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Durante as primeiras horas de viagem, estávamos tão entusiasmadas que parecia tudo uma novidade apesar de qualquer uma de nós já ter andado de avião uma mão cheia de vezes. Mas assim que o tempo foi passado, acabámos por nos cansar e adormecer até a voz do piloto se fazer ouvir a informar que estávamos prestes a aterrar em Espanha e que o tempo se encontrava bastante bom.
Como tínhamos decidido levar as nossas malas junto de nós, assim que saímos do avião livramo-nos da confusão e saímos do aeroporto onde mais uma vez já tínhamos um carro à espera.
- Isto é que é vida de ricas. – comentou a Megan com um meio sorriso enquanto entregava a mala ao motorista.
- Não me apetecia nada ir já para a embaixada mas… - deixei escapar com um suspiro. Tinha saudades da minha família mas queria aproveitar Espanha primeiro, antes do drama todo.
- Não sejas assim. Vamos cumprimenta-los, deixar lá as coisas e depois vamos dar uma volta. E temos de ir também à universidade tratar do resto das coisas.
Com a nossa entrada na universidade, tínhamos conseguido arranjar um dormitório vago no campus para nós as duas mas ainda haviam coisas a tratar e por isso durante esse tempo íamos ficar hospedadas na embaixada. Não sabia muito bem como é que as coisas iam correr mas só esperava que não tivesse de ficar lá durante o tempo suficiente para o paraíso se tornar num inferno. Com alguma sorte só tínhamos de esperar uns dois dias até podermos ir para o quarto. Com alguma sorte…
- Eu levo as malas, meninas. – a voz grossa do motorista fez-se ouvir pela primeira vez depois do carro parar e ele sair do mesmo para nos abrir as portas.
- Obrigada. – agradeci juntamente com a Megan antes de nos afastarmos e começarmos a caminhar me direção ao grande edifício que se encontrava à nossa frente.
- Estamos a falar espanhol. – olhei para a Meg quando ela voltou a falar e soltei uma gargalhada com o seu evidente entusiasmo – Não acredito que estamos a falar espanhol! E que estamos em Espanha!
Era demasiado hilariante ver o entusiasmo da minha prima que de nós as duas sempre tinha sido a mais calma e calada. Mas a verdade era mesmo essa, estávamos finalmente em Espanha e a falar espanhol, língua que parecia agora a nossa língua nativa.
Mal entrámos no edifício fomos logo recebidas por uma mulher de uma certa idade que exibia um sorriso bastante simpático. Ela começou a falar tão depressa que nenhuma de nós percebeu o que ela dizia apenas a parte mais importante onde era suposto segui-la. Fomos conduzidas para uma grande sala que se encontrava da outra ponta do edifício e sentámo-nos num dos sofás quando ela nos mandou esperar.
- Isto é gigante. – comentei deixando o inglês de lado e dedicando-me cem por cento ao espanhol – E não é tão mau como eu pensava mas mesmo assim quero ir para a universidade.
- Não sei como é que o teu pai não impôs com mais afinco que ficássemos aqui. De certeza que se está a passar por ter a filha fora da embaixada.
- Tem uma das filhas aqui, é o que lhe interessa. – deixei escapar em tom amargo e mal o fiz senti o olhar da Meg posto em mim, aquele olhar que ela fazia sempre que as palavras “desculpa, prima…” não lhe saiam.
- Sky!
Desviei o olhar para a porta ao ouvir aquela voz de criança e forcei um sorriso aparecer mal a Taylor apareceu na entrada, de braços no ar e a correr na nossa direção. Era impossível não gostar dela, por mais que me custasse que ela fosse a prova viva que o meu pai tinha seguido em frente e que a minha mãe não passava mesmo de uma recordação.
- Como é que foi a viagem? – perguntou a Kendra assim que apareceu na sala atrás da filha. Agarrei na Taylor ao colo e por isso mesmo é que a primeira que a minha madrasta cumprimentou foi a Meg – Espero que tenha corrido tudo bem.
- Correu. – respondeu a Megan com um sorriso enquanto lançava os braços para a Taylor que correspondeu o gesto e passou para o colo dela.
Cumprimentei a Kendra quando foi a minha vez de o fazer e até lhe sorri – O teu pai está numa reunião mas está quase a acabar, ele já aparece aqui para vos dizer olá. Estamos todos muito contentes por estarem finalmente aqui.
- Nós também. – respondi desviando o olhar da minha madrasta novamente para a sala onde nos encontrávamos. Todo aquele espaço era enorme, bastante espaçoso e completamente estranho. Queria ficar ali o mínimo tempo possível até porque também me queria afastar de todos os problemas ou conflitos de família, da minha nova família – Nós temos coisas para tratar na universidade ainda por isso é melhor irmos ver isso. – disse rapidamente enquanto lançava um olhar a Meg para que ela percebesse a dica.
- Sim, voltamos para o jantar. – a minha prima sorriu enquanto pousava Taylor no chão.
- Não temos outro remédio… - mandei para o ar num suspiro lamurioso mas quando percebi que a Kendra tinha ouvido, forcei um sorriso – Até logo.
À saída do edifício que albergava a embaixada, fomos novamente abordadas pelo motorista que nos tinha trazido do aeroporto para aquele local, pronto para voltar a fazer o seu trabalho mas desta vez foi completamente dispensado. Não ia passar os próximos anos ali em Espanha como se fosse uma boneca de porcelana que tinha de ser guardada e tratada com todo o cuidado. Queria a minha liberdade, queria poder ir para onde quisesse sem ninguém atrás.
- Sabes que é provável que ele venha atrás de nós na mesma, certo? – perguntou a Megan enquanto olhava por cima do seu ombro após passarmos os grandes portões que nos faziam estar em solo americano e passar para solo espanhol.
- Desde que fique longe, não me interessa.
A universidade ficava algumas ruas abaixo da embaixada o que me deixava ligeiramente preocupada pelo facto de apesar de tudo, assim que nos pudéssemos mudar para o campus, não ia deixar definitivamente o meu pai, a sua família ou a embaixada. Ficam a poucos minutos de onde eu me encontrava. Estava mais do que pronta para ir para lá mas sabia que primeiro o meu pai ia querer que ficássemos perto dele. Desde que pudéssemos despachar isso rapidamente…
- Isto é mesmo giro. – tal como no meu caso, o olhar da minha prima percorria com toda a atenção todas as ruas por onde passávamos, focando-se em todos os pormenores possíveis – Chegámos. Não sei é como vamos encontrar agora a secretaria.
Parei ao passarmos os portões que davam para a universidade onde tínhamos ficado ambas inscritas e retirei o telemóvel do bolso das calças – Tenho aqui no telemóvel o mapa da universidade, não te preocupes.
Desbloqueei o iPhone e no preciso momento em que estava a abrir o e-mail onde tinha a planta da universidade, senti alguém ir contra mim. Juntei as sobrancelhas e vi um rapaz bastante alto e moreno a passar precisamente ao meu lado. Ele era exatamente o tipo de rapaz que se percebia a léguas que trazia sarilhos e que nada de bom poderia vir dali.
- Então? – perguntei num tom irritado e senti-me ainda mais chateada quando o vi sorrir mas fiquei ainda mais passada quando em vez de se desculpar ou o que fosse, o rapaz agarrou no meu telemóvel e desatou a correr – Mas que merda? – perguntei ainda quieta no mesmo sítio, completamente congelada em choque pelo que tinha acabado de acontecer. Olhei para o lado para o sítio onde a minha prima se mantinha tal como eu.
- Vai atrás dele! – gritou ela quando conseguiu finalmente voltar a ter alguma reação.
Nunca em toda a minha vida tinha sido roubada e muito menos assim à descarada, mas agora que estava finalmente no sítio onde queria estar, parecia que estava tudo a correr mal. Se calhar era dramatizar demasiado a situação mas… Comecei a correr seguindo o exato caminho que tinha visto o estranho a fazer e quando finalmente o voltei a ver, ele estava junto a um parque de estacionamento. Parei em frente à mota onde ele se encontrava sentado, pronto para ir embora e coloquei as minhas mãos na cintura.
- O meu telemóvel?
Ele parou com o capacete a meio caminho da cabeça e levantou o olhar para mim, um meio sorriso a emoldurar-lhe a cara. A cada instante parecia cada vez mais problemático e começava a perceber que estava ali sozinha, apenas com ele. Ele tinha-me roubado o telemóvel daquela forma, podia muito bem matar-me e enterrar-me por ali algures com o seu à-vontade.
- Não sei. – respondeu a voz masculina pela primeira vez. Aquele tom e a sua forma de falar deixava-me ainda mais com a pele arrepiada, percorrida pelo receio de estar ali sozinha com ele mas ao mesmo tempo fazia também perceber que para além daquele ar um pouco assustador dele, ele era giro. Oh meu deus, estava a sofrer uma espécie de Síndrome de Estocolmo – É melhor saíres, não te quero magoar os pezinhos, princesa.
Revirei os olhos, sem paciência do seu comportamento, do seu tom mas especialmente dos meus pensamentos nada próprios para aquela situação e mantive-me imóvel no mesmo sítio.
- Roubaste-me o telemóvel mesmo à descarada, sei que o tens por isso quero-o de volta.
Os cantos dos lábios dele voltaram a subir enquanto me olhava de alto a baixo. Juntei as sobrancelhas sentindo-me totalmente exposta e cada vez mais sentia um formigueiro na barriga dos nervos. E se eu esquecesse o telemóvel, desse meia volta e me fosse embora? Era uma ideia muito melhor. Mas o problema é que o meu pai tinha razão, eu era filha da minha mãe e não sabia quando desistir.
- Tenho uma certeza que uma rapariga como tu consegue já arranjar um telemóvel novo. Prometo que apago as fotografias. Depois de lhes dar uma vista de olhos.
- Estás a gozar comigo? Foi o meu pai que te pagou para me vires chatear, não foi? É que só pode. Devolve-me a merda do telemóvel!
- Bem, eu estou a adorar esta nossa conversa mas tenho mesmo de ir embora. Vemo-nos por ai.
Arregalei os olhos sem conseguir acreditar no que estava a acontecer e mantive-me no mesmo sítio, mesmo em frente à mota dele.
- Não vais sair daqui enquanto não me devolveres o telemóvel.
Um sorriso voltou a passar-lhe pelos lábios antes de colocar finalmente o capacete preto na cabeça – Tem cuidado, princesa. – disse ele antes de puxar a viseira para baixo e passar com a mota por mim, deixando-me mais uma vez plantada num sítio qualquer sem saber o que fazer.
Realmente só a mim é que me aconteciam coisas destas. Tinha uma sorte com todos os rapazes que encontrava ao longo da minha vida que não sabia como é que ainda não me tinha trancado numa torre. Já tinha estado perto disso, sem que fosse a minha vontade por isso não era bem a comparação que devia fazer…
Voltei para junto da Megan, que continuava à minha espera no mesmo sítio que eu tinha deixado a correr momentos atrás.
- Então? – perguntou ela com a sua expressão carregada de preocupação.
- Era um pobretanas qualquer, não interessa, também não tinha lá nada de especial. Tenho de ir comprar um telemóvel novo, arranjar um cartão com o mesmo número e ir novamente ao e-mail que recebi. Voltamos cá amanhã. – respondi com bastante naturalidade. Se calhar tinha recebido alguma do outro.
As sobrancelhas da Megan estavam juntas enquanto olhava para mim completamente em choque – Tudo bem, vamos. – acabou ela por dizer sabendo perfeitamente que não haveria ali qualquer discussão sobre o assunto.
Bem... e conheceram o Enzo, o meu mauzão preferido e.e o que é que acharam deste primeiro encontro?
Obrigada por todos os vossos comentários e por todo o apoio, espero que estejam a gostar da história. Beijinhos!