aproximava da parede de azulejos para ficar mais próxima dele – Oh meu deus, Enzo, tira-a.

Tinha um nojo enorme por aranhas e se até a alguma distância ficava completamente aterrorizada então ter uma aranha em mim estava longe de ser o meu sonho de vida. Sabia que estava a fazer uma cara sofrida e apesar de saber que estava a exagerar, estava quase ao ponto de desmaiar. Engoli em seco enquanto me punha a choramingar quando senti a mão do Enzo no meu ombro. Senti-me arrepiar automaticamente com aquele toco, dando-me conta naquele momento da nossa proximidade e do facto de continuarmos ambos sem qualquer roupa.

Olhei por cima do meu ombro de maneira a conseguir olhar para ele – Já tiraste? – perguntei ainda em pânico.

- Já. – respondeu ele divertido – Estás livre de aranhas.

Voltei a afastar-me dele para me colocar debaixo do chuveiro e retirar o resto de espuma que ainda tinha no cabelo e corpo.

- Obrigada. – agradeci num tom mais baixo com alguma esperança que ele não ouvisse devido ao barulho da água a correr e dos canos que se encontravam por cima de nós.

- Afinal até nem és assim muito mal-educada. – revirei os olhos ao perceber que ele tinha ouvido e que como parvalhão que era, não podia dizer “de nada” como toda a gente – De nada, Skylar. – rodei nos calcanhares de maneira a ficar de frente para ele ao ouvi-lo chamar o meu nome pela primeira vez em vez daquele apelido estúpido que ele tinha adotado desde o dia em que nos tínhamos visto pela primeira vez – Ele beijou-te? O Martin.

- Não tens nada a ver com isso. – respondi acordando do transe de à momentos atrás. Fechei a minha torneira e estiquei-me para a toalha, tentando ao máximo que o Enzo continuasse sem ver fosse o que fosse do meu corpo. Mesmo assim já tinha visto até demasiado.

- Claro que beijou, ele gosta de se aproveitar das raparigas bêbadas e em choque.

Coloquei a toalha à volta do meu corpo e virei-me de frente para ele – Acho que estás a confundir. O Martin não é como tu.

O Enzo soltou uma gargalhada seca - Mal o conheces e já achas que é um santo. Começo a sentir-me injustiçado.

Foi a minha vez de me rir mas de forma totalmente irónica – Injustiçado? Tu roubaste-me o telemóvel, tu não me deixas em paz por mais que eu te diga que não estou interessada no que quer que achas que vai acontecer entre nós. O Martin pelo contrário só tem sido uma boa pessoa.

Ele encolheu os ombros e fechou também a água. Sabia que era o momento certo para me pôr a andar dali mas os meus pés parecia que tinham ficado colados ao chão e que não queriam que eu me mexesse para lado nenhum. Por mais que soubesse que o Enzo só trazia problemas, por mais que ele me irritasse e por mais que me quisesse afastar dele e aproximar-me do Martin, parecia que tinha um íman qualquer que me impedia de o fazer. De certeza que era o meu GPS a trabalhar, a atirar-me no caminho dos maus rapazes.

Engoli em seco ao ver o Enzo sair da cabine onde tinha tomado banho e aproximar-se do local onde eu continuava estática. Apertei a toalha com mais força como se isso fosse fazer alguma diferença naquele momento e impedir fosse o que fosse. Esforcei-me ao máximo para manter o meu olhar levantado e na cara dele porque sabia muito bem que se descesse um milímetro que fosse ele ia ganhar vontade própria e observar tudo o resto.

- O Martin pode ser uma óptima pessoa mas isso não muda o facto de estarmos aqui os dois sozinhos. Tu e eu. – voltei a engolir em seco com toda aquela proximidade; o Enzo tinha acabado com o espaço que havia entre nós e estava agora bastante próximo de mim, os nossos corpos não estavam afastados por mais do que uma fina camada de ar e os braços dele colocaram-se de cada lado do meu corpo, a agarrar a parede de azulejos que tinha atrás de mim.

O meu cérebro tinha começado a soar as buzinas e a ligar todos os sinais luminosos que tinham a mensagem “desaparece daqui o mais rápido possível” mas mesmo assim o meu corpo parecia não querer saber do que o meu cérebro ordenava e continuava no mesmo sítio sem se mexer um centímetro que fosse.

Percebi que era a primeira vez que estava tão próxima do Enzo e que apesar de continuar com aquela sensação desconfortável parecia que era sensação não assim tão desconfortável ou estaria neste preciso momento a fugir dali a sete pés. Os meus olhos fixavam os olhos castanhos dele e comecei a prestar atenção a pormenores que não tinha notado antes como os pequenos sinais que ele tinha na cara e a argola preta na orelha esquerda. Ele sorriu lentamente e o meu coração pareceu perder uma batida quando o meu cérebro me inundou de imagens para maiores de dezoito anos.

- Sim, muito interessante. – não fazia a mínima ideia do que estava para ali a dizer – Preciso de ir para a cama. – ele abriu a boca mas não o deixei falar, adivinhando o que vinha dali – E não, não é um convite. – disse rapidamente – Adeus. – passei por baixo do braço dele e estava prestes a sair do balneário quando me lembrei das embalagens todas que tinha deixado para trás. Voltei rapidamente atrás e vi o Enzo ainda parado no mesmo sítio, completamente despido e a olhar para mim com um sorriso. Mas aquele rapaz não podia vestir uma peça de roupa?!

Assim que agarrei em todos os meus pertences, apressei-me a sair dali e a fazer o caminho pelo corredor até ao meu quarto em passo bastante rápido antes que acontecesse mais alguma coisa.

Fechei a porta atrás de mim e encostei-me à mesma. Tinha o coração a bater aceleradamente e sabia que não era pela corrida do corredor mas sim pelo que se tinha passado antes no balneário. Agora sim é que ele não me ia deixar em paz. Agora que eu tinha dado numa de miúda excitada que não conseguia ir embora antes fosse do que fosse.

Atirei as embalagens para dentro da casa de banho sem me preocupar minimamente e fechei os olhos com força tentando recompor a minha cabeça mas isso só era pior pois as imagens do que se tinham passado anteriormente inundavam-me o cérebro.

Dirigi-me rapidamente à casa de banho para tomar um comprimido para a dor de cabeça e depois disso fui ao roupeiro tirar roupa interior lavada. Não me preocupei sequer em vestir um pijama e enfiei-me logo na cama, na esperança que o sono me afastasse dos problemas.

Ajeitei a almofada e o meu olhar parou na cadeira da secretária onde tinha deixado o casaco que o Martin me tinha emprestado por causa do frio. O Martin. Era nele que precisava de pensar mas em vez disso parecia que os meus pensamentos não queriam fazer aquilo que lhes ordenava e continuavam a imaginar o Enzo.

Suspirei bastante audivelmente e enterrei a cara na almofada, gritando contra a mesma.

Tinha vindo para Espanha para tentar aproximar-me da minha mãe e afastar-me de todos os problemas que tinha deixado nos Estados Unidos mas em vez disso ainda mal conhecia Madrid e estava a ser empurrada para uma versão avançada do que tinha deixado no passado.

13.06 – 4 pm

Skylar tentou acalmar a sensação de que alguém tinha estado a observar durante todo o caminho de volta para casa mas parecia impossível. A sensação só tinha aumentado ao longo dos dias e cada vez era mais impossível de afastar.

- Estás bem? – perguntou Megan à entrada do quarto – Precisas de alguma coisa?

- Acho que estou a ser seguida. – a rapariga engoliu em seco e olhou para a prima – Acho que ele está aqui, Meg.

Aqui está o capítulo que estavam à espera, espero que gostem!

Nas próximas duas semanas vou de férias e por causa disso e por já não ter muitos capítulos adiantados, vou postar apenas uma vez por semana durante esse tempo e ainda não sei em que dia específico porque vai depender do meu tempo. Espero que percebam. Por causa disso sábado (este já) também não vou postar.

Beijinhos e obrigada por tudo!

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