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O mau tempo deu-me umas tréguas no caminho de regresso para o campus universitário pelo que consegui chegar sem ter novamente as minhas roupas encharcadas. Mas neste caso teria sido muito bom se isso tivesse acontecido porque da maneira como estavam os meus pensamentos, sempre a levarem-me para o que se tinha passado momentos antes com o Enzo, e o facto de estar novamente com a camisola dele vestida e mesmo encontrando-me bastante longe dele parecia que estava apenas a centímetros do seu corpo já que o cheiro da peça de roupa me chegava ao nariz e me deixava com a pele dos braços arrepiada.
Abri a porta do quarto na esperança de que alguns minutos de silêncio num espaço que me era conhecido e seguro pusessem todas as ideias no sítio mas em vez disso percebi que as coisas não iam correr nada como eu queria ao observar que naquele espaço se encontrava a Megan e a Lola.
- Sky! – gritou a minha prima assim que me viu agarrada à maçaneta da porta – Estávamos tão preocupadas! Desapareceste sem dizer nada e não te encontrávamos em lado nenhum. O que é que aconteceu?
Mordi o interior da minha bochecha enquanto ponderava na minha resposta – Desculpa. – pedi rapidamente enquanto fechava a porta atrás de mim – Eu… - tentei pensar numa desculpa que explicasse o que tinha acontecido mas a minha mente parecia estar focada numa única coisa, ou melhor, pessoa – Aconteceu uma coisa.
- Estás bem? – perguntou a Lola com uma expressão preocupada.
Aproximei-me lentamente da minha cama e sentei-me na ponta da mesma, ao lado da Lola que se endireitou e tal como a Meg, lançava-me agora um olhar expectante e apoquentado.
- O Enzo fez-me ir ao combate com ele e aquele ambiente todo deixou-me passada e entrei em pânico, o que fez com que o Enzo se distraísse e fosse ferido. Depois disso fui para casa com ele e ajudei-o a tratar dos ferimentos mas… - mordisquei o meu lábio inferior nervosamente enquanto as olhava; tinha estado a falar demasiado depressa até àquela pausa e não fazia a mínima ideia se elas tinham percebido alguma coisa que eu tinha dito – nós estávamos muito juntos e quase nos beijámos mas eu saí de lá a correr. Hoje ele mandou-me mensagem quando estava na aula para ir falar com ele e eu fui… - abanei a cabeça – …falámos disso e beijámo-nos mas ele falou no Martin e eu passei-me e fugi. – começava a perceber que havia uma relação entre beijos com o Enzo e fugas minhas – Ele seguiu-me, fomos para casa dele e eu tive de vestir isto por causa da chuvada. – apontei para as minhas roupas que apesar de eu achar que eram bastante óbvias, elas pareciam só ter reparado nelas quando as referi – E voltámos a beijar-nos. – deixei escapar num tom sofrido – E eu não sei onde estava com a cabeça mas… as coisas desenvolveram… e… - mordi o lábio inferior com força – Eu estava super lançada até o Santiago aparecer lá. Pronto e depois disso fugi. Outra vez. Oh meu deus, o que é que se passa comigo? – deixei escapar em voz alta enquanto levava as mãos à cara.
- Hey… está tudo bem. – senti os braços da Lola à volta do meu corpo e deixei-me cair na sua direção, apoiando a cabeça no ombro dela – Eu também tenho uma coisa para vos contar. – levantei o olhar de forma a conseguir olhá-la – Nessa noite em que não fui dormir a casa, fui para casa do Diego e bem nós… pronto, vocês tinham razão, as coisas entre nós começaram há muito tempo mas tivemos sempre demasiado medo de tudo mas agora isso acabou. Estamos juntos. Ainda não é oficial que os meus irmãos ainda não sabem mas bem, isso está para breve.
- Merda. – desviei o olhar para a Meg e juntei as sobrancelhas – Eu gosto mesmo dele, do Santiago. E eu sei que é ridículo porque vistas bem as coisas eu não o conheço assim tão bem; eu sei que ele tem montes de segredos e coisas que não me quer contar mas… quando estou com ele sinto-me bem e segura e merda… estou mesmo a apaixonar-me por ele.
Levei novamente as mãos à cara e comecei a chorar antes de ter tempo de controlar a minha reação – Estou muito feliz por vocês, a sério que sim; quer dizer… não, também estou feliz por ti Meg. – acrescentei entre soluços – Mas eu não sei o que se passa comigo. Quero afastar-me do Enzo mas não consigo e parece que cada vez que tento só me aproxima mais e merda aqueles beijos… - mordi o lábio inferior com força – A maneira como ele me faz sentir não é normal. Mas há o Martin. – suspirei e agarrei-me à almofada – Não faço a mínima ideia do que é que estou a fazer.
Se alguém entrasse naquele quarto neste preciso momento podia muito bem confundir-nos com as pacientes de um hospício ou personagens da série Sexo e a Cidade. Aquele pensamento deixou-me ligeiramente divertida mas rapidamente voltei aos pensamentos pessimistas e confusos em relação a tudo o que se estava a passar na minha vida naquele momento. Mais cedo ou mais tarde ia ver o Enzo novamente e íamos ter de falar sobre o que tinha acontecido naquele dia mas o mal é que eu não sabia bem o que é que sentia quanto mais o que é que haveria de lhe dizer.
- Vamos ficar todas bem. – a Lola tentou soar positiva mas naquele momento nem as suas palavras nem o seu sorriso me conseguiam fazer acreditar nela – Vai-
Desviei o olhar da cara dela para a porta do quarto assim que se ouviram umas batidas e mordi rapidamente o meu lábio inferior quando me passou pela cabeça que poderia ser o Enzo para falar comigo.
- Olá meninas. – soltei uma respiração que só percebi naquele momento que estava a reter ao ver o Martin na ombreira da porta com aquele seu sorriso simpático nos lábios. Não sabia que espécie de truque de voodoo é que estava a sofrer mas a verdade é que tinha ficado bastante desiludida ao constatar que não se tratava do Enzo – Desapareceram todas da universidade e fiquei preocupado. Está tudo bem?
Desencostei-me da Lola e coloquei-me direita, forçando um sorriso enquanto esperava que ele não notasse que há alguns momentos atrás tinha estado a descarregar todos os últimos acontecimentos da minha vida.
- Está tudo bem. – respondi e pelo canto do olho vi a Lola e a Meg a assentir com a cabeça – Passa-se alguma coisa? – perguntei na esperança de que ele apenas estivesse preocupado com a nossa ausência porque neste momento a última coisa que queria era estar próxima do Martin quando não conseguia tirar o Enzo da cabeça.
- Não se passa nada. – o Martin continuava a sorrir e eu sentia-me cada vez mais culpada por não conseguir afastar os meus pensamentos do Enzo mesmo que tecnicamente não tivesse absolutamente nada com o Martin tinha-lhe dado a entender que estava interessada nele e a realidade é que estava mas aquilo que sentia pelo Enzo parecia muito mais forte e intenso do que aquilo que eu queria sentir pelo rapaz que se encontrava à minha frente – Vai haver uma festa logo à noite naquele bar que fica aqui perto e vim saber se vocês queriam ir. – mordi o interior da minha bochecha quando o olhar dele parou em mim à espera de resposta.
- Claro. – entreviu a Megan sabendo que eu naquele momento não conseguiria dar uma resposta ou que seria uma resposta totalmente ilógica – Encontramo-nos todos lá?
- Claro que sim. – o Martin pareceu ligeiramente desiludido mas tentei não pensar nisso, não precisava de mais pensamentos a encher-me a cabeça – Até logo.
**
Passámos o resto da tarde juntas com a Lola e a Meg a fazerem um esforço enorme para que eu mantivesse os meus pensamentos em tudo menos a confusão que ia na minha cabeça e estivemos também a arranjar-nos para a festa daquela noite. Durante todo esse tempo o meu telemóvel foi vibrando, anunciando novas mensagens e apesar de ler todas elas não respondi a nenhuma. Sabia que tinha de falar com o Enzo, eu tinha dito que falaria com ele, mas a minha cabeça ainda estava uma grande confusão para saber o que lhe haveria de dizer.
- Estás bem? – perguntou-me pela milésima vez a minha prima assim que entrámos naquele espaço apinhado de gente da universidade – Podemos ir para casa quando quiseres.
Assenti com a cabeça e sorri tentando descansá-la. Estava longe de estar bem até porque tinha noventa e nove porcento de certeza que o Enzo apareceria ali já que tanto o Santiago como o Diego já tinham anunciando que iam estar presentes mas ainda assim estava na altura de me comportar como a adulta que era.
- Ainda bem que vieram. – olhei para o Martin que tinha parado à nossa frente e sorria de orelha a orelha – Queres beber alguma coisa? – afinal parecia que ainda não estava a comportar-me como uma adulta porque antes de conseguir responder lancei um olhar desesperado às duas raparigas que me acompanhavam mas sabendo que não havia nada que pudesse fazer, sorri ao Martin e segui-o até ao bar.
Encostei-me ao balcão enquanto ele pedia as bebidas e ia falando comigo, parecendo completamente alheio ao facto de eu mal ter aberto a boca e ter dado apenas umas poucas respostas soltas e eu não me importei com isso.
Senti um aperto na barriga e a respiração ficar presa assim que o meu olhar voltou para a multidão e vi o Enzo entrar naquele recinto. Vinha acompanhado do irmão e do melhor amigo, que rapidamente dispersaram ao ver as suas caras metades, enquanto ele manteve o olhar fixo em mim mas em vez de se aproximar ou falar comigo, seguiu caminho.
Naquele momento senti-me uma verdadeira criança quando tive de levantar o olhar e morder o meu lábio inferior com força para evitar chorar. Parecia que tudo o que se tinha passado entre nós nestes últimos dias não tinha significado nada e sentia-me uma estúpida por ter pensado o contrário já que conhecia perfeitamente a reputação do Enzo.
- Tens a certeza que estás bem, Sky? Estás tão estranha e calada.
Voltei a ver-me na necessidade de forçar um sorriso assim que desviei novamente a minha atenção para o Martin e assenti com a cabeça, agarrando prontamente no copo que ele me estendia – Estou óptima só estou um pouco distraída, desculpa. – bebi o conteúdo do copo de uma só vez enquanto ouvia a voz do Martin, sem prestar qualquer atenção ao que era dito.
O meu olhar parou uma vez mais no Enzo que estava agora a falar com uma rapariga que nunca tinha visto na minha vida mas que parecia ter um grande à-vontade com o Enzo assim como grande confiança.
- Pensava que não vinhas. – ouvi-a dizer uma vez que eles não estavam muito longe do sítio onde eu me encontrava.
- Mudei de ideias. – foi a resposta dele e os nossos olhares voltaram a encontrar-se por segundos – Vim atrás de uma rapariga. – acrescentou com um sorriso quando voltou a olhar para a ordinária.
Senti raiva pura a borbulhar dentro de mim e pedi uma nova bebida enquanto respondia por monólogos ao que o Martin ia dizendo e felizmente ele estava tão distraído com a festa que continuava ser se dar conta que a minha atenção estava muito longe dele.
**
Cerca de meia hora depois, um número já perdido de bebidas e sozinha no bar já que o Martin tinha tido uma urgência familiar, sentia-me mais do que alegre com todo o álcool que circulava no meu organismo.
- Mais uma! – pedi ao barman que me olhava desconfiado.
- Já bebeste de mais.
Olhei por cima do meu ombro ao ouvir aquela voz conhecida atrás de mim e revirei os olhos – Deixa-me em paz, vai ter com a tua amiga. – olhei novamente para o barman e estiquei o copo na sua direção – Mais uma. – repeti com um sorriso adorável.
- Já acabaram as bebidas para ti. Vou levar-te ao campus. – os braços do Enzo rodearam a minha cintura e comecei a espernear – Pára quieta. Ficas tão insuportável quando estás bêbada e com ciúmes.
- Não estou com ciúmes. – revirei os olhos – Nem bêbada! Estou só alegre. Deixa-me em paz, Lorenzo. Não preciso de ti para nada.
- Eu sei que não mas mesmo assim vou levar-te daqui.
Parei de resmungar quando ele pegou em mim ao colo e pude ficar encostada ao seu peito enquanto colocava os meus braços à volta do seu pescoço. Fechei os olhos no que pareceram ser apenas alguns segundos mas quando os voltei a abrir já não estava no bar e sim de volta ao meu quarto no campus universitário.
- Não estou com ciúmes. – repeti assim que ele me deitou na cama e se sentou na ponta da mesma a olhar para mim – Ela era feia e uma oferecida. Se é assim que gostas delas, bom proveito.
- Era uma amiga minha. Só amiga. – revirei novamente os olhos com aquela desculpa esfarrapada e devido ao sorriso do Enzo – E eu não queria estar com ela, queria estar contigo. Foi por isso que fui àquela festa ridícula, para estar contigo. Mas tu foste com o Martin, para variar. – fechei os olhos com um suspiro ao sentir os dedos dele a afastar uma mexa de cabelo para trás da minha orelha – E eu prometi que não me ia aproximar de ti quando estivesses com ele.
Sorri e apoiei-me nos cotovelos, infelizmente demasiado rápido e por isso a minha cabeça pareceu andar à roda durante alguns segundos antes de conseguir recuperar completamente. Voltei a sorrir e aproximei-me do Enzo, acabando assim com a distância que havia entre nós e deixando os nossos lábios muito perto uns dos outros. Estava prestes a beijá-lo quando ele se chegou para trás.
- Volta para a tua oferecida. – resmunguei deixando-me cair na cama, novamente demasiado rápido para não sentir o efeito – Não quero saber de ti.
Ouvi-o rir e como estava de olhos fechados só dei conta que estávamos novamente bastante próximos um do outro quando senti os lábios do Enzo a roçar na minha bochecha.
- Não sabes a vontade que eu tenho de te beijar, de estar contigo como estivemos em minha casa, - mordi o lábio inferior com aquela recordação que por mais que tivesse tentando, tinha feito parte dos meus pensamentos durante todo o dia – mas tu estás bêbada, muito bêbada, e eu não me vou aproveitar de ti. – suspirei ao receber um beijo inocente na bochecha – Descansa, amanhã falamos.
Abri os olhos quando deixei de sentir o peso do Enzo ao meu lado e estiquei a mão, a tempo de agarrar na nele e impedi-lo de se afastar em direção à porta.
- Fica comigo. – pedi enquanto o olhava com tanta atenção como aquela que era possível no estado em que me encontrava – Dorme comigo. Não quero ficar sozinha, quero ficar contigo.
O Enzo baixou o olhar para as nossas mãos e quando voltou a levantar o olhar estava a sorrir de uma forma que não me lembrava de ter visto antes. Mordi o meu lábio inferior com força ao sentir-me derreter completamente apenas com a sua expressão e continuei a morder o lábio inferior com força para impedir que alguma frase menos própria saísse da minha boca no estado em que me encontrava.
- Chega-te para lá. – disse ele ainda a sorrir enquanto despia o casaco e abria a cama, deixando-me meter primeiro debaixo dos lençóis antes de se deitar ao meu lado, com os braços à volta do meu corpo e os lábios junto à minha nuca – Mudei de ideias, não és assim tão insuportável quando estás bêbada. – sorri e aninhei-me melhor antes de cair no sono.